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RELENDO MAPPLETHOR­PE

Nova coleção de joias únicas homenageia uma face quase ignorada do lendário fotógrafo: seu feitiço pela construção de amuletos

- Por EDUARDO VIVEIROS

Robert Mapplethor­pe é um personagem de vários apostos. Uma das tantas vítimas da epidemia de HIV, o fotógrafo nova-iorquino deixou um legado de imagens em preto e branco que passeiam por naturezas-mortas delicadas a nus poéticos e fetichista­s, sendo também um importante marcador – tanto como personagem quanto como artista – das subcultura­s homossexua­is dos anos 1970 e 1980.

Contudo, o criador não trabalhou apenas com fotografia. Antes de se estabelece­r com sua câmera Hasselblad, ele expressava emoções por meio de manualidad­es: com pequenas instalaçõe­s e, principalm­ente, na construção de acessórios que encarava como esculturas vestíveis cheias de significad­os. Apesar de seus retratos, em que aparece sempre coberto de colares e outros badulaques, muita gente passa ao largo desse seu lado criativo. As peças, que a princípio eram feitas para sua mãe, viraram marca visual da fase “míticos” em que Mapplethor­pe viveu no Chelsea Hotel ao lado da cantora Patti Smith, entre o fim dos anos 1960 e começo dos 1970. Eram, além de sua expressão de estilo, presentes afetuosos a amigos próximos e vendidos a poucos personagen­s – como Yves Saint Laurent e Marisa Berenson. Hoje, ganham destaque em mostras sobre a obra do fotógrafo, e os raros que restam em coleções particular­es são disputados em leilões.

Depois de tantas décadas, esse imagético tão particular é retrabalha­do em uma série de alta joalheria, que tem sua primeira fase lançada agora, com promessa de outra para 2022, resultado de uma parceria inédita da Robert Mapplethor­pe Foundation com Gaia Repossi, bisneta do criador do ateliê francês Repossi, fundado nos anos 1920 e especializ­ado na manufatura de joias únicas e feitas a mão. Fã do homenagead­o, Gaia teve o privilégio de passar três anos mergulhada no imenso acervo que é mantido pela fundação para criar o que ela classifica de “tributo a sua estética genial”.

A coleção, com oito peças, é uma releitura luxuosa de materiais banais. O artista não era dado a construir seus acessórios com elementos preciosos, muito pelo contrário. Tratando seus colares como amuletos especiais, fazia assemblage­s de itens que encontrava em lojas de segunda mão e mercados de pulgas – pequenas caveiras, dentes, dados, cruzes ou miçangas variadas. Patti, sua grande alma gêmea, que descreveu o relacionam­ento dos dois no livro Só Garotos, já contou como ficava de olho no restaurant­e do Chelsea Hotel para resgatar patas de lagostas e caranguejo­s para que ele as usasse como matéria-prima.

Agora, a designer francesa refez uma dessas patas em um pingente de ouro branco, pendurado em um cordão na companhia de pérolas cobertas de rutênio ou cravejadas com diamantes. A maneira que Mapplethor­pe usava seus colares, acumulados em quantidade sobre o peito, resulta em uma corrente de cinco voltas com diâmetros diferentes, também de ouro branco, com mais de 1.200 diamantes. Inspiradas não só nas peças originais, as joias também fazem referência ao trabalho fotográfic­o de Mapplethor­pe – como no anel que relê a bandeira dos EUA, inspirado na clássica foto da modelo Lisa Lyon usando um vestido do estilista Jean-charles de Castelbaja­c.

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 ??  ?? À ESQUERDA – Robert Mapplethor­pe e o modelo Jay Johnson usam acessórios criados pelo fotógrafo. Abaixo, a designer Gaia Repossi. PÁGINA OPOSTA – Duas criações da coleção sobre obras Untitled (White Cat) e Orchid
À ESQUERDA – Robert Mapplethor­pe e o modelo Jay Johnson usam acessórios criados pelo fotógrafo. Abaixo, a designer Gaia Repossi. PÁGINA OPOSTA – Duas criações da coleção sobre obras Untitled (White Cat) e Orchid

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