Meiahora - RJ

Como virar o jogo depois de uma tragédia

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Débora estava se divertindo andando de kart quando sentiu um puxão na cabeça e capotou numa curva da pista. O namorado, Eduardo, assistiu ao acidente. Ele se assustou e foi correndo até lá. Débora, de 19 anos, estava imóvel, e havia sangue para todo lado. Mais pessoas se aproximara­m, a mãe e a filha de Eduardo, e ele gritou: “Fiquem longe. Ela tá morta!”.

Foi quando Débora, cujos cabelos e couro cabeludo inteiro haviam sido arrancados, levantou a cabeça e disse: “Eduardo, para com a sua frescura. Procure socorro para mim”.

Vi esta jovem bonita, de turbante na cabeça e sorriso no rosto, contar sua história no programa ‘Encontro com Fátima

Bernardes’ e confesso: nunca tinha visto exemplo melhor do que se chama resiliênci­a. No dicionário, a palavra tem um sentido figurado que significa“capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”. Caso de Débora, que não estava morta e sabia que o namorado tinha pavor de sangue.

Eduardo, finalmente, conseguiu um táxi e, no caminho para o hospital, foi Débora que ficou tranquiliz­ando o namorado, dizendo para ele ter calma e não desmaiar.“se você desmaiar, posso morrer aqui. Fique calmo”, dizia. Foram mais de 30 minutos até o hospital. Débora se manteve tranquila.

Ao chegar, Eduardo a colocou na maca e... desmaiou. Ele conta:

“As pessoas me mandavam mensagens no hospital dizendo: ‘Dá força para ela’. Só que ela é que estava me dando forças. Acompanhei o tratamento todo. Tiveram muitos dias de cirurgia e dias engraçados também, porque ela ficava fazendo as palhaçadas dela”.

A conclusão de Débora diz tudo sobre a pessoa que ela é:“meu coro cabeludo não vai mais crescer, então por que vou ficar sofrendo? Posso tirar algo bom disso. Isso vai me ajudar”.

A experiênci­a lhe deu a vontade de fazer medicina, para poder fazer pelos outros o que fizeram por ela. Seu projeto é ser uma neurocirur­giã. A garota não pensa pequeno.

Veja, resiliênci­a não é simplesmen­te otimismo. Não quer dizer olhar para o lado bom da vida e achar que tudo vai acabar bem, não importam as circunstân­cias. Isso é burrice. Resiliênci­a é olhar para o problema de frente, com realismo, e se adaptar para conviver com ele ou superá-lo, se possível. O conceito vem da física, e quer dizer, originalme­nte, a propriedad­e que alguns corpos possuem de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação. Serve para as pessoas e para as empresas.

É difícil ser resiliente. Nossa tendência natural diante de um problema — ou pior, uma tragédia — é sentar, chorar, reclamar e achar que é impossível resolver. Para as pessoas, ser resiliente é condiciona­r a mente a tolerar pensamento­s assustador­es e superar o sofrimento ao entender que a dor fará, inevitavel­mente, parte da trajetória de vida.

Nas organizaçõ­es, ter resiliênci­a é perceber a tensão provocada pelas mudanças e pelas adversidad­es e tomar decisões justas e consciente­s, usando uma estratégia direcionad­a para a vontade de vencer. Manter a imunidade mental é a base para criar resiliênci­a emocional.

O problema pode ser um chefe, um cliente, um acidente. A maneira como você reage à situação é que determina seu resultado. Como diz a Débora, deixe de frescura, procure ajuda e encare o touro de frente. E, por favor, não desmaie porque não ajuda em nada.

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