As muitas vozes de Gal
A cantora celebra seus 75 anos – e 55 de carreira – com disco de regravações em colaboração com músicos de gerações influenciadas por ela.
Talvez nenhuma outra intérprete na história da música brasileira tenha abrigado tantas múltiplas facetas – na persona e na voz – do que Gal Costa. A diva, que há uma década vive um intenso processo de reinvenção de sua carreira, chegou aos 75 anos, em setembro de 2020, rodeada de celebrações de todo tipo.
À época, a cantora protagonizou uma das lives mais polêmicas da pandemia. Apesar de Gal estar afinadíssima e superemocionada, a direção da cineasta Laís Bodanzky deixou um tanto a desejar. Com um repertório que revia seus longevos 55 anos de carreira, a intérprete era orientada pela direção a transitar de um lado para o outro do palco, acompanhada por câmeras trôpegas que deram o que falar nas redes sociais. Os fãs, apesar de eternamente enamorados por sua musa, não perdoaram a produção e causaram um burburinho na web.
Sorte nossa que as celebrações não pararam por aí. Neste mês, a baiana lança seu novo projeto musical: um álbum de regravações de canções icônicas de sua trajetória, em parceria com dez músicos e compositores de gerações contemporâneas, desde novíssimos como Zeca Veloso e Tim Bernardes até Seu Jorge, Criolo, Rodrigo Amarante, Zé Ibarra, António Zambujo, Rubel, Jorge Drexler, Silva.
“Esse projeto foi ideia do Marcus Preto (diretor artístico), muito antes da pandemia. As bases foram feitas antes de tudo isso, e adiamos a colocação das vozes por conta do isolamento”, revela Gal sobre o processo do álbum.
“São artistas da nova geração que foram influenciados por meu trabalho da época tropicalista, por meu estilo de cantar”, complementa a artista, certa do impacto que seus icônicos álbuns das décadas de 1960 e 1970 causaram nas gerações posteriores.
Mas não só dessas duas décadas se alimenta o vasto repertório do projeto. Ao longo destes mais de 50 anos de produção,
Gal passou, como pouquíssimas outras intérpretes, por praticamente todos os gêneros musicais, transformando-se feito camaleoa, de disco em disco.
Assim, Gal 75 reúne desde canções como Avarandado (com Rodrigo Amarante) e Nenhuma Dor (com Zeca Veloso) – de seu primeiro disco, Domingo, de 1967, em dupla com Caetano Veloso – até sucessos da década de 1970, como
Negro Amor (com Jorge Drexler) e Paula e Bebeto (com Criolo), e de 1980, como Meu Bem, Meu Mal (com Zé Ibarra).
Em termos de mudança, as novas versões oscilam entre as que se propõem ser mais ousadas e arrojadas do que as gravações originais e outras que optam por um registro mais contido, mínimo. Meu Bem, Meu Mal, por exemplo, é um dos pontos altos do disco e surpreendeu até a própria cantora.
“É uma versão bastante diferente da original”, diz ela sobre o clássico do álbum Fantasia, de 1981. “Baby (em parceria com
Tim Bernardes) ficou muito bonita também. Gosto muito de
Só Louco (com Silva)…”, divaga a baiana, mas sem eleger preferências. “Gosto de todas, são todas ótimas”, brinca.
No horizonte próximo? A vez das mulheres, em um álbum no mesmo estilo, só que todo com colaborações femininas. Parece que a fila das cantoras que desejam participar do projeto já está se formando – e é longa, longa…