Toda influência
Dona da Mynd agência de marketing digital pioneira em inclusão e diversidade, Fatima Pissarra sonha influenciar todo o mercado.
Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fatima plantou a semente do que seria sua carreira para a vida toda quando entrou para um grupo focado em testar a Internet, em 1996. A partir daí, percebeu que esse era um mercado promissor, que tinha acabado de surgir e que só ia crescer (muito mais do que o jornalismo). E estava certa. De lá, trabalhou em uma startup de telefonia celular, sempre com foco na rede. Fez pós em marketing, lançou a área de mobile para o Terra, e enfim chegou à Nokia – seu grande sonho. Isso levou dez anos. Lá, trabalhava com inovação, abriu uma área inédita no mundo, de advertising no celular. Até que seu chefe foi ser CEO da Vevo e a levou junto. “Como já tinha trabalhado lançando ringtone e bluetone, conhecia a parte burocrática da música: direito autoral, gravadora, editora. Ele me chamou para abrir a Vevo no Brasil. E, assim, comecei a trabalhar em projetos musicais.” Em um ano, Fatima continuou como funcionária. Mas aos poucos foi recebendo pedidos: “Consegue contratar um artista X?”, “Liberar essa música para um comercial?”, “Fazer um show?”. Quando se deu conta, havia criado uma empresa 360 graus em música. Foi quando passou a ser representante exclusiva da Vevo no Brasil, fazendo projetos inovadores para marcas. “Trouxe a Demi Lovato para um show da Fanta, Katty Perry para Dell, 50 Harmony para show, teve o avião do Luan Santana com a Gol.” Assim, ela se consolidou como a maior empresa de projetos de música do mercado, o que gerou relacionamento com os empresários dos artistas. “Todo ano vendíamos patrocínios para o bloco da Preta Gil. Um dia, ela perguntou por que eu não agenciava artistas, cantores – e disse que seria minha sócia. Foi assim que montamos a Mynd.” O primeiro agenciado? Pablo Vittar. “Fui estudar, descobri que era uma drag queen e pensei: ‘É sobre isso!’.” Até que Preta encontrou a Gleici, que havia acabado de vencer o BBB, e ela estava sem agência. “Quando ela, uma mulher preta, entrou para o time, disse que a gente precisava ser uma agência de dentro para fora. Não posso começar a agenciar pessoas pretas e só ter pessoas brancas na agência.” Ela já tinha muitos funcionários LGBTQIA+, mas começou a fazer esse outro movimento, em 2017, com a Samantha Almeida (que hoje está no Twitter). “Foi assim que atingimos a marca de 50% dos funcionários pretos. Foi fácil? Não. Era difícil encontrar profissionais com a experiência necessária. Passamos a contratar por skills: é organizado? Fica no atendimento. Gosta de números? Vai para o financeiro. Queria uma agência que representasse o país que a gente vive com toda a sua diversidade. Isso em 2017, antes
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do auge desse movimento. Aí, estávamos prontos e preparados para começar a agenciar pessoas pretas.” Fatima construiu seu time de agenciados em cima de diversidade de raça e gênero, pessoas com propósito, e esse foi um de seus diferenciais no mercado. Passou a trabalhar com influenciadores e não só com cantores. “Viramos o canhão nesse sentido de projetos de entretenimento e marketing de influência para marcas, que é o que somos hoje. Agenciamos mais de 250 talentos para o mercado de marcas.” E em 2020, com a pandemia e a necessidade de todos ficarem dentro de casa, aconteceu uma aceleração do mercado digital. “Nós nos posicionamos como uma agência pioneira, atendendo com velocidade, nos adequando em valores, o que gerou um crescimento muito grande. Passamos de um faturamento de 60 milhões de reais para 130 milhões de reais, e a projeção para 2021 é bater os 200 milhões de reais. Realmente foi uma grande virada”, conta.
Fatima afirma que sempre tentou entender todo o processo dentro de uma empresa, como áreas se integravam – o que lhe deu bagagem para empreender. “Não é simples. Eu achava que não era para mim. Gostava de ter emprego e salário todo mês. Mas todo mundo falava para eu acreditar em mim mesma – e foi o que fiz. Tive coragem e percebi que era capaz.” E, certeza, vai muito longe, acreditando que o marketing de influência ainda tem muito a crescer. “É um mercado grande e promissor, mais uma forma de trabalho para as pessoas. Ser um influenciador é um trabalho, uma atividade remunerada, é empreender também. Você precisa desenhar seu escopo, saber o que vai fazer no dia, o que vai gravar, para onde vai. Influs grandes têm agenda cheia de compromissos e horários e de coisas para produzir para fazer a manutenção dessa rede social. É o negócio do futuro”, afirma, dizendo que tem a missão de trabalhar o respeito e de trazer para dentro de casa quem prega o respeito. “Todo mundo precisa se posicionar, sim, trabalhar essa mudança dentro da empresa. Não precisa de treinamento. Somos todos pessoas, independentemente de raça ou gênero. Você só precisa contratar e dar oportunidade a elas.”
O hobby de Fatima, já dá para imaginar, é o trabalho. Ela conta que ama estar nos grupos dos agenciados, conversar, saber o que está engajando no Tiktok, no Instagram. “Saúde mental, para mim, está ligada a eu estar 100% feliz na hora de ir trabalhar. Também amo viajar, conhecer países novos, comprar quinquilharias no Wallmart, comer bem, tomar um bom vinho. Mas sou apaixonada pelo que faço. Durmo pensando nele, acordo pensando nele. Me realiza. Sou muito feliz nesse dia a dia”, fala a mãe de três filhos, uma menina de 13 e um casal de gêmeos de 6. “Existe muito julgamento da mãe que ama o trabalho, que não busca e não leva na escola. Penso assim: o que quero deixar para os meus filhos? Quero que vejam a mãe trabalhando com amor. Esse é o exemplo. A mulher carrega muito essa culpa, e essa é mais uma questão machista que a gente tem de derrubar. A responsabilidade e o amor pelo trabalho são muito importantes.”
TODO MUNDO 35(&,6$ 6( 326,&,21$5, SIM, TRABALHAR ESSA MUDANÇA DENTRO DA EMPRESA. A2 35(&,6$ '( 75(,1$0(172. SOMOS TODOS PESSOAS, INDEPENDENTEMENTE DE RAÇA OU GÊNERO. VOCÊ SÓ PRECISA &2175$7$5 ( '$5 2325781,'$'( A ELAS. FATIMA PISSARRA