L'Officiel Brasil

MODA EM REINVENÇÃO

RENATA BUZZO REVELA COMO AS SUAS PEÇAS VEGANAS E NUMERADAS CONTAM A HISTÓRIA DE UMA MODA CRIATIVA E BASEADA NO SLOW FASHION

- POR KARINA HOLLO

Renata foi uma criança típica da década de 1990, sem muita ligação com o universo da moda. “Nunca fui fã de marcas, nunca bebi desse universo da forma tradiciona­l que leva alguém a querer ser estilista”, confessa. Mas admite que desenhava roupas desde pequena. Não porque era consumidor­a, mas porque gostava de criar. “Sempre tive aversão a ambientes corporativ­os. Preferia o campo das ideias, com horários trocados. E também detesto reportar ideias para aprovação de terceiros, sou uma péssima subordinad­a.” E esse detalhe a levou diretament­e para o universo da moda. “Também tive grande influência dos meus avós paternos: minha avó Lydia sempre gostou muito de moda. Já o meu avô Rubens era um cara inteligent­íssimo, empreended­or, inventivo. Cresci vendo a relação dela com as roupas e me pareava muito com ele. É dali que vem esse meu lado rebelde de querer empreender, de meter as caras mesmo com todo mundo dizendo que aquilo não é para você.” Formada em Desenho de Moda e pós-graduada em Styling e Imagem de Moda, fez dois cursos no SENAI – Técnico em Vestuário e Tecnologia Têxtil. “A inadequaçã­o me levou para a moda: eu não me encaixava, minhas ideias eram vistas como piada, como hobby, ninguém levava a sério, ninguém achou que daria certo, apesar de ter o apoio dos meus pais e dos meus avós”, lembra Renata. “A minha vontade de abrir a marca veio muito dessa minha caracterís­tica de ser ‘do contra’ e querer provar que todo mundo estava errado.” A grife Renata Buzzo nasceu em 2013 com poucos vestidos – na época de noivas ainda. “Depois, cansei das noivas e apresentei um projeto para o André Hidalgo (diretor da Casa de Criadores), em 2016, e entrei”, emenda.

SLOW FASHION DESDE SEMPRE

O know-how que Renata tinha era da peça feita no manequim, do sob medida, da moulage, da peça demorada. “Meu estágio foi fazendo essa roupa mais artesanal (ela trabalhou com Samuel Cirnansck). Nunca quis ter uma confecção com grades gigantesca­s e produção insana. Sempre gostei do processo, de maturar a ideia, de testar abordagens no manequim, do estudo da forma, não dá pra fazer isso sem ser no método slow.” A conta do fast fashion nunca fechou para ela. Mas a escolha tem a ver com o fato de Renata criar as coleções como uma narrativa de autoconhec­imento. “A passarela é minha terapia: não é só uma peça de roupa, não é só sobre dinheiro, é muito mais sobre construir uma história. Quem compra um vestido meu leva um pedaço de mim”, fala a moça, que pratica a escrita criativa há alguns anos e escreve poemas e faz coleções que tratam do seu olhar. Lógico que essa metodologi­a de criação precisa ser artesanal, em pequena escala, porque senão perde todo o sentido. E o produto final também é vegano, ou seja, não utiliza nada de origem animal para existir.

RECONEXÃO NECESSÁRIA

Renata acredita que estilo não tem nada a ver com poder de compra, etiqueta ou um closet abarrotado. “Dá para ser estiloso se vestindo só com peças de segunda mão – e isso é extremamen­te sustentáve­l. Você dá uma nova vida ao produto e deixa de comprar uma peça de fast fashion com obsolescên­cia programada (aquela peça que foi projetada para ir para o lixo em um ano). Ou você pode comprar novas, mas de designers pequenos, de marcas consciente­s, com produção controlada, que levam a sério essa questão ambiental.”

A marca tem sete anos e está há quatro na Casa de Criadores. Em 2019, Renata ganhou o prêmio de estilista revelação no Brasil Fashion Fórum, em Miami, pelo Instituto Marangoni e se prepara para ingressar na SPFW, em novembro, com um “petit début” em forma de fashion film, por causa da pandemia. “Espero estrear de verdade na próxima edição de 2021”, conta Renata, que nesta edição vem com a coleção “Estudos Melancólic­os”, tema parte de um poema autoral de mesmo nome, que traça uma narrativa entre os detalhes das roupas e os diferentes estados de melancolia e de depressão, ligados por diversas questões femininas. E este texto você confere no site de L’officiel Brasil

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