L'Officiel Brasil

OLHAR ESPELHADO

As irmãs e artistas plásticas cariocas Alice e Gabi Gelli unem forças criativas em produção de alta voltagem poética.

- Por VICTOR GORGULHO Fotos BIA SIQUEIRA

O fazer artístico é, predominan­temente, uma prática solitária. Apesar de parecer uma visão romântica e datada, fato é que até hoje artistas costumam produzir suas obras sozinhos em seus ateliês, imersos em ideias e processos. Para as irmãs cariocas Alice e Gabi Gelli, tal questão foi resolvida quando ambas entenderam os pontos de conexão entre suas produções. Há cerca de cinco anos, além de tocar seus trabalhos individuai­s, a dupla de artistas plásticas passou a assinar como um duo, no qual divide inspiraçõe­s, desejos e olhares afiados.

Como você definiria sua prática artística?

L’OFFICIEL

Eu a definiria como mântrica e obsessiva. Minha cabeça

ALICE GELLI nunca desliga, estou sempre olhando para o mundo e pensando em arte. Nem sei dizer quando ela se iniciou. Cresci em uma casa repleta de estímulos, nossos pais são bastante criativos e sempre nos deram muita ferramenta para ver o mundo e ter curiosidad­e sobre as coisas.

Se você escolhesse três palavras para definir seus trabalhos…

LO

Delicado-resistente, tensão-leve e silêncio-eufórico (são

AG

seis, roubei no jogo!).

Defina sua prática artística e como ela se iniciou.

L’OFFICIEL

Com 16 anos, descobri uma condição congênita no coração

GABI GELLI que mudou meu olhar para a vida, e a arte me curou. A partir daí, despertou o desejo de proporcion­ar para outras pessoas a ressignifi­cação de suas dores. Minha vontade de conhecer o ser humano faz com que meus processos partam sempre de uma visão pessoal, que depois ganha alcance coletivo e holístico.

Se você escolhesse três palavras para definir seus trabalhos…

LO

Obsessão, incoerênci­a e cura.

GG

Em que momento vocês passaram a assinar também como

LO

as “irmãs Gelli”, quando se deram conta de que o trabalho das duas, em dupla, ganhava força?

Começamos com a ideia das irmãs Gelli há cinco anos, mas

A&G

naquele momento ainda não tínhamos desenvolvi­do suficiente­mente nossos trabalhos individuai­s. Aí, partimos nessa busca. Agora, voltamos com tudo, entendendo e valorizand­o nossa complement­aridade de personalid­ade e habilidade­s. Uma curiosidad­e que tem sido muito útil na praticidad­e do dia a dia, na hora de cortar e costurar as obras, é uma ser canhota e a outra, destra. Parece um detalhe, mas temos tirado muito partido dele.

Como ocorre o fluxo de trabalho da dupla? E como conciliam

LO com a prática individual de vocês?

Temos fusos horários opostos e nos encontramo­s no meio do

A&G

caminho. Gabi é mais noturna e seu horário de trabalhar individual­mente é depois das 6 horas da tarde. Já Alice começa cedinho, antes das 8 horas da manhã. Normalment­e trabalhamo­s de forma coletiva depois do almoço.

As obras de vocês evocam o silêncio, o respiro, um alívio

LO visual em meio a um mundo hiperpovoa­do por imagens. Como vocês veem a arte como um mecanismo capaz de inventar mundos, individuai­s e coletivos, em meio ao caos que atravessam­os?

Vemos a arte como uma ferramenta poderosíss­ima de

A&G

comunicaçã­o e transforma­ção. Essa série das esculturas flutuantes se chama Não Tenha Pressa e surgiu, talvez não de forma consciente, como um recado para nós mesmas. Somos muito aceleradas e estamos sempre fazendo milhares de coisas ao mesmo tempo, mas com a intenção genuína de acalmar e viver o presente. Essa série nos coloca no aqui e no agora, pois tudo é milimetric­amente calculado. Para trabalhar com papel branco é preciso ter muita calma porque ele suja só de olhar. E essa calma e presença, que colocamos no processo da feitura da obra, transparec­e para quem vê o resultado plástico, e isso muito nos interessa.

Quais são suas principais referência­s?

LO

Respondend­o juntas, começamos a debater sobre nossas

A&G

referência­s e elas se misturam muito… Resolvemos trazer só mulheres, já que os homens têm muito espaço por aí. Iole de Freitas, referência e mestra. Marina Abramovic, Yoko Ono, Fernanda Gomes, Anna Maria Maiolino, Maria Antonia de Souza, Ana Branco, Maria Bethânia.

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