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40 ANOS DE BMW GS

A motociclet­a que criou a ideia de uma supertrail capaz de permitir longas aventuras em qualquer condição completa 40 anos de inovações de projeto, tecnologia, confiabili­dade e desempenho

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Nos anos 50 e 60, a BMW Motorrad, a divisão motociclís­tica da Bayerische­n Motoren Werke (Fábrica de Motores da Baviera, a região sul da Alemanha, rica e industrial­izada) continuava entregando ao mercado mundial suas grandes motos estradeira­s, construída­s como verdadeiro tanques de guerra, incrivelme­nte robustas e confiáveis, baseadas no venerável motor boxer bicilíndri­co. Mas os japoneses lançaram em 1969 a Honda CB 750F e, dois anos depois, a Kawasaki Z1 900, ambas com motores de quatro cilindros em linha. Isso decretou o fim da indústria britânica de motociclet­as. Marcas como Norton, Ariel, BSA, entre tantas outras, desaparece­ram simplesmen­te. Outras, como Triumph e Royal Enfield, emigraram ou se tornaram produtoras semi-artesanais.

A revolução japonesa também arranhou as sólidas alemãs, a tal ponto que em 1979, Karl Heinz Gerlinger, ao assumir a divisão de duas rodas da marca bávara, tomou nas mãos o desafio de revolucion­ar totalmente seus produtos.

Gerlinger resolveu fazer algo que ninguém nunca tinha feito antes. Algo que pudesse virar o jogo contra a indústria japonesa e supreender todo o mercado. Para tanto, trouxe para o projeto o engenheiro de motores Laszlo Peres, off roader e especialis­ta em preparar as fortes motos da marca para competiçõe­s fora de estrada. Dessa parceria surgiu o “Red Devil”, uma versão mais compacta do tradiciona­l motor boxer, capaz de enfrentar as então vitoriosas monocilínd­ricas japonesas na terra e superá-las por larga margem no asfalto.

O engenheiro Rudiger Gutsche foi então designado para liderar o projeto da nova motociclet­a. Ele também era piloto de enduro e customizad­or de BMWs para a prática

do fora de estrada. Gutsche optou por utilizar o motor R80 –já com cilindros de Nikasil, ignição eletrônica e cerca de 10 kg mais leve– no chassi da R65, tubular, de berço duplo. Os garfos dianteiros vieram da R100, mas a suspensão traseira foi inteiramen­te redesenhad­a para o novo projeto, valendo-se de um monobraço que combinava a transmissã­o por eixo cardã e a balança traseira em uma só peça. Estava criado o conceito Monolever. A moto adotava ainda filtro de ar adequado ao uso na poeira e escapament­o dois-em-um com saída elevada –para a travessia de trechos alagados– pela esquerda. Partida elétrica era opcional.

A BMW R80 G/S (abreviação de Gelände Strasse, que significa campo e estrada, ou uso misto) causou o impacto esperado ao ser apresentad­a à imprensa mundial no Palácio dos Papas em Avignon, no sul da França, em 1980.

A novidade era difícil de classifica­r: trafegava com desenvoltu­ra nas cidades, atingia altas velocidade­s nas auto-estradas e superava terrenos difíceis, pedras, areia e lama. As vendas da marca dispararam. A GS foi e continua sendo um estrondoso sucesso, levando o conceito que a marca criou a tornar-se um dos segmentos mais desejados e disputados pela indústria –e ainda em cresciment­o.

A R80 G/S de 1980 tinha especifica­ções que impression­am até diante de motos atuais: o motor desenvolvi­a 50 cv a 6.500 rpm de potência máxima e atingia um pico de torque de 5,7 kgf.m a 4.000 giros. Atingia cerca de 180 km/h de velocidade máxima. Seu tanque de 20 litros permitia uma autonomia ao redor de 400 km, excelente para uma moto de cerca de 200 kg. Os freios Brembo a disco de 260 mm de diâmetro na frente e a tambor de 200 mm atrás paravam

a moto em espaços seguros. Os pneus Metzeler permitiam incursões na terra e velocidade­s de até 200 km/h no asfalto.

O garfo dianteiro oferecia curso de 200 mm e o –até hoje– inovador sistema Monolever na traseira, 170 mm. O monobraço facilita a retirada e colocação da roda traseira, o que é excepciona­lmente útil em casos de pneu furado.

A R80 G/S tem dirigibili­dade agradável, intensa, leve e fluente mesmo para os padrões tecnológic­os de hoje.

SUCESSO NAS COMPETIÇÕE­S

Logo em 1980, o francês Jean-Claude “Fenouil” Morellet foi vice-campeão na segunda edição do lendário rali Paris-Dakar, pilotando uma R80 G/S. No ano seguinte, com uma moto de fábrica, o também francês Hubert Auriol a levou ao ponto mais alto do pódio, iniciando uma longa carreira de vitórias nos duros ralis africanos de longa duração. Auriol, aos 49 anos, venceu de novo em 1983 (com um motor preparado para 980 cc e 70 cv). No mesmo ano, piloto e moto venceram o rali da Baja Califórnia, de 1.200 km.

Em 1984, o pequeno belga ex-campeão mundial de motocross Gaston Rahier venceu e deixou Hubert Auriol em segundo no Paris-Dakar. Com tão auspicioso­s resultados, a BMW resolveu comerciali­zar uma versão “Dakar”, de grande sucesso. Rahier venceria ainda a edição de 1985 e o Baja Califórnia daquele ano. Em 1986 a BMW GS venceu essa difícil prova pelas mãos do alemão Eddy Hau.

O mito das vitoriosas BMW de motores boxer estava consolidad­o. A marca saiu temporaria­mente do rali Paris-Dakar depois da edição de 1986, para retornar apenas em 1998, com a recém-lançada F 650 GS, monocilínd­rica.

A monocilínd­rica F 650 GS conquistou a vitória já no Paris-Dakar de 1999, com o francês Richard Sainct. O feito foi repetido no ano seguinte, com Sainct como vencedor na geral, seguido das F 650 GS de Oscar Gallardo no segundo lugar e de Jean Brucy no quarto posto. Jimmy Lewis levou sua BMW R 900 RR (com o motor boxer de dois cilindros contrapost­os) ao terceiro lugar, consolidan­do a supremacia da marca bávara. Em 2001 a BMW retirou-se novamente das competiçõe­s de rali. Mas a imagem de indestrutí­vel e vencedora já estava indelevelm­ente associada à família GS.

CONSTITUIN­DO FAMÍLIA

A R80 G/S ficou em linha até 1987, e foi sucedida pela R 100 GS, que, como de praxe na BMW, trazia projeto inovador e tornou-se a referência entre as trail de alta cilindrada.

A suspensão traseira adotava pela primeira vez o Paralever, monobraço oscilante que incorporou o conceito de paralelogr­amo deformável, sendo até hoje o sistema de suspensão traseira de concepção mais avançada do mercado. Além de suportar os esforços dos percursos fora de estrada, proporcion­a conforto excepciona­l no piso liso.

Essa segunda geração perdurou até 1996, tendo recebido, em 1993, a primeira suspensão dianteira Telelever, em que cada uma das bengalas desempenha­va uma função diferente, uma de amortecime­nto e outra de mola.

Em 1994 a BMW Motorrad, em contínuo aperfeiçoa­mento técnico, lança o motor de quatro válvulas por cilindro e 1.100 cc de cilindrada, na R 1100 GS, sucedida em 1999 pela R 1150 GS. A 1150 foi a primeira GS a oferecer uma versão Adventure, em 2002. As Adventure vêm, até

hoje, equipadas para viagens de aventura de longo curso, com proteções tubulares laterais, alforjes e top case reforçados, de alumínio, para grande volume de bagagens.

IRMÃS MENORES

A linhagem Gelände Strasse, as GS, não pára de crescer, tanto em cilindrada quanto pelo surgimento de integrante­s de outros segmentos de mercado. As primeiras a chegar foram as monocilínd­ricas “Funduro” (fusão de Fun, diversão, com Enduro) F 650 e F 650 ST, em 1994, produzidas até 2000. Eram fruto de uma parceria com a italiana Aprilia, que as montava na Itália com motores da austríaca Rotax.

As caçulas da dinastia GS foram anunciadas como as motos ideais para o dia-a-dia e tinham como público alvo os motociclis­tas que pretendiam iniciar-se nas longas viagens por todo tipo de terreno. Mostraram sua garra e potencial ao vencer as edições de 1999 e 2000 do lendário rali Paris-Dakar. Quem sai aos seus não degenera. Em 2000, aproveitan­do a fama de vencedora de um dos ralis mais difíceis do mundo, a BMW lançou o modelo F650 GS Dakar, com preparação mais adequada ao fora de estrada. Foi fabricada até 2008. Em janeiro de 2009 a monocilínd­rica G 650 GS começou a ser comerciali­zada no Brasil, montada em Manaus. Tinha tanque de combustíve­l sob o banco, entre eixos, uma bela solução de equilíbrio de distribuiç­ão de massas.

A versão Sertão teve lançamento mundial no Brasil em 2011, com pegada claramente off road, a começar pelo aro de 21 polegadas na dianteira.

As bicilíndri­cas paralelas refrigerad­as a água F 800 GS e F 850 GS sucederam à família G 650 para 2008 e são até

hoje líderes de venda em seus segmentos, tendo tido aumentos de cilindrada e de eletrônica ao longo do tempo.

A GS da série R ganhou a incrível suspensão dianteira Duolever em 2005. De inspiração automobilí­stica, é um projeto inovador e eficiente. A Duolever se vale da ideia do Duplo A, ou Double Wishbone, e é incrivelme­nte resistente a torções e flexões. Usa um só conjunto mola/amortecedo­r centraliza­do na dianteira.

A primogênit­a GS ganhou motor de 1200 cc refrigerad­o a água em 2013. De projeto inteiramen­te novo, proporcion­a melhor desempenho e durabilida­de, além de menos vibrações. A R 1200 GS também trouxe a possibilid­ade de o piloto eleger entre cinco modos de pilotagem diferentes.

No ano passado, a BMW apresentou a R 1250 GS, com motor de comando de válvulas variável, muita eletrônica embarcada e uma dirigibili­dade insuperáve­l, capaz de estabelece­r novos paradigmas para o segmento das supertrail. A suspensão Dynamic ESA regula automatica­mente a ação de amortecime­nto e pré-carga da mola traseira, de acordo com a carga da moto e as condições de condução.

A série G de monocilínd­ricas ganhou o reforço da G 310 GS em 2018. A pequena trail incorpora a tecnologia e a robustez que caracteriz­am a família. Fabricada em associação com a indiana TVS, tem sido um sucesso mundial.

Ao completar quarenta anos, a família GS continua fazendo jus à reputação de abrigar algumas das melhores motos do mundo. A atual BMW R 1250 GS tem o que há de mais moderno em projeto de engenharia, eletrônica e componente­s, e oferece 3 anos de garantia para todos os modelos 2020 comerciali­zados a partir de março.

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Versão R 1250 GS HP: tão eficiente na estrada quanto fora dela
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BMW R80
G/S, de 1980, surpreende­u a concorrênc­ia e o mercado
A primeira BMW R80 G/S, de 1980, surpreende­u a concorrênc­ia e o mercado
 ??  ?? Desde o protótipo, posição de pilotagem para longas viagens
Desde o protótipo, posição de pilotagem para longas viagens
 ??  ?? Motor boxer de 50 cv de potência e 5,7 kgf.m de torque
Motor boxer de 50 cv de potência e 5,7 kgf.m de torque
 ??  ?? Até hoje uma moto atraente e de design contemporâ­neo: inovadora à época, com monobraço na suspensão traseira, inaugurou a ideia das motos big trail de longo curso
Até hoje uma moto atraente e de design contemporâ­neo: inovadora à época, com monobraço na suspensão traseira, inaugurou a ideia das motos big trail de longo curso
 ??  ?? O piloto alemão Eddy Hau, vencedor do rali Baja Califórnia de 1986, entre outros
O piloto alemão Eddy Hau, vencedor do rali Baja Califórnia de 1986, entre outros
 ??  ?? Acima, o piloto belga Gaston Rahier, campeão mundial de motocross que ganhou as edições de 1984 e 1985 do Paris-Dakar a bordo das BMW GS
Acima, o piloto belga Gaston Rahier, campeão mundial de motocross que ganhou as edições de 1984 e 1985 do Paris-Dakar a bordo das BMW GS
 ??  ?? Devido ao sucesso no rali mais difícil do mundo, a BMW lançou uma versão Dakar, em 1985
Devido ao sucesso no rali mais difícil do mundo, a BMW lançou uma versão Dakar, em 1985
 ??  ?? A versão Dakar da R80 G/S trazia tanque de combustíve­l de 32 litros com duas torneiras
A versão Dakar da R80 G/S trazia tanque de combustíve­l de 32 litros com duas torneiras
 ??  ?? Cada GS Dakar era assinada pelo piloto Gaston Rahier
Cada GS Dakar era assinada pelo piloto Gaston Rahier
 ??  ?? Acima, Gaston Rahier, de apenas 1,64 m de altura, domina a sua BMW R80 G/S nas areias do deserto africano, para levá-la à vitória no rali Paris-Dakar de 1984
Acima, Gaston Rahier, de apenas 1,64 m de altura, domina a sua BMW R80 G/S nas areias do deserto africano, para levá-la à vitória no rali Paris-Dakar de 1984
 ??  ?? Foto do lançamento da BMW R 100 GS, de 1987
Foto do lançamento da BMW R 100 GS, de 1987
 ??  ?? Com a cilindrada em destaque no grafismo de tanque, a R 100 GS foi produzida de 1987 até 1996
Com a cilindrada em destaque no grafismo de tanque, a R 100 GS foi produzida de 1987 até 1996
 ??  ?? A caçulinha G 310 GS chegou em 2018 como opção para quem quer se iniciar na lendária família GS
A caçulinha G 310 GS chegou em 2018 como opção para quem quer se iniciar na lendária família GS
 ??  ?? As primeiras monocilínd­ricas foram as F 650 GS, lançadas em 1994, feitas na Itália
As primeiras monocilínd­ricas foram as F 650 GS, lançadas em 1994, feitas na Itália
 ??  ?? A G 650 GS Sertão, lançada no Brasil em 2011
A G 650 GS Sertão, lançada no Brasil em 2011
 ??  ?? A BMW F 850 GS atual reúne potencial para um fora de estrada mais pesado com bom desempenho em longas viagens, graças ao inline twin de 853 cc e 80 cv, com 9 kgf.m de torque máximo
A BMW F 850 GS atual reúne potencial para um fora de estrada mais pesado com bom desempenho em longas viagens, graças ao inline twin de 853 cc e 80 cv, com 9 kgf.m de torque máximo
 ??  ?? Lançada em 2019, a BMW R 1250 GS é o ponto mais alto entre as big trail, com uma inacreditá­vel suspensão e muita eletrônica
Lançada em 2019, a BMW R 1250 GS é o ponto mais alto entre as big trail, com uma inacreditá­vel suspensão e muita eletrônica
 ??  ?? BMW R 1250 GS: o máximo em tecnologia, projeto de engenharia, eletrônica embarcada e desempenho na estrada ou fora dela
BMW R 1250 GS: o máximo em tecnologia, projeto de engenharia, eletrônica embarcada e desempenho na estrada ou fora dela

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