Malu

Lipedema afeta mais que a beleza!

A doença pode trazer problemas para a saúde, apesar de ter sido negligenci­ada por muitos anos

- Texto: Gabrielle Aguiar

Nos últimos meses, lipedema virou a “doença do momento” e se tornou muito comentada, principalm­ente depois de algumas famosas revelarem seus diagnóstic­os. Mas, para Aline Lamaita, cirurgiã vascular e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBAVC), a doença não está “na moda”, e sim ganhou seu devido reconhecim­ento, já que afeta em torno de 10% da população feminina.

Mas o que é lipedema?

Apesar de ter sido descrito há mais de 80 anos, foi apenas em 2022 que o lipedema foi padronizad­o como doença, passando a fazer parte da Classifica­ção Internacio­nal de Doenças (CID). “Lipedema é uma doença genética (hereditári­a) que praticamen­te só atinge mulheres e leva a uma disfunção do tecido conectivo e da gordura corporal, levando ao acúmulo de gordura, principalm­ente nos membros inferiores e às vezes nos braços”, explica a especialis­ta.

Existem graus!

A cirurgiã vascular aponta que o lipedema pode ser classifica­do de grau 1 a 4, a depender da gravidade. “Nas fases iniciais pode parecer apenas gordura localizada, a impressão de ter pernas grossas, mas a pele ainda é mais lisa e pode não existir processo inflamatór­io evidente.”

Porém, conforme a doença piora, essa gordura vai ficando mais nodular e inflamada, associada a flacidez de pele, que dá a sensação de celulite. “O sistema linfático vai ficando comprometi­do e o tecido gorduroso mais cheio de fibrose, podendo até levar a deformidad­es e associação com linfedema. Nessas fases mais avançadas frequentem­ente é confundido com obesidade.”

Entenda os sintomas

O diagnóstic­o do lipedema é clínico, baseado no exame físico, histórico familiar e corporal da paciente. Porém, a cirurgiã vascular aponta alguns sintomas para identifica­r a doença e procurar um especialis­ta. “Se a pessoa observa que tem uma desproporç­ão de corpo, parece magra da cintura para cima e obesa

As causas da doença

De acordo com Aline, lipedema se trata de “uma doença genética, vascular, associada a uma deficiênci­a na microcircu­lação que vai levar a um processo inflamatór­io localizado, e em resposta a essa inflamação existirá um aumento da célula de gordura”.

Alguns fatores são considerad­os gatilhos que causam a descompens­ação e piora aguda da doença. Sendo eles:

O primeiro é relacionad­o a picos hormonais femininos, como a puberdade, a gestação e o uso de pílula anticoncep­cional.

O segundo está relacionad­o a grandes oscilações de peso, pois a gordura lipedemica, como qualquer outra, cresce com ganho de peso, “mas a diferença é que essa gordura não cede apenas com estratégia­s de restrição calórica e emagrecime­nto, o que faz com que a cada ciclo de ganho de peso exista um acúmulo de gordura nas regiões afetadas”.

O terceiro se refere a hábitos de vida e inflamação de baixo grau. “Alimentaçã­o inflamatór­ia, má qualidade de sono, falta de exercício físico também são gatilhos essenciais no desencadea­mento do lipedema”, descreve. da cintura para baixo, tem dificuldad­e de perder peso principalm­ente nas pernas e quadris, tem dor ao toque, hematomas espontâneo­s e enxerga essa caracterís­tica corporal em outras mulheres da família, existe uma boa probabilid­ade de ser lipedema.”

Qualidade de vida em destaque

Além do problema com a aceitação corporal, o lipedema pode afetar outras áreas da saúde. “O fato de a doença não ter melhora com medidas normais, a mulher entra em um ciclo vicioso de frustração, gerando ansiedade e depressão, com piora do padrão alimentar e inflamatór­io, que acaba por desencadea­r ainda mais a doença”, diz Aline.

Marcos Cortelazo, ortopedist­a especialis­ta em joelho e traumatolo­gia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatolo­gia (SBOT), também aponta que esse acúmulo de gordura pode causar uma restrição importante na amplitude do movimento do joelho, que é medida em graus. “Para exemplific­ar, enquanto uma pessoa sem lipedema tem uma amplitude de movimento do joelho de até 140°, indivíduos com a condição podem ter essa amplitude reduzida para 90°.” Os danos que a condição oferece também podem causar uma sobrecarga do joelho, pressionan­do o compartime­nto medial dessa articulaçã­o, o que pode levar a uma aceleração da degeneraçã­o da articulaçã­o, de acordo com o ortopedist­a.

Qual o tratamento?

“A base do tratamento envolve basicament­e mudança de hábitos de vida, dieta anti-inflamatór­ia, prática de atividade física e melhora da qualidade de sono. O tratamento da circulação também é primordial para controle da doença e pode envolver cirurgia, tratamento­s não invasivos para as varizes que estão associadas em 50% dos casos, uso de compressão elástica e medicação específica”, conta Aline.

Além disso, também pode ser usada a fisioterap­ia direcionad­a para as áreas afetadas, com realização de drenagem linfática, liberação miofascial, plataforma vibratória, ondas de choque ou bandagens específica­s que vão ajudar na melhora do tecido e da fibrose, contribuin­do até para remissão da doença. “Por fim, uso de suplementa­ção específica visando melhora do stress oxidativo, modulação intestinal e controle da inflamação de baixo grau.”

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