L'Officiel Brasil

POR TRÁS DA CENA

Prestes a lançar ,)) com a 2)1 & , &*,+" 2+"0 rememora como navegou discreta e com sucesso por uma moda cada vez mais personalis­ta.

- Por EDUARDO VIVEIROS

“Ela não foi feita para vender.” É assim que Simone Nunes resume o começo da história da sandália Pillow, que se tornou item de desejo em todas as classes de fashionist­as, das influencer­s modernas do Instagram às mulheres de gosto mais clássico. Criado em 2016 para sua marca Room, o modelo realmente não é dos mais fáceis, com duas tiras maximalist­as que abraçam o pé – mas, por um desses inesperado­s da moda, deu certo. Tanto que a brasileira licenciou a Pillow para a marca de Los Angeles, Cult Gaia, que passa a produzir e vender versões exclusivas no próximo verão do Hemisfério Norte. “Às vezes, nem eu acredito. Ela nasceu de uma vontade de fazer algo que não vai para a coleção comercial”, explica a criadora. “Foi tudo uma questão de timing. O mundo se mostrou em um momento diferente, as pessoas estavam cansadas de produtos presentes em todos os lugares.” Timing é uma palavra muito importante para entender a trajetória de Simone nos últimos 20 anos de carreira. A estilista, que começou na Casa de Criadores, logo migrou para o Hotspot e foi parar na SPFW. Era uma época em que a moda brasileira tentava fomentar uma nova geração de estilistas, com o holofote dos desfiles, mas sem dar o peso necessário à parte comercial que equilibras­se a efervescên­cia criativa. O resultado: muita gente talentosa ficou pelo caminho.

Ela, por outro lado, teve o feeling de parar na hora certa. “Tomei a decisão de fechar a marca em 2010, depois de um desfile que foi até que bem-sucedido. Percebi que estava no ponto de crescer e eu precisaria trocar a criação pelo business. Achava que não era para mim, ainda tinha muito o que explorar.” Desde então, Simone saiu pela boca de cena e foi para o “mundo real”. Discreta por natureza, embrenhou-se em cargos de consultori­a e criação de todos os tipos – do desenvolvi­mento de coleções para marcas conhecidas, como a Iódice, a trabalhos no Brás e Bom Retiro –, antes de entrar em uma rotina global desbravado­ra, que envolveu ficar na ponte aérea entre São Paulo, México, Londres, Paris, Nova York, Espanha e China. “Foi nesse momento que entendi que criação e administra­ção podem ser pensadas em

uníssono – e que eu era boa nisso. Não adianta apenas ter uma boa ideia. Para ela dar certo, é preciso muito trabalho para que aconteça no momento ideal. Uma boa ideia sozinha é um TCC de faculdade”, define. “Quando desfilava, por exemplo, eu apresentav­a propostas que só seriam aceitas pelo mercado dois anos depois. Isso ajudou que entendesse o que vende e quando.”

Dessa rotina de viagens nasceu a Serpentina, projeto sustentáve­l de biquínis, global mas com foco em produção local; e a Room, pensada para ser uma marca com peças que traduzem o conforto de casa, mesmo a distância – lógica que explica a singularid­ade da Pillow e sua volumetria… curiosa.

“O começo foi uma batalha. O fornecedor não queria fazer aquela ‘coisa horrorosa’, as lojas pediam para diminuir o tamanho. O lançamento dela também é um exemplo desse novo tipo de business criativo que percebi fazer sentido hoje. A sandália só saiu pois sou a dona da marca e liberei o lançamento de um produto, a princípio, não vendável. Se estivesse trabalhand­o para outra empresa, isso nunca teria acontecido.”

Sua discrição também ajudou a alimentar o buzz da marca quase anônima. Pouca gente atinava que a Room fosse brasileira, muito menos daquela estilista que largou as passarelas e sumiu há mais de dez anos. Simone se diverte: “Eu levo bronca, de que devo começar a assumir meu trabalho”, mas também entende os riscos de ser uma etiqueta pequena e sem um rosto: “Nomes grandes começaram a copiar o design da Pillow e isso poderia ter nos engolido facilmente”.

A collab com a Cult Gaia tem ressonânci­a com essa linha de pensamento. A marca de Jasmin Larian começou a ganhar projeção em 2016 quando a Ark, modelo de bolsa feita de bambu, tornou-se it bag pelas mãos de Jessica Alba, Michelle Williams e Beyoncé e passou a ser reproduzid­a pela Zara e outras gigantes do ramo. “A Jasmin comprou uma e me ligou. O que é muito digno, pois ela se recusou a repetir o que fizeram com ela.” A ligação se tornou um licenciame­nto, que começa com três modelos da sandália exclusivos para a Cult Gaia – e já com planos de novos modelos feitos a quatro mãos. “É o ápice do primeiro ciclo de vida da Pillow”, conta, enquanto prepara o terreno de sua mudança para Milão, assim que a pandemia deixar. Desde o ano passado, Simone vem organizand­o para que a Room seja uma etiqueta made in Italy, além da produção brasileira. O futuro inclui parceria com Adriana Fortunato, brasileira que desenvolve trabalho com refugos da indústria têxtil italiana, de uma linha de bolsas e sapatos envolvendo trabalho manual de uma comunidade do Sul do Brasil.

A cabeça de Simone borbulha em projetos, de curadoria e publicação de artistas à vontade de valorizaçã­o da mão de obra brasileira, que é tão desperdiça­da no mercado global, sempre envolvendo esse pensamento de business criativo que desenvolve­u ao largar mão das passarelas. “Minha filha tem dado Google no meu nome e descoberto entrevista­s daquela época que eu nem lembrava. Lendo, fiquei impression­ada: os temas, os assuntos, já estava tudo ali. Só faltava desenvolve­r.”

Primeirame­nte, estou morrendo de curiosidad­e de

L’OFFICIEL

saber como você tomou contato com a Pillow.

Estava fazendo compras, como uma consumidor­a

JASMIN LARIAN

normal. Quando vi a Pillow, eu me apaixonei e calcei imediatame­nte! Raramente encontro peças que amo de verdade, o grande motivo que me fez começar minha marca. Então, contactei Simone pelo Instagram, gostei da sua vibe e pensei que poderíamos fazer algo juntas.

O que levou você a pensar que ela é uma boa ideia para a

L’O

coleção da Cult Gaia?

Essa pegada puffy vem sendo assunto recentemen­te. Meu

JL

time da marca estava trabalhand­o em algo nessa linha acolchoada. Quando vi a Pillow, eu disse: “Esqueçam, quero fazer isso com a Simone”. Amo poder colaborar com outras mentes criativas, é o que me anima!

Você sente algum tipo de eco brasileiro no design da Pillow?

L’O

Quanto isso foi importante em sua decisão de licenciá-la?

A qualidade da manufatura tem uma pegada brasileira.

JL

Talvez até tenha sido isso que me chamou atenção, em primeiro lugar. Nós também fazemos nossos calçados no Brasil. Sou fascinada pela arte e pela atenção aos detalhes que os artesãos com quem trabalhamo­s conseguem atingir – é diferente de qualquer lugar no mundo.

A Cult Gaia fala muito em seu manifesto sobre peças

L’O

que são objet d’art. Imagino que você enxergue isso na Pillow também. Qual é sua definição de objet d’art no guarda-roupa e o que faz da Pillow um deles?

Penso que você pode calçar a Pillow com qualquer coisa e

JL

as pessoas vão se impression­ar e dizer: “Uau, o que é isso?”. É esse também o DNA da Cult Gaia: peças que são para vestir mas que você valoriza como se fossem arte. Elas podem estar apenas dispostas na mesa de centro ou no chão, e essa é nossa arte. Somos também superinspi­radas por mobiliário e arquitetur­a – assim como Simone, acredito. As sandálias carregam essas caracterís­ticas. Nossa colaboraçã­o é muito fortuita e acho que nós duas pensamos de forma muito parecida.

A Pillow tem uma série de fãs e colecionad­oras no

L’O

Brasil. Algum plano de chegar até elas com a parceria Room/cult Gaia?

Adoraríamo­s ter uma pop-up ou um ponto de venda para

JL

atender todas! Vamos explorar possibilid­ades assim que o mundo se abrir.

Empreended­ora de Los Angeles, 0*&+ /& + tem faro bom para negócios. Teve o primeiro 0" !" 02 "00, fazendo headbands e coroas de flores enquanto se formava na FIT, em Nova York. Sua marca começou produzindo a bolsa de bambu – que viralizou pelas redes sociais e transformo­u a 2)1 & em nome forte no mundo da moda de pegada lifestyle, cheia de fãs-celebridad­es. O licenciame­nto com a Room vai espalhar três modelos exclusivos da &)),4: dourada, off-white com textura de cobra e outra inteira em terracota.

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MODELO: Emily Mendes. EDIÇÃO: Simone Nunes e Raquel Oshiro. MAKE UP AND HAIR: Raul Melo. TRATAMENTO DE IMAGEM: Premedia Crop
Em fotos feitas pela própria Simone, as peças de acervo da antiga marca convivem contemporâ­neas com as criações da Room, como as sandálias Square e Cushion Feather ou o cobertor de alpaca (acima). MODELO: Emily Mendes. EDIÇÃO: Simone Nunes e Raquel Oshiro. MAKE UP AND HAIR: Raul Melo. TRATAMENTO DE IMAGEM: Premedia Crop
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