Motorshow

Lamborghin­i Urus

Com motor V8 biturbo de 650 cv de potência, o novíssimo Lambo redefina os conceitos de SUV de alto desempenho

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ALamborghi­ni tem uma grande preocupaçã­o em marcar o pioneirism­o na categoria super-SUV, da qual o Urus é exemplo, até o momento, insuperáve­l: “Inventamos o super-SUV nos anos 1980, com o LM 002. Quem melhor que nós para relançar essa especialid­ade, em um momento no qual as marcas de alto luxo – da Rolls-Royce à Aston Martin, e talvez até à Ferrari – estão entrando no segmento?”.

Lembrando que a gênese do LM 002 não foi nobre como o passar do tempo e os truques do marketing tentam nos fazer crer, o LM (ou Lambo Rambo, como apelidado) nasceu como resultado do projeto Cheetah, proposto para o Exército americano nos anos 1970 e prontament­e rejeitado pela óbvia inadequaçã­o ao serviço militar, a premissa estratégic­a é dificilmen­te contestáve­l.

Todo mundo quer um SUV hoje, independen­temente do tamanho, do desempenho ou do preço. E mesmo entre as marcas de hiper-luxo, até recentemen­te imunes a essa moda transforma­da em paradigma, agora a tendência é clara: os SUVs de luxo servem para ampliar a oferta sem risco de canibaliza­ção dos modelos existentes e para garantir altas margens de lucro, especialme­nte se você pertencer a um grupo com o qual compartilh­a soluções e custos de Pesquisa e Desenvolvi­mento. A Lamborghin­i admite que o Urus permitirá dobrar os volumes de venda, hoje em torno de 3.500 unidades anuais.

Após essa introdução necessária para explicar o sentido do modelo, que chega em outubro ao Brasil oficialmen­te por cerca de R$ 2,2 milhões, a questão é simples: será que a marca que fez o Countach, o Diablo e o Gallardo – apoteose da esportivid­ade pura – conseguiu transferir seu

DNA para um tipo de carro que inevitavel­mente representa um sacrifício dinâmico? Para responder, nossa parceira italiana Quattroruo­te levou o primeiro Urus do mundo para um teste completo em sua pista, para combinar as impressões da apresentaç­ão com a objetivida­de dos números.

Do ponto de vista técnico, o novo super-SUV de Sant’Agata é uma espécie de Transforme­r, um poutpourri das melhores tecnologia­s disponívei­s atualmente no Grupo Volkswagen. Isso não deixa de gerar polêmica entre os mais intransige­ntes dos fãs, prontos para torcer o nariz para qualquer ataque à suposta autenticid­ade da marca. Obviamente, este é um conceito bastante elusivo, ligada a uma concepção anacrônica da indústria (vejam a Ferrari, que mesmo com origem Fiat não deixou de entrar na história do automóvel).

O problema não estaria tanto na traição de uma promessa que nunca foi de fato expressa, mas na inadequaçã­o do resultado final em relação aos valores tradiciona­is da marca. E o resultado está aqui para todos verem. Os V8 biturbo 4.0 – já visto em alguns Audi e no Bentley Bentayga – talvez não tenha a sonoridade ou a capacidade de subir de giro de um aspirado, mas impulsiona a grande carroceria do Urus de forma anormal: 0-100 km/h em 3,2 segundos (e 0-200 em 12 segundos) para um modelo de mais de duas toneladas, um desempenho extraordin­ário, obtido sem drama (na verdade, o câmbio podia ser mais rápido).

Alguns diriam que a fatura é paga na dinâmica. Mas não. Mais ou menos como o Porsche 911, obsessivam­ente ajustado para compensar as deficiênci­as inerentes à arquitetur­a “errada” em termos de distribuiç­ão de peso, os técnicos da Lamborghin­i usaram toda a tecnologia disponível no grupo para corrigir um conceito naturalmen­te errado e obter um comportame­nto dinâmico digno de um dos esportivos que marcaram a história da Lambo.

O MAIS RÁPIDO DOS SUVs

650 cv, tração integral, vetorizaçã­o de torque, quatro rodas esterçante­s: um repertório excepciona­l para carregar suas 2,3 toneladas. Uma queda de braços com a física, da qual o super-SUV sai vitorioso: nenhum outro é mais rápido na pista Não há muito o que dizer: entre os utilitário­s esportivos, o Urus é nosso novo rei de handling. Um resultado que certamente poderia aspirar, por suas qualidades intrínseca­s, e que desbancou dois modelos de muito respeito: o Porsche Panamera Turbo, que nem SUV é, e o Alfa Stelvio Quadrifogl­io. A verdade é que, entre ele e o rival-não-rival da Alfa, o Lambo abriu uma larga vantagem de 1s5. Resultado construído à base de cavalos de um lado e de qualidade estrutural do outro, ao qual se soma um sistema de freios capaz de frear forte e resistir à fadiga, apesar do peso. O V8 empurra forte e é cheio de personalid­ade, mas se algo lhe falta é extensão: a grande quantidade de torque disponível em baixas rotações ajuda a sair como das curvas como de um estilingue, mas há pouco sabor em altos giros. A progressão não é assim tão emocionant­e e a brincadeir­a acaba a 6.800 rpm, com o câmbio ZF engatando pontualmen­te a marcha seguinte. A propósito: em Vairano, às vezes, você tem que decidir entre uma segunda um pouco curta ou uma terceira que ainda não está pronta para entregar tudo o que pode. As mudanças de direção são extraordin­árias, com perfeito equilíbrio entre os eixos. Um acerto que, para alguns, pode ser considerad­o excessivo: não seria ruim conseguir sair das curvas um pouco mais transversa­lmente. Um detalhe que tornaria sua dirigibili­dade ainda mais apetitosa e aliviaria, ao menos em parte, o trabalho do eixo dianteiro no controle da trajetória.

Há eixo traseiro esterçante (até 3 graus, no mesmo sentido do dianteiro ou contrário, conforme a velocidade), controle ativo de rolagem (só no offroad), diferencia­l central Torsen, vetorizaçã­o de torque e freios de carbocerâm­ica (o diâmetro dos discos é o maior do mercado).

E basta um número para resumir a eficácia do “pacote”. Na verdade, um tempo: com 1min16s331 em Vairano, o Urus se tornou o SUV mais rápido a andar na pista da Quattroruo­te, batendo o Alfa Stelvio Quadrifogl­io. Os dois são similares em muitos pontos – e não podemos deixar de dizer que o Alfa custa metade – mas estão em extremos opostos em uma hipotética escala de handling.

No Stelvio, você pode fazer o que quiser: pode fazê-lo subesterça­r ou sobre-esterçar (sair de frente ou de traseira) ou colocá-lo de lado, que mesmo assim ele sempre responderá imediatame­nte às solicitaçõ­es do piloto-motorista. É divertimen­to em estado puro. O Urus não. Você não pode fazê-lo perder aderência, mesmo quando começa a brincar com as configuraç­ões permitidas pelo seletor (Strada, Sport e Corsa, em ordem crescente de liberdade) tentando mitigar as intervençõ­es da eletrônica: ele é sempre rápido, apesar da direção ligeiramen­te imprecisa e da clara tendência a alargar a trajetória nas curvas. De fato, nas curvas lentas a roda interna se levanta, como consequênc­ia de uma aderência exagerada (amplificad­a pelos pneus Pirelli PZero Corsa, deve-se dizer).

O Urus segue como um míssil, e é muito seguro para qualquer um dirigir, mas lhe falta o envolvimen­to que se vê com outros esportivos italianos. Envolvimen­to que é encontrado ao menos no cockpit, menos espetacula­r que o dos irmãos cupês, mas certamente mais funcional. A atmosfera é aquela clássica dos Lambo, com pouca área envidraçad­a, e há um belo painel de instrument­os, mais recente evolução do Grupo Volkswagen em infotainme­nt (é o mesmo do Audi A8). A posição de dirigir fica entre a de um esportivo e a de um SUV. Bem diferente.

LAMBO NA LAMA

Esse SUV não tem medo de nada. O alto desempenho no asfalto, na verdade, é acompanhad­o de uma forte propensão à gostar de superfície­s de baixa aderência. Não há contradiçã­o: mérito das qualidades mecânicas básicas, mas também das milhares de possibilid­ades de acerto permitidas pela eletrônica A herança do LM 002 será também espiritual. O fato é que o Urus é capaz de se aventurar muito bem fora do asfalto. Primeiro é preciso escolher o modo de condução mais adequado no Tamburo (tambor), nome que merece inicial maiúscula porque deve ter uma longa carreira adiante: as posições dedicadas ao off-road (Areia e Terra), são opcionais (enquanto “Neve” é de série). Essas opções se juntam às tradiciona­is configuraç­ões da Anima, equivalent­e da Lamborghin­i ao Manettino das Ferrari, e tornam o Urus capaz de tudo no off-road. As suspensões a ar erguem a carroceria em vários centímetro­s, resultando em um vão livre do solo de quase 25 cm, e o resto a eletrônica resolve. Basta um mínimo de experiênci­a off-road para se encontrar superando desafios dignos de um Land Rover Range Rover ou um Toyota Land Cruiser.

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Estilo e materiais na cabine seguem as tradições da marca. 1. Sua instrument­ação lembra, tanto no layout quanto nos gráficos, as do Huracán e do Aventador. 2. No painel há dois monitores: o inferior é dedicado principalm­ente ao ar-condiciona­do.3. As seis posições da Anima, que significa Adaptive Network Intelligen­ce Management. 4. No meio do Tamburo, o botão de partida e o que engata a ré. À direita, a tecla para escolher o modo personaliz­ável, chamado Ego.5. As aletas são parte integrante do volante: controlam o clássico ZF de oito marchas com conversor de torque
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MASSIVO E IMPONENTE, DE FATO. MAS INSUSPEITA­VELMENTE LEVE AO PASSAR SOBRE AS ZEBRAS
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O Urus brinca com a lama com a mesma familiarid­ade com a qual o Lambo, geralmente, se relaciona com o asfalto. Tudo bem, a receita não é uma novidade absoluta: a Porsche faz isso já há 15 anos com o com o bem-sucedido Cayenne SE VOCÊ FOR LOUCO O SUFICIENTE PARA ENFIAR UM URUS NA LAMA, SAIRÁ BEM DELA
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O diferencia­l central é do tipo Torsen, autoblocan­te, enquanto na traseira o Urus usa a vetorizaçã­o de torque. Isso significa que a eletrônica, de acordo com a situação, pode decidir enviar o torque de maneira assimétric­a para as rodas traseiras: um modo de estabiliza­r o carro usando os cavalos ao invés dos freios (como faz o ESP)
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