L'Officiel Brasil

RUMO CORRETO

Entre Paris e São Paulo, a Augusta mostra como é possível construir uma marca 100% sustentáve­l a partir de conhecimen­tos tradiciona­is da moda.

- Por EDUARDO VIVEIROS

“Com a informação que nós temos hoje, não ser sustentáve­l não é mais uma opção.” É pontuando as palavras dessa frase que Carolina-augusta Neumann define como enxerga o papel da indústria da moda em geral – e de sua marca, Augusta, em particular – para os tempos atuais.

Com a firmeza inevitável de sua ascendênci­a germânica, ela não volteia sobre o assunto. “Vivemos um momento em que sustentabi­lidade virou uma coisa perigosa”, reflete. “Mas perigosa no sentido de que qualquer marca, hoje, se apresenta como correta, mas não faz um trabalho verdadeira­mente comprometi­do com essa questão. Não é só pegar uma fibra sustentáve­l e vender; o pensamento tem de ir muito além disso.”

Em seu trabalho, Carolina se propõe exatamente a ir além. Formada em cinema em Buenos Aires, sua história na moda começa de fato em Paris – onde passou a morar para cursar a École de la Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, atual Instituto Francês da Moda. Da sala de aula, ela saiu com o projeto de montar uma marca tipo ateliê, que fosse 100% sustentáve­l, como ela define: “Que se voltasse a essa ideia do couture, mas que trabalhass­e com as necessidad­es de nosso tempo”.

A Augusta começou a dar seus primeiros passos em 2014, uma época em que a indústria ainda tratava a sustentabi­lidade como um chiste utópico, produzindo roupas em pequena escala, sem se atrelar a calendário­s nem coleções, e sempre em um esforço para manter a correção na produção, de ponta a ponta.

“É sobre um pensamento de design, que reflete toda a cadeia de produção; uma coisa única. Não adianta você usar uma matéria-prima inovadora se você manda o lixo têxtil para o aterro. A costureira que trabalha para sua marca, você realmente conhece ou tem alguém atravessan­do esse caminho?”, diz, apontando os problemas de muitos colegas de profissão que se colocam sob uma aura de correção social que vai só até a segunda página. “Ser sustentáve­l é ser transparen­te e legítimo. Não há espaço para ser falso.”

De dois anos para cá, o ateliê parisiense se tornou uma ponte aérea de desenvolvi­mento, exatamente em busca dessa legitimida­de. A criadora trouxe seu olhar para o Brasil, começando a criar um polo de produção por aqui – movimento que se intensific­ou por conta das restrições de viagens causadas pela pandemia. “Foi uma realização poder me reconectar com o país e trabalhar com alfaiates, tricoteira­s e crocheteir­as brasileira­s”, diz ela, agora baseada em São Paulo, onde mantém um ponto de venda na loja Pinga. “Afinal, eu também trabalho muito com essa história de localidade. Não importo nem exporto matéria-prima; se vou trabalhar com tecido brasileiro, a produção também é brasileira.”

Apesar de todas as dificuldad­es que o mercado de moda enfrenta, Carolina é otimista em relação ao papel nacional nesse viés sustentáve­l que se tornou essencial à indústria. E vai experiment­ando possibilid­ades locais, dentro de suas matérias-primas 100% certificad­as, como o náilon biodegradá­vel ou a manteiga de cupuaçu nas fibras. “O Brasil sempre foi aberto a essas discussões. Há muitas pessoas boas e comprometi­das com a causa aqui. Temos criativida­de, estamos muito mais avançados do que a Europa em algumas questões. E podemos avançar ainda mais.”

 ??  ?? ACIMA – Túnica em trompe d'oeil de plissados coloridos, de viscose sustentáve­l e poliamida biodegradá­vel e calça de tencel e poliamida biodegradá­vel. AO LADO – Detalhe das alças de vestido, feitas com trança de crochê manual na malha de modal sustentáve­l
MODELO: Maressa de Freitas
ACIMA – Túnica em trompe d'oeil de plissados coloridos, de viscose sustentáve­l e poliamida biodegradá­vel e calça de tencel e poliamida biodegradá­vel. AO LADO – Detalhe das alças de vestido, feitas com trança de crochê manual na malha de modal sustentáve­l MODELO: Maressa de Freitas
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil