CORPO e arte
A atriz italiana Alice Pagani, protagonista da série Baby, da Netflix, encarna a Belle de Nuit vestida de glamour e joias Bvlgari.
“GOSTARIA de poder USAR MEU CORPO para me apropriar DO local QUE O CERCA E transformá-lo em um ESPAÇO ARTÍSTICO.”
Alice Pagani falhou ao se apresentar para o diretor Andrea De Sica em sua audição para Baby, série-hit da Netflix no gênero drama para adolescentes, mas deu a volta por cima e acabou levando o papel de Ludovica Storti. “Queria ter sido forte na hora, mas fiquei tão sem graça que caí,” conta à L’officiel. Baseada em uma história real, a série mostra a vida de duas jovens colegiais que moram em um bairro nobre de Roma, o Parioli. Cansadas da bolha em que foram criadas, Ludovica e Chiara (interpretada por Benedetta Porcaroli) acabam se envolvendo em uma rede de prostituição na esperança de se livrar do tédio. “Nosso mundo é o melhor possível. Estamos imersas em um maravilhoso aquário. Só que vemos os peixes de dentro para fora, sempre sonhando com o mar”, conforme diz Chiara no monólogo de abertura. “Esse é o motivo pelo qual precisamos de uma vida secreta para sobreviver.”
Em um período de dois anos, além de Baby, Alice também participou do mais novo projeto do diretor De Sica, Non
Mi Uccidere (“Não Me Mate”, em tradução livre), uma história gótica sobre uma jovem de 19 anos, viciada em drogas, que ressuscita de uma overdose faminta por carne humana. “Minha heroína tem de lutar para crescer e se estabelecer como mulher”, conta. “É uma história sobre a morte e o renascimento que leva ao abandono da infância. Ela sofre muito, mas luta para continuar sendo uma sonhadora.”
L’OFFICIEL O que atraiu você em Ludovica, seu personagem na série Baby?
ALICE PAGANI Enquanto lia o script, fui me apaixonando por Ludovica, porque compreendi sua tendência autodestrutiva. Acho que o desejo de autodestruição é comum entre pessoas da minha geração; e ansiedade e depressão estão muito disseminadas por causa da rapidez com que o mundo se transforma.
L’O Você ficou conhecida por seu blunt cut à Louise Brooks. Tem alguma história por trás do estilo?
AP Usei esse corte durante minha vida inteira, até três meses atrás, e provavelmente vou voltar a usar em breve. Foi ideia de minha mãe; ela tem um ótimo gosto. Esse tipo de corte, reto, sempre emoldurou meus grandes olhos. E também cobria meu rosto quando criança.
L’O Você se definiu como artista no passado. Atuar é seu objetivo?
AP Acredito que ser atriz é minha vocação, mas é uma profissão que se encaixa em muitas formas de arte. Gostaria de ser capaz de usar meu corpo, como Marina Abramovic, para me apropriar do local que o cerca e transformá-lo em um espaço artístico. Atualmente, estou nesse processo de desenvolvimento.
L’O Até agora, já trabalhou duas vezes com De Sica. Com quais outros diretores espera colaborar no futuro?
AP Tim Burton, porque cresci acompanhada de sua imaginação, e Gaspar Noé, porque seu cinema cru me fascina. Ele é um diretor que exige sua alma. Adorei seu filme Climax, porque os atores precisavam estar sempre vivendo completamente seus personagens. Quando inicio a filmagem de um papel, digo adeus a minha vida como Alice. Começo a respirar e andar como o personagem do filme.
L’O Além de ficção, qual história você gostaria de contar para o mundo?
AP Minha história e a de minha mãe. Sou uma mulher criada por uma mulher, e cresci em uma moradia popular, do governo, em Marche, uma região da Itália. O fascismo ainda estava bem arraigado no vilarejo quando era criança. Na época, pude testemunhar vários episódios de discriminação. Por isso, gostaria da oportunidade de mostrar tudo isso em um filme sobre os problemas fundamentais de nosso tempo, como “black lives matter”. Demorou para eu entender que essa discriminação, que vi em minha infância, era desumana. Agora, pretendo usar o cinema e as mídias sociais para dar luz a tudo isso.