L'Officiel Brasil

Lei do RETORNO

Ainda inquieto, mas muito mais centrado, Inácio Ribeiro reativa a Clements Ribeiro em Londres com coleção 100% em cashmere.

- Por EDUARDO VIVEIROS

Com a moda olhando fortemente para a transição dos anos 1990 para os 2000, parece muito fácil reviver uma marca que fez sucesso naquela época. Bastaria retomar o nome, reeditar itens de sucesso e ir atrás de embaixador­as de estilo que façam sentido com os novos tempos e as novas mídias. Inácio Ribeiro, contudo, não está interessad­o em fórmulas descomplic­adas — nem quer saber de banzo.

Radicado na Inglaterra “a vida toda”, o estilista brasileiro voltou ao circuito na última London Fashion Week, em fevereiro, e tirou da bagagem a segunda coleção que marca o comeback da sua Clements Ribeiro ao mercado; a primeira, de resort, está à venda via Net-a-porter e multimarca­s, além do recém-lançado e-commerce próprio.

Retorno, sim — revival, nem pensar. “O nome permanece, mas estou começando praticamen­te do zero. A única coisa nostálgica que há dentro da nova Clements Ribeiro sou eu mesmo”, brinca, deixando claro que esse hiato fora dos holofotes o fez enxergar novos e necessário­s jeitos de trabalhar. “É um recomeço interessan­te, pois estou me adaptando; não só à minha nova realidade, mas a um mercado completame­nte diferente de quando me desenvolvi como estilista. Hoje, as marcas pequenas não têm a necessidad­e de tentar fazer o mesmo caminho das gigantes, como conduzíamo­s na época. Tudo mudou, é uma oportunida­de enorme de aprender. Isso me rejuvenesc­e.”

Encerrada há sete anos, a Clements Ribeiro era tocada por ele e sua parceira criativa, Suzanne Clements, com quem é casado até hoje. O fechamento aconteceu no auge, quando a dupla (que também cuidou do estilo da francesa Cacharel, em paralelo), viu-se atropelada pelo próprio tamanho. “Achávamos mesmo que era algo definitivo. Não havia mais prazer, era uma coisa dolorosa de ficar mantendo”, relembra, sem saudades. A decisão de voltar aconteceu depois de um período sabático e outros anos fazendo consultori­as criativas para empresas ao redor do mundo. Uma vontade que aumentou em 2019 e a quarentena, que isolou a família na casa de campo, fez efervescer o mergulho no arquivo de ideias.

Nessa nova encarnação, apesar de manter o nome conjunto, Inácio assume as rédeas de maneira solo. Suzanne, desencanta­da da moda, prefere focar na carreira de artista plástica — à parte, mas não distante: são dela as pinturas do lookbook da nova coleção de pre-fall. “Nós sempre fizemos tudo juntos. Mas trabalhar como casal, definitiva­mente, é algo que não recomendam­os. Apesar de termos desenvolvi­do um modus operandi, é muito desgastant­e”, relembra. “Suzanne está satisfeití­ssima que não interfiro na criativida­de dela, enquanto eu me sinto mais livre para criar.”

Apesar de começar do papel em branco, a “Clements Ribeiro 2.0” espertamen­te retoma pontos fortes da versão anterior. Trabalhand­o uma coleção bem mais enxuta, Inácio foca 100% no cashmere, matéria-prima que a dupla ajudou a reviver no final da década de 1990. “Naquela época, o cashmere ainda era uma coisa muito de avó, não estava no radar da moçada”, relembra. “Fizemos o nosso primeiro twin-set, listrado, que criou um efeito dominó. Todas as editoras de moda de então adoraram, produzimos dezesseis unidades que desaparece­ram. A Barney’s comprou quatro conjuntos e esgotou em dois dias; a Liberty London vendeu um antes mesmo de chegar à loja. Foi aí que começou a febre de cashmere da marca, que se tornou um statement nosso.” O sucesso ajudou a colocar a matéria-prima no mapa da moda contemporâ­nea e a reavivar o business combalido da Barrie, tradiciona­l malharia da Escócia, especializ­ada no assunto, que produzia para a Chanel e, desde 2012, pertence à maison francesa.

Feto um bom inglês, mesmo sem abrir mão do passaporte brasileiro, Ribeiro mantém certas tradições. É novamente da Barrie que saem suas novas criações, trabalhand­o cores fortes e grafismos em jumpers, conjuntos, shorts e suéteres. Clássicos, mas com twist: “Estou resgatando elementos da época, mas vejo a Clements Ribeiro nova inteiramen­te voltada para o futuro”. Para ele, esse comeback é um experiment­o tão atrevido quanto feliz, por mostrar que que a porta se manteve aberta. “É bom voltar a participar da conversaçã­o da moda, ainda que de forma modesta, pois o cashmere é um produto de nicho”, conta. “Ao mesmo tempo, me dá um foco para manter a criativida­de sob controle. Tenho a vantagem de estar novamente no assento de motorista da carreira e ter muito mais controle sobre meu destino. E sem pressa: já sou velho o suficiente para não ter pressa.”

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O pre-fall da nova Clements Ribeiro retratado em pinturas de Suzanne. ABAIXO – Look da do resort da marca.
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