Futuro do passado
Retrospectiva chega a Paris reunindo o universo criativo de +,(55< 8*/(5, inspirado pelo gótico, pela ópera e pelos animais.
Bem antes de ser fisgado pela moda, Thierry Mugler foi fascinado pela dança. E ele começou cedo, aos 9 anos. Uma autorização especial lhe abriu portas, aos 14, para o corpo de baile da Ópera de Reno, em sua cidade natal, Estrasburgo, na França. É bem provável que a extravagância e o luxo dos figurinos e cenários dos espetáculos tenham influenciado a estética que moldou sua trajetória nas passarelas. Looks teatrais que saíram dessa visão, principalmente nos anos 1980, formam parte empolgante da exposição Thierry Mugler: Couturissime, que abre no fim de setembro, no Musée des Arts Décoratifs.
A mostra chega a Paris com delay por conta da pandemia. A estreia foi em 2019, em Montreal, no Canadá. Na sequência, fez paradas em Roterdã, na Holanda, e Munique, na Alemanha. A ideia é de retrospectiva, porque traz trabalhos famosos e arquivos não publicados, criados de 1973 a 2014, quando o estilista deixou o controle de sua grife homônima. O formato, entretanto, é mais impactante: dividido em seis atos, como em uma ópera, misturando projeções, fotos e músicas que materializam sua personalidade multiartista. Estilista autodidata, não abria mão de cuidar de todas as etapas nos desfiles, do styling à iluminação, protagonizados por suas glamazone, termo que ele criou para definir a imagem de mulheres urbanas e glamourosas, que na passarela personificava em nomes como Jerry Hall e Gisele Bündchen.
Ainda que um de seus looks mais famosos seja o top Harley-davidson criado para o clipe Too Funky, de George Michael, em 1990, e resgatado por Beyoncé, em 2009, são as referências a fadas e bichos que deram corpo a vários looks icônicos permeados de detalhes góticos. No Grammy Awards de 2019, Cardi B roubou a cena com o vestido de 1995/1996 inspirado no quadro O
Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli. Rita Ora, Lady Gaga e Kim Kardashian também têm sido vistas frequentemente com peças vintage que podem ser observadas de perto na exposição. Para quem não está na Europa, vale um tour pelo site do museu.
Além das silhuetas com ombreiras pontiagudas, decotes abissais e cinturas de vespa, outra parte importante do trabalho de Mugler são criações robóticas e aerodinâmicas moldadas em materiais inovadores, como metal e borracha, que anteciparam as revoluções do transumanismo. A armadura articulada, apresentada em 1995 para o 20º aniversário da marca, exigiu nada menos do que seis meses de trabalho intensivo. Fora do design de moda, o estilista se destacou na perfumaria, dando origem, em 1992, a Angel, uma revolução olfativa que lançou a tendência dos perfumes gourmet e que são apresentados em sala especial da mostra. A marca, atualmente, pertence à L’oréal, mas Mugler deixou o negócio em 2002, quando ainda pertencia à Clarins, para se dedicar a outras formas de criação. Adotou o prenome Manfred e raramente é visto em público. Nesse mesmo ano, ele dirigiu o espetáculo Extravaganza para o Cirque du Soleil. De lá para cá, se ocupou de outros projetos, como conselheiro de Beyoncé em I
Am... World Tour. Couturissime é a chance de descobrir um designer que marcou uma fase de glamour com roupas esculturais que, até hoje, inspiram outros criadores.
Thierry Mugler: Couturissime. De 30 de setembro a 24 de abril de 2022. Musée des Arts Décoratifs, Paris. Madparis.fr