FLOR DE DIOR
Victorie de Castellane se inspira na rosa para criar a nova coleção de alta joalheria em homenagem a uma das paixões do criador da maison francesa.
Se tem um elemento que define o universo de Christian Dior são as flores. E isso desde muito cedo. Influenciado pela mãe, ele pôs as mãos na terra e criou canteiros exuberantes para o jardim faraônico que existia na casa dos pais à beira-mar, em Granville, principalmente um roseiral sobre as falésias. Não à toa, esse universo botânico perfumado virou combustível para a criação de looks icônicos: Corolle e Tulipe, o lírio-do-vale costurado entre forros ou bainhas, aplicado nos botões e no frasco de Dioríssimo, sem contar suas cores preferidas, todas vindas desse mesmo lugar. “Depois das mulheres, as flores são as mais divinas criações”, dizia.
Esses elementos foram tão fortes na construção da marca que são perpetuados e revisitados até hoje. Foi esse caminho bucólico que levou Victoire de Castellane, diretora criativa da divisão Christian Dior Fine Jewellery, a criar uma nova coleção dedicada à rosa – a primeira foi Bal des Roses, há dez anos. Formada por 54 peças com desenho realista, Rosedior presta um tributo poético e colorido à flor favorita de monsieur Dior.
Sobre um colar de ouro rosa com folhas de ouro amarelo, uma rosa semeada com diamantes se desfaz para se tornar um broche, enquanto um colar de riviera de diamantes adornado com uma flor de rubi se transforma em uma pulseira. Salpicada com diamantes ou safiras, a rosa finaliza um colar ajustável que desliza de um sautoir para uma gargantilha em um flash. A combinação virtuosa de espinelas rosa dá origem a um conjunto com gemas lapidadas em formato de pera. Uma turmalina da Paraíba azul lagoa floresce em um colar em forma de Y, enquanto uma safira azul ultramarina de Madagáscar pesando mais de 8 quilates surge soberana coroando uma rosa, colocada em uma haste de ouro branco decorada com gotas de orvalho feitas de diamantes em lapidação briolette. Esmeraldas zambianas embelezam uma flor e seu caule, enquanto brincos de gota em estilo dormeuse têm pétalas de diamante amarelo, que também enriquecem um anel com uma flor recriando um exemplar recém-colhido, com pétalas mal abertas.
Aliás, cada anel é um buquê em si, repleto de tsavoritas verdejantes e esmeraldas de corte triangular com um tom azulado, cintilantes botões de diamante em corte esmeralda ou um caleidoscópio de verde, azul, amarelo e rosa com um pistilo de espinélio rosa lapidado em losango pesando mais de 4 quilates. Pulseiras são feitas de ouro evocando uma textura vegetal. Nas oficinas de alta joalheria parisiense, o metal precioso martelado e polido se transforma em um caule envolto em geada. Esse efeito foi obtido usando diamantes em pavê de diferentes diâmetros, enquanto pétalas de rosa com diamantes dão graça a um relógio secreto, enaltecendo o La D de Dior com um
aglomerado de diamantes ou safiras rosa em formato de flor. O jardim precioso construído por Victoire de Castellane para a nova coleção não só homenageia a flor preferida de Dior e sua paixão pelas plantas como também fala da profunda simplicidade contida no mais puro luxo de uma joia.
Para ter ideia de como as flores eram importantes para o criador da maison, foi com muitas delas que Christian Dior decorou o número 30 da Avenida Montaigne em 12 de fevereiro de 1947, dia de seu primeiro desfile de alta-costura, que apresentou a criação que ficaria eternizada como “new look”. Em sua primeira casa, em Milly-la-forêt, no Moulin du Coudret, ele não hesitava em trocar seus ternos impecáveis pela roupa de jardineiro. Já na propriedade de Colle Noire, que ele comprou em Montauroux, mandou cavar um imenso lago, reformou o velho casarão, tinha glicínias na varanda do quarto e paredes da sala de jantar forradas por uma indienne florida inspirada no século 18, que avançava também sobre as cortinas, a toalha da mesa e o estofado. Era lá que ele desejava viver seus últimos dias, tranquilo, esquecendo-se do personagem Christian Dior para ser apenas Christian.