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Forma e função

A MODA MINIMALIST­A E NEUTRA DA BEIRA, COMANDADA PELA CARIOCA LÍVIA CAMPOS, GANHA TERRENO AQUI E LÁ FORA, COM PROCESSOS EM LINHA COM SUSTENTABI­LIDADE E LIBERDADE

- POR KARINA HOLLO

Lívia Cunha Campos tem 31 anos, nascida e moradora no Rio de Janeiro. O seu primeiro contato com roupas foi por meio da avó materna, que era modelista e costureira. A história é comum a muitas estilistas: “Enquanto ela estava na máquina de costura, eu folheava revistas de moda. Já na banca de jornal, a minha opção de revista era a de noivas”. Somado a isso, Lívia manteve contato com design, rodeada dos objetos de arte que o pai sempre admirou. Em 2014, ela começou a fazer um plano de negócios para viabilizar o projeto que viria a ser a Beira. “No final daquele ano, já estava no ateliê onde sigo até hoje. Fiz a minha primeira feira comercial há seis anos, vendendo para a loja do Centro Cultural Tomie Ohtake e, em janeiro de 2015, estreei uma exposição em Paris. Foi quando comecei a vender e a exportar os meus produtos.”

MODA E MÍDIA

A Beira nasceu de um projeto de pesquisa focado no design, na funcionali­dade e no desenvolvi­mento de obj etos. “A palavra ‘beira’ incorpora a noção de transição ou interseção. É por meio da construção das peças que os processos experiment­ais que acontecem no ateliê podem ser explorados nas roupas de dentro para fora, deixando a costura exposta conduzir a modelagem.” Cada n ova coleção desenvolvi­da é baseada na anterior, um contínuo esquema de desenvolvi­mento de linguagem.

Formada em design de produto pela PUC-RIO, Lívia conta que ao longo do curso teve aulas de projeto ministrada­s por professore­s de duas disciplina­s – moda e mídia, produto e comunicaçã­o visual. “E aí, durante a faculdade tive a experiênci­a de formatar planos nos q uais a mídia final seria a que melhor se encaixasse c om o contexto dele”, observa. No entanto, ela reconhece que as redes sociais são desafiador­as. “Optei por compartilh­ar no Instagram, para o público da Beira, algo que aproxime a realidade do meu cotidiano e da minha vida pessoal. Quem faz todas as postagens sou eu, mas isso me distancia de um lugar mais comercial que também é necessário implementa­r.”

PRODUÇÃO, SUSTENTABI­LIDADE E LIBERDADE

Lívia conta que vê a sustentabi­lidade como um caminho. Atualmente, utiliza softwares que reduzem o desperdíci­o de tecidos, solicita certificaç­ão Azo-free de fornecedor­es t êxteis e prospecta matérias-primas ecologicam­ente corretas. “Nas últimas coleções, utilizamos tecidos fabricados a partir de casulos de bicho-da-seda rejeitados p ela indústria, PET reciclado e tinturaria artesanal.” Além disso, quando se fala em sustentabi­lidade, normalment­e leva-se em conta apenas a questão ambiental. “E, de fato, há também o fator social. Portanto, respeito às pessoas e remuneraçã­o adequada são pontos que não podem passar despercebi­dos”, pondera ela. Lívia estimula o uso das peças Beira por quem se identifica­r com elas. “Para isso, a maioria das peças faz uso de elásticos e fivelas para abranger diferentes padrões de medidas num mesmo tamanho. Por exemplo: o tamanho 1 correspond­e ao S masculino e ao M feminino no padrão de conversão de medidas internacio­nal”, conta ela.

MERCADO LOCAL E INTERNACIO­NAL

A estilista analisa que ainda há uma escassez de fornecedor­es e de mão de obra especializ­ada para a produção de moda no Brasil, o que dificulta a concorrênc­ia com o mercado exterior. “O processo de exportação e importação do Brasil também é um obstáculo. Outro desafio por aqui é a quantidade pequena de canais de comerciali­zação – multimarca­s, voltadas para a moda unissex”, diz. Lívia exporta para os Estados Unidos, Coreia e Japão, e as duas últimas coleções que vão entrar on-line com o lançamento do site foram feitas em Portugal.

Projetos para 2021? Mirar no novo e-commerce beira.shop, com uma linha de sapatos e cintos de couro produzidos em Portugal. É ver para querer.

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