Escala em Veneza
Na nova coleção de alta joalheria da Chanel, 70 criações de altíssimo luxo resgatam a passagem de Gabrielle pela cidade italiana.
Gabrielle Chanel estava dilacerada após a morte de Boy Capel, um dos primeiros a sofrer um grave acidente de carro, quando descobriu Veneza, em 1920. A efervescência, os canais sinuosos e grandes espaços ensolarados da cidade italiana renovaram sua energia. De quebra, os amigos José Maria e Misia Sert ajudaram Coco a recuperar o gosto pela vida. Como todas as suas experiências, essa também foi incorporada a seu processo criativo. Lá ela se encantou pelos tesouros da arte bizantina e barroca, que viraram inspiração recorrente em seu trabalho. Agora, a maison presta mais uma homenagem a esse recorte no universo de sua criadora, com a coleção de alta joalheria Escale à Venise. Assinada por Patrice Laguéreau, diretor do estúdio de criação de joias, ela reúne 70 peças exuberantes divididas em quatro vertentes.
Foi provavelmente de trem que Gabrielle desembarcou na capital da Sereníssima República de Veneza – como era conhecido o estado a nordeste da Península Itálica entre os séculos 9 e 18. É dessa denominação bastante poética que vem o conjunto La Sérénissime. As joias em formatos geométricos em branco e rosa resgatam fachadas de palácios e detalhes preciosos da arquitetura veneziana, como os mosaicos da Basílica de São Marcos, sob uma luz contemporânea e conectados à herança cultural da maison. Em uma das peças mais expressivas, um colar, diamantes lapidados como baguetes e organizados em motivo escalonado remetem tanto a pisos – fazem lembrar o da Fondazione Musei Civici di Venezia – quanto ao padrão do matelassê, que é um dos ícones da marca francesa.
Os canais e suas gôndolas deslizando suavemente inspiram os quatro grupos do subtema Gran Canale. Os pilares em branco e azul aos quais os barcos ficam amarrados surgem em lápis-lazúli e diamantes nas peças de Volute Vénitienne e pontuam um colar sautoir de três fios com pérolas e elos de ouro amarelo. Em Volute Marine, surge a mesma harmonia cromática nos brincos, no pendente e na pulseira, que é arrematada por um expressivo diamante de 1 quilate em forma de pera. Em Volute Croisière, faixas em diagonal de espinelas vermelhas e diamantes fazem alusão às cordas que prendem as gôndolas. Finalmente, a delicada Ruban Canotier faz link com os chapéus de palha com fita vermelha usados por gondoleiros.
Foi José Maria Sert, que tempos mais tarde se tornou decorador do Rockefeller Center, em Nova York, quem fez Gabrielle descobrir as belezas da cidade. Uma delas chamou especialmente a atenção dessa leonina: os felinos alados que guardam ruas e prédios. A figura do leão, que já havia inspirado uma coleção em 2013, se desdobra em novas joias deslumbrantes do set