L'Officiel Brasil

Toda influência

Dona da Mynd agência de marketing digital pioneira em inclusão e diversidad­e, Fatima Pissarra sonha influencia­r todo o mercado.

- Por KARINA HOLLO Edição de Moda: JOÃO PAULO DURÃO Fotos: GABRYEL SAMPAIO

Formada em jornalismo pela Universida­de Federal de Santa Catarina (UFSC), Fatima plantou a semente do que seria sua carreira para a vida toda quando entrou para um grupo focado em testar a Internet, em 1996. A partir daí, percebeu que esse era um mercado promissor, que tinha acabado de surgir e que só ia crescer (muito mais do que o jornalismo). E estava certa. De lá, trabalhou em uma startup de telefonia celular, sempre com foco na rede. Fez pós em marketing, lançou a área de mobile para o Terra, e enfim chegou à Nokia – seu grande sonho. Isso levou dez anos. Lá, trabalhava com inovação, abriu uma área inédita no mundo, de advertisin­g no celular. Até que seu chefe foi ser CEO da Vevo e a levou junto. “Como já tinha trabalhado lançando ringtone e bluetone, conhecia a parte burocrátic­a da música: direito autoral, gravadora, editora. Ele me chamou para abrir a Vevo no Brasil. E, assim, comecei a trabalhar em projetos musicais.” Em um ano, Fatima continuou como funcionári­a. Mas aos poucos foi recebendo pedidos: “Consegue contratar um artista X?”, “Liberar essa música para um comercial?”, “Fazer um show?”. Quando se deu conta, havia criado uma empresa 360 graus em música. Foi quando passou a ser representa­nte exclusiva da Vevo no Brasil, fazendo projetos inovadores para marcas. “Trouxe a Demi Lovato para um show da Fanta, Katty Perry para Dell, 50 Harmony para show, teve o avião do Luan Santana com a Gol.” Assim, ela se consolidou como a maior empresa de projetos de música do mercado, o que gerou relacionam­ento com os empresário­s dos artistas. “Todo ano vendíamos patrocínio­s para o bloco da Preta Gil. Um dia, ela perguntou por que eu não agenciava artistas, cantores – e disse que seria minha sócia. Foi assim que montamos a Mynd.” O primeiro agenciado? Pablo Vittar. “Fui estudar, descobri que era uma drag queen e pensei: ‘É sobre isso!’.” Até que Preta encontrou a Gleici, que havia acabado de vencer o BBB, e ela estava sem agência. “Quando ela, uma mulher preta, entrou para o time, disse que a gente precisava ser uma agência de dentro para fora. Não posso começar a agenciar pessoas pretas e só ter pessoas brancas na agência.” Ela já tinha muitos funcionári­os LGBTQIA+, mas começou a fazer esse outro movimento, em 2017, com a Samantha Almeida (que hoje está no Twitter). “Foi assim que atingimos a marca de 50% dos funcionári­os pretos. Foi fácil? Não. Era difícil encontrar profission­ais com a experiênci­a necessária. Passamos a contratar por skills: é organizado? Fica no atendiment­o. Gosta de números? Vai para o financeiro. Queria uma agência que representa­sse o país que a gente vive com toda a sua diversidad­e. Isso em 2017, antes

FOI ASSIM QUE $7,1*,026 $ 0$5&$ DE 50% DOS FUNCIONÁRI­OS PRETOS. 2, )?&,/ NÃO. ERA DIFÍCIL ENCONTRAR PROFISSION­AIS COM $ (;3(5,D1&,$ NECESSÁRIA. PASSAMOS A CONTRATAR POR 6.,//6 É ORGANIZADO? FICA NO ATENDIMENT­O. GOSTA DE NÚMEROS? VAI PARA O FINANCEIRO. QUERIA UMA AGÊNCIA QUE 5(35(6(17$66( O PAÍS QUE A GENTE VIVE COM TODA A SUA DIVERSIDAD­E. FATIMA PISSARRA

do auge desse movimento. Aí, estávamos prontos e preparados para começar a agenciar pessoas pretas.” Fatima construiu seu time de agenciados em cima de diversidad­e de raça e gênero, pessoas com propósito, e esse foi um de seus diferencia­is no mercado. Passou a trabalhar com influencia­dores e não só com cantores. “Viramos o canhão nesse sentido de projetos de entretenim­ento e marketing de influência para marcas, que é o que somos hoje. Agenciamos mais de 250 talentos para o mercado de marcas.” E em 2020, com a pandemia e a necessidad­e de todos ficarem dentro de casa, aconteceu uma aceleração do mercado digital. “Nós nos posicionam­os como uma agência pioneira, atendendo com velocidade, nos adequando em valores, o que gerou um cresciment­o muito grande. Passamos de um faturament­o de 60 milhões de reais para 130 milhões de reais, e a projeção para 2021 é bater os 200 milhões de reais. Realmente foi uma grande virada”, conta.

Fatima afirma que sempre tentou entender todo o processo dentro de uma empresa, como áreas se integravam – o que lhe deu bagagem para empreender. “Não é simples. Eu achava que não era para mim. Gostava de ter emprego e salário todo mês. Mas todo mundo falava para eu acreditar em mim mesma – e foi o que fiz. Tive coragem e percebi que era capaz.” E, certeza, vai muito longe, acreditand­o que o marketing de influência ainda tem muito a crescer. “É um mercado grande e promissor, mais uma forma de trabalho para as pessoas. Ser um influencia­dor é um trabalho, uma atividade remunerada, é empreender também. Você precisa desenhar seu escopo, saber o que vai fazer no dia, o que vai gravar, para onde vai. Influs grandes têm agenda cheia de compromiss­os e horários e de coisas para produzir para fazer a manutenção dessa rede social. É o negócio do futuro”, afirma, dizendo que tem a missão de trabalhar o respeito e de trazer para dentro de casa quem prega o respeito. “Todo mundo precisa se posicionar, sim, trabalhar essa mudança dentro da empresa. Não precisa de treinament­o. Somos todos pessoas, independen­temente de raça ou gênero. Você só precisa contratar e dar oportunida­de a elas.”

O hobby de Fatima, já dá para imaginar, é o trabalho. Ela conta que ama estar nos grupos dos agenciados, conversar, saber o que está engajando no Tiktok, no Instagram. “Saúde mental, para mim, está ligada a eu estar 100% feliz na hora de ir trabalhar. Também amo viajar, conhecer países novos, comprar quinquilha­rias no Wallmart, comer bem, tomar um bom vinho. Mas sou apaixonada pelo que faço. Durmo pensando nele, acordo pensando nele. Me realiza. Sou muito feliz nesse dia a dia”, fala a mãe de três filhos, uma menina de 13 e um casal de gêmeos de 6. “Existe muito julgamento da mãe que ama o trabalho, que não busca e não leva na escola. Penso assim: o que quero deixar para os meus filhos? Quero que vejam a mãe trabalhand­o com amor. Esse é o exemplo. A mulher carrega muito essa culpa, e essa é mais uma questão machista que a gente tem de derrubar. A responsabi­lidade e o amor pelo trabalho são muito importante­s.”

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