COMUNA DE IBITIPOCA
Em um ambiente no qual é uma arara-canindé de voos majestosos, tem-se a certeza de que o paraíso está bem próximo.
Repousado sobre o platô chamado de Pedra do Tatu, Achmed saúda a natureza e se conecta a ela por meio das mãos que tocam a terra. Criada pela americana Karen Cusolito, a escultura de 6 toneladas, feita de aço carbono e de materiais recuperados, é parte de uma das instalações permanentes desta reserva, localizada a 86 quilômetros de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Ao lado dela, entre gestos e movimentos delicados, outras seis figuras esculpidas que alcançam até 12 metros de altura expressam o humano e o sagrado em estado profundo de arrebatamento. Além das obras da artista que habitam o lugar há quase uma década – vistas pela primeira vez no festival Burning Man, que acontece no deserto de Nevada, nos Estados Unidos –, a Comuna do Ibitipoca oferece aos visitantes inúmeras maravilhas. Ela é um espaço que vem sendo ampliado desde 1984 e que atualmente se estende por mais de 6 mil hectares pelos municípios de Lima Duarte, Bias Fortes e Santa Rita do Ibitipoca.
O objetivo, de acordo com o empresário Renato Machado, é, além de criar um polo sustentável, formar um cinturão de proteção em torno do Parque Estadual do Ibitipoca, cuja área é de 1.488 hectares. Dedicado ao ecoturismo e à prática de atividades físicas ao ar livre, o complexo também investe no bem-estar exercido de maneira holística. Assim, a comunidade é convidada a integrar esse projeto experimental de autogestão econômica, social e ambiental, com turismo consciente e ecológico, assumindo sua administração, fornecendo alimentos que abastecem os restaurantes, produzindo objetos que decoram cada cômodo, atendendo, assim, dessas e de outras maneiras os hóspedes nas vivências de lazer e de imersão.
Incrustado na Serra do Ibitipoca, o território está em um ponto de divisão das bacias dos Rios Grande e Paraíba do Sul e se destaca pela presença da mata atlântica e de mata ciliar. Além das bromélias e das candeias, encontradas por todo o percurso, a flora reúne cactos, samambaias, orquídeas e líquens, a exemplo da conhecida barba-de-velho.
A região abriga 40 espécies de mamíferos e 14 tipos de anfíbios, alguns deles ameaçados de extinção, como a onça-parda, o papagaio-do-peito-roxo, o lobo-guará, o sauá – primata comum nesse habitat – e o macaco bugio, com um ambicioso projeto de refaunação que procura também trazer de volta animais que abandonaram a região.
Voos intrépidos
Lembrando Cartola em sua obra-prima Alvorada, a natureza sorri quando o Sol deixa tudo mais colorido. E o nascer do dia na Comuna do Ibitipoca é algo singular. Não poderia ser diferente: “ibitipoca”, contam os moradores, é um termo do tupi-guarani traduzido como “serra que estoura”, em alusão à grande incidência de raios.
Já de pé, após o café da manhã, que pode ser servido na sede ou embaixo de uma centenária jabuticabeira, circulamos por todos os caminhos possíveis para desbravar o lugar em trajetos com graus diferentes de dificuldade, por trilhas atravessando prainhas, paredões, dolinas, grutas e incontáveis atrações.
A Comuna possui três conceitos de hospedagem, todos unidos pela ideia de sustentabilidade – Engenho, Village e Remote –, transitando entre o luxo tradicional, o minimalismo contemporâneo e as expressões locais.
Primeira sede da Comuna, a Engenho Lodge está em um casarão mineiro de 1715. Reformulado em 2008, traz oito suítes de 40 a 50 metros quadrados, com mobiliário mineiro exclusivo, enxovais de algodão egípcio, banheiras vitorianas, piso aquecido no banheiro e vista para o campo. Café fresquinho com ovos caipiras, sucos e frutas da estação, pães de queijo e de canela, bolos, geleias caseiras, almoço mineiro e jantar com alguns dos pratos assinados pelo chef Claude Troisgros tornam a experiência única. Se você procura mais privacidade, vale a pena se hospedar a poucos metros da casa do Engenho, na Carlinhos House, típica casa de fazenda, na beira de um pequeno lago em forma de coração. Com apenas três suítes de até 70 metros quadrados, a casa possui um ambiente tranquilo e bem intimista.
O modelo seguinte de acomodação, batizado de Village ou Villa Mogol, é localizado em um antigo vilarejo de mora
dores, em cima de uma montanha, praticamente abandonado pelo tempo, a 9 quilômetros do Engenho. Restaurado pela Comuna, é um projeto experimental em desenvolvimento. A ideia é incentivar o hóspede a participar do dia a dia de uma comunidade do interior, incluindo todos os moradores da região, valorizando sua cultura e gerando também empregos para a localidade. Habitada por apenas 22 moradores, algumas casas da pequena Villa Mogol foram adquiridas pela comunidade e agora vêm sendo totalmente recuperadas. Para receber os hóspedes, quatro lofts distintos em decoração e estilo já estão prontos – Humboldt, erguido com a técnica de pau a pique e telhas aparentes; Freud, cuja ambientação bem-humorada faz referência ao psicanalista austríaco; Wangari Maathai, que leva o nome da ambientalista queniana e descreve um tipo único de sofisticação; e Guimarães Rosa, um sobrado ligado à arquitetura das construções vizinhas que homenageia o autor de Grande Sertão: Veredas.
Por fim, o terceiro tipo de alojamento, Remote, deixa o turista em contato tão somente com a natureza. A casa Isgoné (Eagle Nest) está no ponto mais alto do terreno, a quase 1.500 metros de altitude, em um lugar reservado aonde se chega só de quadriciclo, bicicleta ou a pé. Por lá o silêncio é quebrado apenas pelo canto dos pássaros e o barulho do vento.
Atividades de lazer são organizadas e incluem passeios a cavalo e de bicicleta assistidos, partidas de vôlei de praia, trilhas de Land Rover, stand-up paddle, yoga e meditação, mergulhos em piscinas naturais, bem como observação de pássaros e do nascer e pôr do sol, massagens (aplicadas com
amenities naturais e veganos) e visitas às cachoeiras com direito a almoços e piqueniques-surpresa e até um maravilhoso jantar dentro de uma gruta para fechar o dia.