CORAÇÃO MUSICAL
No cinema, ela é conhecida por seu nome de nascimento, 0% -&") "/$, filha do master diretor de cinema. Mas é com seu pseudônimo, 2776 "", que essa californiana lança um primeiro álbum intimista, -,&)"! ,3", com a participação de & ,) 0 /.
O Zoom foi a plataforma escolhida para nosso encontro virtual, entre Paris e Los Angeles. Buzzy Lee aparece na tela. Um sorriso esfuziante ilumina seu rosto, ao natural, enquadrado por seus cabelos castanhos ondulados. Atrás dela, janelas fazem sonhar com o sol californiano. Sua acolhida calorosa minimiza rapidamente a distância que nos separa. “Em 2020, atravessei períodos difíceis por causa de uma separação e da morte de meu avô”, ela começa. “Mas também tive tempo para cozinhar, ler, assistir a vários filmes que não conseguia ver antes. Pude andar, meditar, pintar aquarelas... Entendi que a solidão não me incomoda, e isso foi para mim uma lição muito importante.” Outro acontecimento: Sasha comemorou seu aniversário de 30 anos com um dia inteiro dedicado “a responder todas as mensagens de parabéns". Mas a data certamente inaugurou um decênio incrível. Com passagem pelo cinema em alguns filmes do pai, a californiana também foi iniciada na música com seu irmão, Theo (fazendo parte, com ele, do duo de indie-folk Wardell), e com seu amigo Nicolas Jaar (no projeto de ambos, Just Friends). Ela acaba de lançar seu primeiro álbum-solo, sob o pseudônimo Buzzy Lee. “Não pude usar o nome Spielberg”, conta, com ironia.
“Inicialmente, imaginava lançar um EP de forma anônima, mas foi impossível se quisesse fazer shows com o rosto aparecendo. Queria apenas que as pessoas descobrissem minha música sem pensamentos preconcebidos ao ver meu nome de família, que, às vezes, prefiro esconder.” É fácil compreender esse desejo de construir o próprio caminho e ter um nome de valor dentro da família de prestígio. De seus pais, o diretor de cinema Steven Spielberg e a atriz Kate Capshaw, Sasha herdou a paixão pela música, que começou ainda na infância. Ela nos confidencia que Steven escutava os Beatles e músicas de filmes sem parar, enquanto sua mãe passava e repassava as canções de cantoras como Lucinda Williams e Ani Difranco e tudo do festival de música Lilith Fair, que aconteceu nos anos 1990. “Depois de uma fase pop, comecei a tocar guitarra aos 12 anos. Foi aí que passei a adorar Led Zeppelin e o rock.”
Longe de suas obsessões de adolescente, o álbum Spoiled Love tem sons de uma beleza estonteante, tranquilizantes, minimalistas e intimistas. Faz pensar nos arranjos gelados do primeiro álbum de Lykke Li, na voz de Zooey Deschanel, em She & He, ou na limpidez de Joni Mitchell. A cantora compõe músicas em um tom direto. “Gosto dos primeiros acordes. Minhas palavras são frases simples, que se parecem muito com os textos que escrevo em meu diário. Tenho a impressão que, quanto mais as palavras forem brutas e claras, mais elas repercutem no fundo de meu pensamento.” Essas músicas foram criadas com o artista eletro Nicolas Jaar, amigo com quem ela trabalha há anos. Eles se conheceram durante o primeiro ano de estudo na Universidade Brown. Tinham 18 anos e a cumplicidade entre ambos nasceu de um amor mútuo pelo grupo inglês Portishead. Sobre Spoiled Love, eles elaboraram juntos os sons delicados, em que o papel principal fica por conta da voz de Sasha, ou ainda nas duas entradas de voz sobrepostas, estilo John Lennon. “Nico me completa muito. Ele sabe como aerar uma música, com pequenos toques aqui e ali. Ele é capaz de se transformar em guia, como na canção Pom-pom Girl, quando preciso, e em coach também.
Em resumo, ele é inacreditável.” Se a música é seu modo de expressão favorito, Sasha usa igualmente a moda para afirmar sua personalidade. “O que eu visto diz muito a meu respeito, principalmente quando apareço em público. Muitos estilos me inspiram, como dos anos 1940, ou o western. Houve uma época em que somente me vesti com roupas de meus namorados, e adorava a sensação de conforto. Aliás, existem muitos artistas masculinos cujos looks em cena admiro muito: David Bowie, Prince... A mistura que eles têm de feminino e masculino me fascina.” Seu álbum tem um esplendor sem jamais ser ostentatório, que cativa do início ao fim.