Colocando a tração no seu devido lugar
Ao volante do Citroën Traction Avant, as vantagens da tração dianteira, mais uma inovação do modelo com monobloco e assoalho traseiro plano
ACitroën fez 100 anos e quem ganhou o presente fui eu. Editor da MOTOR SHOW, fui convidado pela marca para guiar um de seus modelos históricos, o famoso Traction Avant – “tração na frente”, para que não fala francês. Primeiro modelo fabricado em série com eixo dianteiro motriz, ainda inovou com sua construção com monobloco, e não mais sobre chassi, seus sistemas de freios e suspensões.
A maior vantagem do monobloco fica no conforto ao rodar, mas ajudou a ganhar mais espaço atrás, onde o sofá acomoda três com conforto, e o entre-eixos de 2,91 m garante bom espaço para as pernas. Mas deixo o banco traseiro e abro a porta dianteira, do tipo suicida (que se abre ao contrário), para assumir o volante. Dou partida, acelero para apagar a luz do dínamo e poder sair. Não fosse o ruído do motor, mal daria para sentir que o sedã está ligado – mérito do motor com coxins sobre molas helicoidais, inovação que reduz a vibração na cabine.
“Nunca reduza de segunda para primeira que pode quebrar o câmbio”, explica um dos colecionadores. Entro e me familiarizo com os poucos comandos. Procuro pelo cinto de segurança, não há. Piso na embreagem – pesadíssima – e engato a primeira usando a estranha alavanca que sai do painel (parece um rabo de vaca, e era seu apelido). Movimento-a rápido demais e arranhando o câmbio. Felizmente são só três velocidades, além da marcha a ré, então não terei que fazer muitas trocas.
Esse modelo de 1950 tem um quatro cilindros 1.9 de 46 cv, mais potente que o 1.3 de 32 cv de quando o modelo foi lançado (1934). Acelero e o carro responde com lentidão, mas o eixo da frente o puxa, decididamente, na direção apontada. Mérito da tração dianteira. Ainda no Parque do Ibirapuera, me acostumo com a direção lenta e pesada e com as trocas de marcha vagarosas.
Mas não estava preparado para sair do Parque. Não foi fácil cruzar várias faixas em meio ao trânsito pesado e aos ônibus mal educados, sem retrovisor esquerdo e com péssima visibilidade no interno. Seta? Nada. Para piorar, os freios hidráulicos precisam ser ativados com muita antecedência. Foram dois quilômetros, se muito, em torno do Obelisco e do Monumento às Bandeiras. Mesmo assim, uma deliciosa viagem no tempo.