Meiahora - RJ

Inocentes pagam preço

Lideranças comunitári­as lamentam mortes do povo de favela por balas perdidas em operações

- LEONARDO ROCHA

Um novo ano se iniciou,chamando a atenção para antigos problemas do Estado do Rio.Em apenas 15 dias de 2021 já foram registrada­s duas mortes de moradores de comunidade­s por bala perdida, dentre elas uma criança. Triste realidade, com a qual a população marginaliz­ada não aceita conviver.

“O primeiro a morrer é preto, pobre e favelado. Por mais que a gente não queira, essa é a nossa realidade”, desabafa Gisela Lipes, de 60 anos, que esteve à frente das passeatas em protestos pela morte deumhomem,identifica­docomo Marcelo Guimarães, de 38 anos, no dia 4 de janeiro, na Cidade de Deus, Zona Oeste da cidade.

Segundo informaçõe­s,ele estava de moto e voltava para pegar o celular em casa quando foi atingido por um disparo de fuzil.Um vídeo feito por um morador mostra o momento em que policiais saem do local com o veículo blindado, em alta velocidade. “Já teve caso de filho meu, com 16 anos, estar sentado na minha frente, tomando tapa na cabeça de policial. Isso nunca vai acabar! O policial é certo da impunidade dele.Sou mãe e me preocupo. Moro na CDD há 50 anos, eu nuca tive tanta vontade de sair daqui. O desrespeit­o tá muito grande. Sempre existiu, mas agora está fora de controle, respingand­o nos inocentes”, diz Gisela, que é voluntária no projeto Frente CDD.“É preciso preparar o polícia, ter um pouco mais de educação. Não adianta chegar matando e achar que vai resolver o problema”.

No outro caso, desconheci­dos, irresponsá­veis, acabaram tirando a vida da pequena Alice Pamplona da Silva, de 5 anos, moradora do Morro do Turano, no Rio Comprido. Ela foi atingida no pescoço por uma bala perdida, na virada do ano. Um choque para a comunidade. Na época, a polícia disse que não havia operação no local.

“O povo da favela é visto como embuste! Essa é a real. Ainda somos vistos como carentes, sujos e propensos a qualquer delito. É como se a gente existisse para fora de uma bolha padrão da sociedade. Quantas mães pretas e da favela hoje estão chorando?”, questiona Ana Muza, ativista no Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na Zona Sul.

EM 15 DIAS DE 2021, DUAS PESSOAS FORAM MORTAS POR BALA PERDIDA

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dia, quando a pessoa de bem está na rua, não pode
dar certo”
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ARQUIVO PESSOAL “As operações policiais não são operações, são opressões. Uma polícia que combate o tráfico ao meio dia, quando a pessoa de bem está na rua, não pode dar certo” JULIO CESAR LIMA Jacarezinh­o
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de casa”
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ARQUIVO PESSOAL “A realidade dentro da favela é outra. A gente teme esse Estado genocida. Sabe que pode ser alvo dentro e fora de casa” ANA MUZA Pavão-Pavãozinho
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Por mais que a gente não queira, essa é a nossa
realidade”
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ARQUIVO PESSOAL “O primeiro a morrer é preto, pobre e favelado. Por mais que a gente não queira, essa é a nossa realidade” GISELA LOPES Cidade de Deus
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