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FERVENDO EM CASA

Trancado longe das pistas, o duo Noporn finaliza novo disco feito para dançar no quarto (por enquanto).

- collabs, Por EDUARDO VIVEIROS

Como é possível alimentar o imaginário e a energia da noite em uma fase como esta, em que as festas vêm acontecend­o com menos suor e mais telas? O Noporn pode não ter essa solução definitiva, mas está imbuído em ajudar a manter a chama do fervo acesa, mesmo com as pistas de dança lacradas por aí. SIM, o terceiro disco do projeto, em fase de finalizaçã­o e com lançamento marcado para abril, é fruto dessa internação compulsóri­a do casal Liana Padilha e Lucas Freire.

“A ideia é esta: quando a vida está chata, você precisa criar mecanismos de escape. O nosso é fazer música”, conta Liana. “Vamos lançar sem a resposta poderosa das pessoas na pista. Cada um vai ter de curtir sua festa particular por enquanto.” Lucas define: “O disco todo traz uma vibe de introspecç­ão com fervo muito específica. Nós dois somos assim”.

É um momento inédito, ainda mais para uma banda que se alimenta da energia da noite. Desde o surgimento, no começo dos anos 2000, o Noporn se tornou um clássico das boates exatamente por fazer trilha sonora para esses momentos – suas performanc­es sempre foram mais sobre a festa, sem querer puxar os holofotes sobre si. Isso combina muito com a poética afiada das letras de Liana, feita de conexões improvávei­s entre frases de efeito e imagens altamente sexualizad­as, que viraram hinos entre gerações da noite. A identifica­ção do público não é à toa: “Meu trabalho é sobre festa com gente dançando e se pegando. É sobre sexo, amor, perda, solidão”.

O álbum marca também a estreia 100% oficial de Lucas na composição das músicas – Luca Lauri, a dupla original, continua orbitando por ali, mas sem se compromete­r com a agenda de apresentaç­ões. Quem acompanhou os shows do Noporn nos últimos anos já conhece Lucas, que veio mesclando suas influência­s musicais nas bases que acompanham o spoken modulado de Liana: “Este disco é mais romântico do que os anteriores, mais melódico, no geral. Tem menos bateção de pista, vai para o lado do electro-rock, um pouco de soul”.

A produção incessante da dupla não teve respiro entre Boca, o disco de 2016, e agora. No fim de 2020, o single

Circuit Break deu uma pista do que vinha. Mas Lucas e Liana seguiam fazendo principalm­ente com o mundo da moda – compuseram para um vídeo do designer de acessórios Eduardo Caires e para a participaç­ão da Cacete Company no último SPFW, além de parcerias com o estilista e amigo André Lima.

Neste mês, lançam o clipe de Pérola Suja, dirigido por Lucas Sxiz. Com letra de Liana com Jackson Araujo, a música é fruto de fascinação dela pelas Azagatcha – coletivo artístico de três seres fluidos que vinham causando pela noite paulistana até ela ser interrompi­da pela pandemia. “Eu estava deslumbrad­a pelo poder dessas figuras, que têm um discurso político muito forte mas também não deixam o fervo de lado. A música virou uma homenagem a elas e a todas essas divas do undergroun­d com quem nós cruzamos pelas pistas nesse tempo todo”, conta, mostrando uma prévia do vídeo que fez em parceria com o trio e styling de Dudu Bertholini.

Vinte anos depois, do Xingu às lives no Zoom, o Noporn continua costurando novas gerações e personagen­s clássicos. E segue, de casa, de olho em um futuro póspandemi­a e com saudades das festas. “A noite acaba, nasce outro dia e mais para a frente sempre vai ter outra noite. Como vai ser a cara do que vem por aí?”, pergunta Liana, mesmo sabendo que a resposta está longe de existir.

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 ??  ?? ACIMA – Liana brilhando nas gravações de Pérola Suja com jaqueta da Amapô pinçada do acervo de Dudu Bertholini. À ESQUERDA – A dupla em casa: isolamento criativo e produção non-stop
ACIMA – Liana brilhando nas gravações de Pérola Suja com jaqueta da Amapô pinçada do acervo de Dudu Bertholini. À ESQUERDA – A dupla em casa: isolamento criativo e produção non-stop

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