Quando o corpo se ataca
Conheça a síndrome autoimune que afeta Rochelle em Segundo Sol
Na reta final da trama das nove, a personagem Rochelle (Giovanna Lancellotti) recebeu uma notícia assustadora: ela está com Síndrome de Guillain-Barré (SGB). O nome complicado se refere a uma doença autoimune, que é quando o sistema de defesa ataca o próprio corpo – neste caso, afetando o sistema nervoso. Para explicar melhor o problema, conversamos com Marcondes França, neurologista e professor da Universidade de Campinas (Unicamp).
Como surge
A SGB é uma condição rara, aguda e grave desencadeada pelo sistema imunológico. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pessoas de todas as idades podem ser afetadas, mas o problema é mais comum em adultos e em homens. A síndrome tem estágios de progressão que variam entre duas a quatro semanas e quase a metade dos pacientes começam a responder ao tratamento a partir da segunda semana. As causas da doença ainda não são totalmente conhecidas, mas sabe-se que incluem infecções como influenza e zika vírus, cirurgias ou tumores, que provocam uma resposta imunológica exagerada contra os nervos periféricos e suas raízes espinhais. “Ela pode aparecer quando as defesas do organismo são mais intensas do que o necessário para acabar com uma infecção e passam a atacar os nervos periféricos do próprio corpo, causando sintomas variados”, explica o especialista.
Sintomas
A síndrome pode afetar os nervos que controlam o movimento dos músculos. “As lesões nervosas levam a complicações progressivas, que podem comprometer a respiração, dificuldade de deglutição e causar outros problemas como infecções do sangue, trombose venosa profunda, coágulos pulmonares ou paradas cardíacas”, complementa França. Os principais sintomas são fraqueza progressiva e dormência, sendo estes comuns a todos os pacientes. “No entanto, existem subtipos. Por isso a Guillain-Barré é caracterizada como síndrome, e não doença. Apesar de o fator desencadeante ser uma infecção, os sintomas e as causas variam”, explica. De acordo com a OMS, a taxa de mortalidade está entre 3% e 5% e a incidência varia de 0,6 até 2,4 pessoas a cada 100 mil, sendo maior em regiões em que há mais exposição a infecções.
Tratamento
Os pacientes devem ficar hospitalizados para acompanhamento e medicação dos sintomas. Ainda não existe cura para a síndrome, porém, há grande foco no desenvolvimento de exames que agilizem o diagnóstico, já que o tratamento é mais eficaz quando iniciado até 14 dias após o surgimento dos sintomas. Os cuidados de apoio incluem monitorização da respiração, frequência cardíaca e pressão arterial. Como o problema é automimune, a sua fase aguda é normalmente tratada com imunoterapia, como a troca de plasma para remover anticorpos do sangue. De acordo com a OMS, em caso de persistência de fraqueza muscular após a fase aguda da doença, os pacientes podem precisar de serviços de reabilitação para reforçar os músculos e recuperarem os movimentos.
A OMS informa que a maioria dos pacientes se recupera totalmente do problema, sendo que a taxa de mortalidade é de 4%.