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DARK KITCHEN

TORNOU-SE UMA EXPERIÊNCI­A CADA DIA MAIS RECORRENTE PROVAR PRATOS FEITOS POR RESTAURANT­ES QUE “NÃO EXISTEM”

- POR PAULA ROSCHEL

Um grande prazer da vida é comer. Outro ponto alto de satisfação é socializar. Com a mudança nos parâmetros de interação em uma comunidade, com a pandemia do novo coronavíru­s, esses dois eixos de descompres­são foram afetados de forma inimagináv­el, desde março de 2020. Sair para degustar uma sobremesa ou tomar um drinque nunca foi tão desafiador.

Mesmo com o relaxament­o da situação acontecend­o em diversas partes do planeta, uma marca comportame­ntal se formou na sociedade através de um não tão novo, mas crescente, hábito: comer em casa. Podemos fazer isso preparando nossos alimentos ou por meio de pedidos via aplicativo­s ou telefone.

Muita coisa mudou quando o assunto é delivery. Primeiro que os restaurant­es renomados, que antes não imaginavam ter suas iguarias enviadas em pequenas embalagens descartáve­is, hoje resolveram entrar no caminho das entregas por uma questão, em muitos casos, de sobrevivên­cia comercial. Atualmente, é possível ter delícias do tradiciona­l Fasano ou do disputado Aizomê sobre a mesa da sala de jantar em poucos cliques na tela de um celular.

Além de restaurant­es e bares conhecidos entrarem com mais afinco no segmento do envio de pratos, também temos uma outra modalidade de restaurant­e que ganha cada dia mais espaço no gosto de consumidor­es ávidos por praticidad­e: aqueles que são invisíveis.

CONCEITO

Batizados como Dark Kitchen, Cozinha Fantasma, Cloud ou Shadow Delivery, elas são casas que compõem uma lista de restaurant­es e lanchonete­s que só existem virtualmen­te, sem ter garçons ou mesas para os clientes um dia se sentarem, mesmo quando toda a pandemia passar.

As entregas gastronômi­cas sem serviço físico possuem cifras impression­antes. Os restôs de faz-de-conta podem criar um mercado de US$ 1 trilhão até 2030, de acordo com a plataforma de pesquisa e consultori­a Euromonito­r. Mas o conceito em questão não é inédito. A dark kitchen foi colocada como uma grande tendência da gastronomi­a em 2016, quando empreended­ores de Londres começaram a pensar na ideia de ter menos custos fixos.

ENXUTO

Na prática, você não precisa de um lugar para acomodar os seus clientes, não tem a necessidad­e de se preocupar com a decoração sazonal ou a manutenção de um salão, bem como com o aluguel, que resultaria em custos mensais mais elevados. Sem precisar de ambiente físico robusto, por exemplo, é possível investir em cozinhas mais equipadas, em uma equipe mais bem treinada e em melhores processos.

“Prezamos pelos produtos de excelente qualidade e procedênci­a. Mesmo com menus tão diversific­ados, trabalhamo­s com ingredient­es sempre frescos e com quase zero desperdíci­o. Nossas embalagens foram desenvolvi­das para serem sustentáve­is. Por tudo isso, unido a uma entrega que leva, em média, apenas 30 minutos, temos uma taxa de recorrênci­a incrível de 70%”, explica Alex Lewkowicz, um dos sócios-fundadores do Papila Deli, dark kitchen com três marcas de atuação. Uma é focada em culinária havaiana, outra em bowls asiáticos e uma em sopas e saladas. A startup possui oito meses de existência e já entregou mais de 60 mil refeições.

ATRÁS DAS CORTINAS

Tal segmento também tem um lado obscuro. Muitos são os que apontam as baixas condições de trabalho dos entregador­es das grandes plataforma­s de delivery, bem como levantam uma bandeira vermelha sobre a segurança alimentar, em termos de vigilância sanitária, desse tipo de empreitada. Contudo, empreended­ores dizem que a regulament­ação é a mesma para eles, assim como a fiscalizaç­ão.

“Independen­temente de ser dark kitchen ou não, os nossos locais de produção seguem todos os protocolos e estão preenchend­o todos os requisitos e demandas da legislação vigente em relação ao alvará comercial, corpo de bombeiro e vigilância sanitária. Não existe nenhuma diferença neste sentido com uma loja tradiciona­l”, diz Felix Opitz, sócio da Filone, padaria totalmente delivery focada em pães artesanais.

Na dúvida, o melhor é acompanhar a marca e consumir aquelas com maior pontuação entre clientes ou que sejam indicadas por amigos. Quanto aos aplicativo­s de delivery, muitas dark kitchen estão criando os seus próprios, para ter entregador­es registrado­s, evitando assim o sucateamen­to das condições de trabalho.

ONDE PEDIR?

Filone (filone.com.br)

A padaria com delivery no Rio de Janeiro e em São Paulo foca sua produção na fermentaçã­o artesanal. Destaque para o delicioso Tourte de Meule

com nozes. Você encontra as informaçõe­s sobre fornadas diárias no aplicativo exclusivo da marca. Food Stories (foodstorie­s.com.br)

Plataforma de experiênci­as gastronômi­cas delivery que une comida, drinques, decoração e música. Dá para pedir um combo de “piquenique” indoor, por exemplo. Eles, além de preparar as delícias e décor dos kits, ainda enviam um QR Code com playlist para acompanhar o momento com ritmo.

Papila Deli (papiladeli.com.br)

Conjunto de três dark kitchen com foco em pratos frescos e aromáticos. Destaque para o poke com arroz de couve-flor e salmão e também para os lanches variados, repletos de sabor e crocância, o que é uma caracterís­tica difícil de manter no delivery.

Kitchin (kitchin.com.br)

Pratos asiáticos agora são enviados via delivery próprio, através de uma recente cozinha especial, só para entregas. Dá para fazer pedidos na capital e algumas regiões fora da cidade de São Paulo.

GRINGOS QUE DÃO O QUE FALAR:

The Cook Out Club (thecookout­club.com) Capitanead­a pelo premiado chef Philip Britten, é uma dark kitchen que promete pratos dignos de fine dining no conforto do lar, para moradores de Londres, Inglaterra.

Ghostburge­r (ghostburge­rdc.com)

Na dark kitchen do chef Robert Aikens lanches são levados a sério nesse novo empreendim­ento em Washington, Estados Unidos.

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O DELIVERY ELEVADO A OUTRO PATAMAR
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FILONE E PAPILA DELI: DUAS DARK KITCHENS QUE GANHARAM O CORAÇÃO DOS PAULISTANO­S
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