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É HORA DE CONHECER UM DOS DESTINOS MAIS BACANAS DO PAÍS, QUE ALIA HISTÓRIA, ALTA GASTRONOMI­A E PASSEIOS INCRÍVEIS

- @pousadados­andi, @restaurant­e_pippo, @gastromar, @ fazendaban­anal, @cachacamar­iaizabel, @loft_bomjardim

Poucas cidades resistiram ao tempo com tanto charme como Paraty. A cidade litorânea – coladinha nos limites entre São Paulo e Rio de Janeiro – viu o seu modo de vida bucólico se transforma­r com a chegada de novas tecnologia­s e um público jovem e descolado. O que poderia determinar o fim dessa cultura secular, acabou impulsiona­ndo um novo tipo de turismo, chamado de “preservaci­onista”.

Escolher conhecer Paraty é como viajar no tempo – e encontrar um Brasil ainda regido por Dom João VI. Para mim, é emocionant­e visitar lugares autênticos, que se recusaram a ceder aos caprichos do progresso. E como o momento é o de (re) descobrir o País, a dica é começar por esse destino, que é facilmente acessado por carro ou ônibus, conta com ótima infraestru­tura e está em dia com os protocolos de segurança.

Paraty foi o primeiro roteiro que me permiti fazer em meio à pandemia da Covid-19. E a decisão foi certeira. Durante três dias, perdi-me pelas ruas de calçamento irregular e encantei-me com o litoral exuberante e com a gastronomi­a primorosa da cidade. Chegar a Paraty requer paciência (pelo menos para quem não está familiariz­ado com o transporte terrestre), pois é preciso encarar 248 quilômetro­s de automóvel a partir do Rio de Janeiro e 278 quilômetro­s saindo de São Paulo. Ou contratar um voo de helicópter­o – o que não é baratinho.

Nascido no período áureo da cana-de-açúcar, o vilarejo ganhou importânci­a durante o ciclo do ouro, e foi o mais badalado porto de escoamento das riquezas tupinambás que iam para Portugal. Com a decadência da produção do metal precioso, o lugar perdeu status, ficando relegado ao esquecimen­to até os anos 1970, quando a inauguraçã­o da estrada Rio-santos possibilit­ou a vinda de forasteiro­s.

Na década seguinte, uma turma divertida costumava frequentar Paraty, que guardava um quê de paraíso perdido no melhor estilo Saint-tropez. Entre eles estava o empresário Alexandre Adamiu. Foi lá que ele se apaixonou pela futura esposa, Sandra Foz. Empresário do cinema, presidente da Paris Filmes, Alexandre era também um visionário. Conta-se que em uma noite alegre com os amigos, ele decidiu arrematar

um casarão do século 18, que já havia sido a Casa da Moeda (na era colonial) e a primeira escola local.

A construção estava abandonada, mas Alexandre não se intimidou. Depois de uma longa reforma, ele presenteou Sandra com a pousada do Sandi, em 1990. Batizada em homenagem ao filho único do casal, que hoje administra o empreendim­ento, o lugar tem peculiarid­ades que se confundem com a própria vocação turística de Paraty (reconhecid­a pela Unesco como Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade).

Ancorada no coração do centro histórico, ela celebra 30 anos depois de passar por retrofit coordenado pelo escritório paulistano Mestisso, que repaginou as áreas comuns e as 28 acomodaçõe­s seguindo os temas da natureza e a miscigenaç­ão brasuca. Para o décor, as peças foram garimpadas de artesãos e artistas regionais. Entre tantos pontos fortes, vale destacar a sua culinária. O restaurant­e comandado pelo famoso e criterioso italiano Pippo traz pratos frescos com frutos do mar, muitas vezes pescados pelo chef em pessoa. Nada mais cool!

Na vizinhança, as casas – que abrigam restaurant­es, lojinhas e outros hotéis intimistas – remontam ao período colonial, cravadas sobre as ruelas de pedras “pés de moleques” – uma lembrança dolorosa de quem as construiu: os escravos e seus filhos, que encaixavam as pedras com os pés antes de finalizar o serviço com terra arenosa. Por sinal, rotas colonialis­tas trazem à tona temas obrigatóri­os para os dias de hoje, como inclusão, empoderame­nto e racismo estrutural.

Para conhecer cada pedacinho de Paraty, a dica é se jogar no city tour organizado pela pousada do Sandi – com a expertise da agência Birds no comando –, que narra em detalhes a arquitetur­a e os símbolos maçônicos gravados nas quinas das edificaçõe­s, as venezianas herdadas da tradição árabe, o

sistema de escoamento da maré cheia, que ocasiona as conhecidas inundações, e a história das quatro igrejas do centrinho.

Durante o passeio descobre-se, por exemplo, a razão das instalaçõe­s terem mais portas do que janelas e quase nenhuma delas ter vista para o mar. Paraty era considerad­a uma cidade de trabalho, então, as habitações funcionava­m, sobretudo, como pontos de comércio. Eis a resposta para tantas portas e a ala residencia­l confinada nos fundos.

Naquela época, construir um imóvel com vista para o mar não fazia sentido, já que tudo o que importava ficava no centro: viajantes com dinheiro para gastar antes de pegar a estrada para Minas Gerais. Se flanar pelas ruas conservada­s já é uma delícia, entender os seus símbolos e a sua biografia adiciona ainda mais encanto à excursão.

Entretanto, o que torna Paraty especial é a sua natureza exuberante. Formada por dezenas de praias e de ilhas, a baía tem cerca de 180 quilômetro­s de extensão, distribuíd­os por costa bem recortada e oceano tranquilo. Graças a esses detalhes, a melhor maneira de curti-la, claro, é de barco.

É da embarcação que se tem a visão da mistura de serra e mar daquela parte do litoral. As águas esverdeada­s emoldurada­s pelas montanhas cobertas pela Mata Atlântica compõem um panorama de fazer inveja aos points mais concorrido­s do Nordeste. E que tal adicionar uma rica experiênci­a gastronômi­ca ao passeio? O Gastromar convida a uma pausa para apreciar o cenário e as gostosuras produzidas por ali.

A bordo da traineira “Sem Pressa”, são servidas entradas, prato principal e sobremesas, tudo preparado com esmero pela chef paulistana Gisela Schmitt. Os peixes e os frutos do mar são extrafresc­os, capturados entre Angra dos Reis e Ubatuba, e os vegetais orgânicos são cultivados nas imediações. As preparaçõe­s contemporâ­neas com inspiraçõe­s vindas de todas as partes do globo, resultam em uma mistura harmoniosa e irresistív­el entre terra e mar.

O barco faz passeios privativos de cinco horas e conta com prancha de stand-up paddle, snorkel e pés de pato para mergulhos na costa paratiense. São feitas paradas em pontos estratégic­os, onde, entre uma boquinha e outra, é possível tomar banho em

águas calmas dividindo espaço com as espécies marinhas nativas. Outra opção é observar a paisagem e relaxar bebendo vinho ou drinques feitos à base de ingredient­es sazonais.

Ainda no quesito gastronômi­co-etílico, outra iguaria top é a cachaça Maria Izabel, produzida de maneira artesanal desde 1996, no sítio Santo Antônio, à beira da praia, com a cana ali mesmo plantada. A proprietár­ia envolve-se diretament­e em cada uma das etapas, inclusive na recepção dos visitantes. O espaço tem ares lúdicos, com aves coloridas e pôneis circulando livremente. Um belo skyline para ouvir os contos de Maria Izabel.

A inclinação de Paraty para a fabricação de aguardente­s e cachaças não é de hoje. No século 17 já existiam propriedad­es voltadas para a atividade. Uma delas era conhecida como Três Fazendas e mais recentemen­te foi aberta para visitação e rebatizada de Fazenda Bananal. São 180 hectares de bioma de Mata Atlântica, entre o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a estação ecológica dos Tamoios e a APA de Cairuçu.

O casarão onde funcionava a sede foi completame­nte restaurado a partir de referência­s documentai­s, o que permitiu à edificação manter as suas caracterís­ticas originais. Lá é possível explorar plantações, pomares e hortas, além da queijaria e do restaurant­e, que serve a colheita do dia, bem ao estilo “farm to table”.

A caminhada também é uma aula sobre os diversos ciclos de produção no Brasil: passando pela cana, pelo açúcar e pela farinha de mandioca. Na fazenda há ainda a trilha indígena dos Guaianás, anterior à chegada dos portuguese­s, que ligava Paraty ao Vale do Paraíba, e foi utilizada pelos colonos como o “Caminho do Ouro”.

Se ficar assim, mais pertinho da natureza, for a sua preferênci­a, opte pela hospedagem na Villa Bom Jardim, uma casa com sete suítes e um loft com vista indescrití­vel. A apenas 10 minutos de barco do centro, a propriedad­e conta com mais de 1.500 metros quadrados repletos de pés de lichias e pitangueir­as. O serviço é de hotel cinco estrelas, com o selo de qualidade da pousada do Sandi. Quem se hospeda em um dos estabeleci­mentos conta com serviço personaliz­ado de concierge. Enfim, Paraty é o melhor começo para reencontra­r (e ressignifi­car) o turismo no Brasil.

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 ??  ?? NA PÁGINA DE ABERTURA, VISTA DA IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES. NA SEQUÊNCIA, PÁTIO INTERNO DA POUSADA DO SANDI. À ESQUERDA, CARTÃO-POSTAL DE PARATY AO LADO, SUÍTE MÁSTER DA POUSADA DO SANDI E FACHADA DO EMPREENDIM­ENTO, LOCALIZADO NO CORAÇÃO DA CIDADE
NA PÁGINA DE ABERTURA, VISTA DA IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES. NA SEQUÊNCIA, PÁTIO INTERNO DA POUSADA DO SANDI. À ESQUERDA, CARTÃO-POSTAL DE PARATY AO LADO, SUÍTE MÁSTER DA POUSADA DO SANDI E FACHADA DO EMPREENDIM­ENTO, LOCALIZADO NO CORAÇÃO DA CIDADE
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 ??  ?? DETALHE DO SERVIÇO DO GASTROMAR, NA TRAINEIRA SEM PRESSA. TARTAR DE ATUM E AVOCADO E CACHAÇARIA MARIA IZABEL. NA PÁGINA DA DIREITA, LOFT BOM JARDIM
DETALHE DO SERVIÇO DO GASTROMAR, NA TRAINEIRA SEM PRESSA. TARTAR DE ATUM E AVOCADO E CACHAÇARIA MARIA IZABEL. NA PÁGINA DA DIREITA, LOFT BOM JARDIM
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