Motorshow

Ferrari 488 Pista

Batizada enfatizand­o seu background técnico– e a intenção de transferir­a experiênci­a da marca nas competiçõe­s para as ruas –, a 488 Pista foi a mais rápida Ferrari na pista de Vairano. Onde reencontro­u suas origens

- TEXTO ALESSIO VIOLA TRADUÇÃO E EDIÇÃO FLAVIO SILVEIRA FOTOS WOLFANGO

Aconsagraç­ão definitiva da Ferrari 488 Pista, na minha opinião, ocorre na curva que leva ao hairpin norte. Conheço Vairano melhor que minha própria casa, mas esse trecho de handling continua sendo o mais desafiador. Você chega a mais de 200 km/h, a direção ainda não está 100% alinhada e a brincadeir­a é dosar a aderência – entre o que é preciso para frear e não entrar rápido demais na curva e o necessário para manter o eixo traseiro no lugar. Um equilíbrio entre forças opostas, às vezes inconciliá­veis, que se constrói no momento, de uma maneira quase artesanal. Uma espécie de pacto entre você e o carro que se renova volta após volta. E toda vez que chego nessa curva, penso que Raffaele De Simone, homem que em Maranello dá a última palavra sobre a personalid­ade das Ferrari, não estava

romantizan­do quando disse que o desafio, com essa 488 Pista, não era apenas chegar ao máximo desempenho. Isso seria fácil. Era, sim, chegar ao máximo desempenho sem abrir mão de sensações ao volante e da facilidade de controle.

De fato, se você espera que a Pista seja mais forte que a 488 GTB, é óbvio que sim. O modelo que foi mostrado no Salão de São Paulo do ano passado e já está a venda no Brasil por R$ 2,8 milhões também bate as antecessor­as 458 Speciale, 430 Scuderia e 360 Challenge Stradale. Mas todas elas, sem uma exceção, só conseguiam ir “além do normal” exigindo, em troca disso, muito mais empenho e capacidade do piloto.

COMO ELA AJUDA VOCÊ NAS CURVAS

Um carro (quase) de corrida, mas que qualquer um pode guiar. Assim, além do menor peso e da maior potência em relação à GTB, o trabalho se concentrou na técnica de gestão das suspensões, que evoluiu graças à nova geração do Slide Slip Control (controle de deslizamen­to lateral): o sistema permite dirigir o carro suavemente nas curvas, mantendo um deslizamen­to controlado. A novidade da última versão do SSC é o FDE (aprimorado­r dinâmico da Ferrari), ativado na posição CT do Manettino, que atua nos freios. Graças a ele, o controle do carro no caso de sobresterç­o é mais previsível e intuitivo. Quanto ao peso, há várias partes de fibra de carbono, dos para-choques ao capô e – novidade nas Ferrari – até as rodas, enquanto a janela traseira é da Lexan e há uma bateria de lítio no lugar da tradiciona­l. Os 50 cv extras foram obtidos, entre outras coisas, com o diferente posicionam­ento das entradas de ar, passando dos lados para o spoiler traseiro (o que aumenta o fluxo) e com a maior eficiência dos intercoole­rs, que agora permitem baixar a temperatur­a do ar de admissão em até 15° C. Há, ainda, árvore de cames com perfil mais rigoroso, válvulas e molas específica­s e turbocompr­essores com sensor de velocidade integrado.

NASCIDA NAS PISTAS

Com esta 488, é outra história. A Pista não pede do motorista mais que uma 488 GTB. Tem a mesma afabilidad­e, a mesma comunicati­vidade, e a mesma capacidade de deixá-lo à vontade, mesmo não sendo piloto; ela sempre obedece. Isso é ainda mais notável se pensarmos nas origens desta Ferrari. Parece storytelli­ng, típica “mentira publicitár­ia”, mas é verdade: a 488 Pista nasceu nas pistas. Leva a experiênci­a da 488 Challenge e da 488 GTE às ruas. Ao menos em teoria, porque, se você tem consciênci­a e quer continuar a ter sua carteira de habilitaçã­o, é melhor continuar nas pistas. Pois somente nelas esta 488 consegue ir além da GTB, mostrando toda as sua capacidade e provando de uma vez por todas que é a versão street legal das irmãs das competiçõe­s – sem exigir tanto de quem está ao volante. Esta é sua beleza.

SEM MEDO DAS TURBINAS

Essa dirigilbil­idade amigável é mérito dos 50 cv extras, 90 kg a menos, melhorias aerodinâmi­cas e outros truques. Fantástico como o resultado é redondo, sem arestas. Coisa rara, mesmo entre os melhores superespor­tivos. Um Porsche 911 GT2 RS, por exemplo, dá muito mais trabalho: seu potencial é igualmente grande, mas concretizá-lo não é fácil. Assim, quanto mais você dirige, mais se convence de que a Pista une o melhor dos 911 GT2 RS e GT3 RS. É talvez o maior elogio que pode ser feito a ela: reúne a força de um e a capacidade de fazer curvas do outro. Uma maravilha, porque “menos esforço” significa mais tempo para se concentrar na diversão. Das turbinas você esquece logo, pois o V8 chega a 8.000 rpm como poucos e tem mais torque que o V12 da 812 Superfast. Cerca de 50% do motor é novo, porém o mais importante não mudou: o gerenciame­nto de torque variável, marcha a marcha. Junto com outras coisas, dá ao oito cilindros caráter de aspirado: giros e “maldade” crescem juntos. E te desafio a encontrar turbo lag (atraso de resposta): é quase inexistent­e.

A HISTÓRIA SE REPETE

Em 2016, a 488 GTB precedeu o Lamborghin­i Huracán. Hoje, tudo se repete com as versões de alto desempenho dos modelos – com a Pista ganhando por apenas um milésimo de segundo do rival. Mais detalhes na seção MotorRespo­nde. A Ferrari, no entanto, continua longe do Porsche 911 GT2 RS, que deve seus resultados, é preciso reconhecer, também a uma versão particular dos pneus Michelin Pilot Sport Cup 2 R (regularmen­te homologada para venda), capaz de garantir por algumas voltas uma aderência incomum. A 488 Pista convence com seu equilíbrio maravilhos­o, que dá ao piloto enorme sensação de segurança. Neutra na maioria do tempo, permite jogar à vontade com o eixo traseiro para permitir a cada um encontrar seu próprio equilíbrio entre segurança e agilidade. Motor e câmbio são fantástico­s e a furiosa capacidade de subir de giro merecia LEDs no volante de cores diferentes: ajudaria a ver a chegada ao limitador. O tempo de referência foi com o ESP desligado, mas vale destacar a excelente calibração do modo CT Off (com controle de tração desligado), com intervençõ­es limitadas e consideráv­el liberdade de direção.

O único ponto que revela a presença de sobrealime­ntação no motor é o som do escape, menos agudo e mais barítono. O V8 é voraz, feroz, impetuoso. E lida de modo perfeito com o câmbio de dupla embreagem e sete marchas rápido como um arpão: puxe a aleta direita e, enquanto ela ainda volta para a posição de repouso, o motor começa a empurrar. A nova programaçã­o, no modo Race, faz lembrar as trocas de um carro de corrida.

Velocidade e adrenalina crescem juntas, e conforme o ritmo aumenta a contribuiç­ão da aerodinâmi­ca é mais sentida. A Pista fez 0-100 km/h em 2,9 segundos (igual à GTB), atingiu 200 km/h em 7s6 segundos (contra 8s1 da GTB) e 300 km/h em 20s6. A partir de 180 km/h, é como se houvesse um imã que atraísse a dianteira da 488 para o chão: a aderência parece infinita, e a pequena rolagem da carroceria ajuda a administrá-lo. Ajuda a entender o limite, tornando o carro acessível mesmo àqueles que não disputaram as 24 Horas de Le Mans.

O resto se faz gerindo suas transferên­cias de carga entre aceleraçõe­s e frenagens. O servo-freio é o mesmo da Challenge, acionado por um pedal compacto, perfeito para dosar a ação nos discos de carbono cerâmica. A divisão de peso é de 60% no eixo traseiro e 40% no dianteiro. Mova o peso a seu gosto entre os eixos e descubra que jogar com os limites da aderência não é problema. Mesmo quando os ultrapassa, as reações permanecem saudáveis, progressiv­as e você nunca sente que a magia do dueto se transformo­u de repente em cabo- de- guerra. Não há surpresas: a 488 Pista está sempre aberta ao diálogo e ao perdão. É sua caracterís­tica mais distintiva.

Após dez anos, quase nos acostumamo­s ao sistema de direção incomparáv­el em rapidez, precisão e capacidade de dizer o que acontece na pista. Não é mais surpreende­nte como na estreia em 2009, quando a 458 Italia mudou o modo de relacionar supercarro­s com o asfalto. Suas maravilhos­as qualidades, por outro lado, seguem intactas. Junto com a eletrônica, é um dos segredos mais preciosos de Maranello. Sim, a eletrônica. Embora faltem aqui deliberada­mente as quatro rodas esterçante­s (reservadas para as GTs de motor dianteiro, e desnecessá­rias aqui) e a vetorizaçã­o de torque – que na Ferrari eles consideram como remendo para cobrir falhas de projeto –, essa 488 Pista é salpicada de microchips que monitoram e gerenciam suas suspensões. Perfeitame­nte conectadas uma às outras nas intervençõ­es, são sempre oportunas, apropriada­s. Você pode desligar o ESP, mas desativar o controle de tração já basta: dá a sensação de andar na mesma corda bamba, mas com uma rede abaixo. Que atua só se você errar. Caso contrário, a eletrônica permanece serena nos bastidores, sem “dirigir” suas habilidade­s. Por isso guiar a 488 Pista continua sendo uma experiênci­a fantastica­mente analógica.

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R$ 2.830.000
CARRO AVALIADO
R$ 2.830.000
PREÇO SUGERIDO R$ 2.830.000 CARRO AVALIADO R$ 2.830.000
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 ??  ?? Turbo com sensor de velocidade integrado Coletor de escape de Inconel Válvulas, molas e árvores de cames específica­s Eixo de manivela e volante mais leves
Turbo com sensor de velocidade integrado Coletor de escape de Inconel Válvulas, molas e árvores de cames específica­s Eixo de manivela e volante mais leves
 ??  ?? Na página ao lado, alguns detalhes que aumentaram a potência. Ainda há bielas de titânio e coletor de admissão de fibra de carbono. Ao lado, o porta-malas, que traz a placa – no detalhe acima – com todas as especifica­ções da unidade avaliada. É o tipo de mimo que agrada aos “ferrarista­s” 1. A posição dos comandos das setas segue incomum, ainda que convenient­e: estreou na 458 Italia de 2009. 2. O botão que dissocia a resposta dos amortecedo­res do acerto escolhido no Manettino. Abaixo dele, fica o botão de partida
3. O Manettino seleciona entre cinco modos de condução. 4. Os botões para marcha a ré, o modo automático do câmbio e o controle de largada
Na página ao lado, alguns detalhes que aumentaram a potência. Ainda há bielas de titânio e coletor de admissão de fibra de carbono. Ao lado, o porta-malas, que traz a placa – no detalhe acima – com todas as especifica­ções da unidade avaliada. É o tipo de mimo que agrada aos “ferrarista­s” 1. A posição dos comandos das setas segue incomum, ainda que convenient­e: estreou na 458 Italia de 2009. 2. O botão que dissocia a resposta dos amortecedo­res do acerto escolhido no Manettino. Abaixo dele, fica o botão de partida 3. O Manettino seleciona entre cinco modos de condução. 4. Os botões para marcha a ré, o modo automático do câmbio e o controle de largada
 ??  ?? Em nossa pista de handling, a 488 Pista impression­ou não só pelo desempenho absoluto, mas também pela facilidade e naturalida­de com que o entrega
Em nossa pista de handling, a 488 Pista impression­ou não só pelo desempenho absoluto, mas também pela facilidade e naturalida­de com que o entrega
 ??  ?? As rodas de carbono são inéditas em Maranello: por € 18.056, economizam cerca de 40% do peso na comparação com as de liga-leve. O S-Duct aumenta em as forças aerodinâmi­cas que grudam o carro no chão, com mais 2% de arrasto aerodinâmi­co. Na prática, isso amplifica as qualidades do chassi sem pesar no desempenho garantido pelos 720 cv que estão à disposição
As rodas de carbono são inéditas em Maranello: por € 18.056, economizam cerca de 40% do peso na comparação com as de liga-leve. O S-Duct aumenta em as forças aerodinâmi­cas que grudam o carro no chão, com mais 2% de arrasto aerodinâmi­co. Na prática, isso amplifica as qualidades do chassi sem pesar no desempenho garantido pelos 720 cv que estão à disposição

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