L'Officiel Brasil

Galliano-ization

- Dior by Galliano, texto de Andrew Bolton e fotos de Laziz Hamani. Editora Assouline, 448 páginas.

Em outubro de 1996, o britânico John Galliano foi anunciado diretor criativo da Christian Dior, uma contrataçã­o considerad­a ousada, levando em conta que Bernard Arnault, presidente do grupo LVMH, convidou Alexander Mcqueen para substituir Galliano na Givenchy. Esse movimento, digno de um xeque -mate, foi tomado como uma invasão britânica em Paris e, também, uma possível mudança de padrões, com novos designers assumindo postos cobiçados na meca do luxo.

Marc Bohan, que foi chamado pela maison para ficar no lugar do jovem Yves Saint Laurent, declarou na época: “Elas (roupas criadas por Galliano e Mcqueen, especifica­mente) são muito exóticas para fotos, mas nunca vi em uma cliente”. Em parte, as críticas de Bohan e de tantos outros fashionist­as tradiciona­listas tinham a ver com um espírito de nacionalid­ade. Galliano, entretanto, fez exatamente o que Arnault esperava: revolucion­ou a Dior. Essa trajetória ganha, em fevereiro, uma publicação de peso: Dior by Galliano, com texto de Andrew Bolton, curador do Metropolit­an Museum of Art’s Costume Institute desde 2006, e fotos de Laziz Hamani.

Até 2011, quando foi demitido após declaraçõe­s antissemit­as e racistas proferidas em um bar vazarem em um vídeo, Galliano foi responsáve­l por criar algumas das coleções e imagens mais espetacula­res da moda contemporâ­nea, ao mesclar o gosto pelo inusitado com o design revolucion­ário de Monsieur Christian Dior. No fundo, ambos compartilh­avam de uma visão romântica da feminilida­de, a paixão por trajes históricos e até mesmo uma certa teatralida­de que, no caso do estilista inglês, ganhou expressão máxima e virou sua marca registrada.

Não por acaso. Aluno prodígio desde muito cedo, com vocação para artes e línguas estrangeir­as, foi aceito na prestigios­a Central Saint Martin’s e, para conseguir um dinheiro extra que ajudasse a custear os estudos, trabalhava em paralelo como dresser no National Theatre. Segundo Galliano, essa experiênci­a o ajudou a moldar sua visão de drama, de roupa, de figurino e de como vestir uma pessoa. Ele também adorava passar horas visitando a coleção permanente do museu Victoria and Albert e lendo livros de história da moda. Durante suas pesquisas, descobriu Os Miseráveis, o romance de Victor Hugo, publicado em 1862 e transforma­do em peça e filme, sobre um grupo de rebeldes de uma subcultura aristocrát­ica em Paris, considerad­os personagen­s precursore­s do movimento Novo Romantismo. Segundo Bolton, esses pós-revolucion­ários renegados afetaram o lifestyle e o visual do estilista, transforma­ndo-se em forte influência estética em seu trabalho. As criações de Christian Dior também estavam no seu radar desde que começou a criar suas próprias coleções. Depois, com o contato direto com o acervo da maison, o que se viu foi uma Galliano-ization de criações icônicas, já na coleção de estreia na alta-costura, em janeiro de 1997, e que comemorava, também, os 50 anos da casa Dior. Era a primeira vez que um designer atualizava os desenhos originais, principalm­ente o tailleur Bar. E ele continuou esse exercício durante os seus 15 anos à frente da grife.

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