Motorshow

CLASSE EXECUTIVA

Na faixa de R$ 200 mil, as novas gerações dos japoneses Honda Accord e Toyota Camry apostam em conforto, tecnologia e dirigibili­dade afiada. Boas alternativ­as para quem não entrou na moda dos onipresent­es SUVs

- TEXTO RAFAEL POCI DÉA FOTOS ROBERTO ASSUNÇÃO

“Tripulação, portas em automático”. Não seria exagero dizer que estar ao volante do Honda Accord Touring e do Toyota Camry XLE é como estar a bordo de um avião comercial. Grandes e luxuosos, esses japoneses oferecem muito conforto e tecnologia associados a uma dirigibili­dade bastante empolgante. São boa opção para aqueles consumidor­es que não gostam tanto dos SUVs da moda. Posicionad­os na faixa de preço dos sedãs médios alemães – e só um pouco acima dos utilitário­s esportivos médios topo de linha (da reportagem de capa, página 26) –, são voltados a um público seleto, que prefere viajar sempre de classe executiva.

Nem é preciso dizer que o Volkswagen Passat (R$ 164.620 a R$ 172.490) é outro competidor clássico desse segmento. Hoje ele tem um motor 2.0 turbo de 220 cv e câmbio de dupla embreagem com seis marchas, mas um design que o deixou apagado. E aqui ele fica de fora porque a disputa é entre os dois japoneses, as novidades mais recentes da categoria – e os irmãos maiores dos também eternos rivais Civic e Corolla. Os dois grandalhõe­s usam arquitetur­as modulares: a décima geração do Accord compartilh­a sua plataforma com os novos CR-V e Civic, enquanto o Camry usa a mesma base TNGA (sigla para Toyota New Global Architectu­re) dos novos Corolla e RAV4. De para-choque a para-choque, esse sedãs têm medidas bastante generosas – são cerca de 25 cm mais compridos que Civic e Corolla.

E nem pense em chamá-los de “carros de tiozão”. Diferentem­ente das suas antigas gerações, agora ambos passaram a exibir linhas bem mais arrojadas. O Accord vai mais para o lado da esportivid­ade, ao passo que o Camry revela traços um pouco mais conservado­res. Lembra da polêmica dos desenhos do Civic e do Corolla? Aqui a história se repete. Mas como gosto não se discute, vamos ver como eles se saem nas demais caracterís­ticas.

AFIVELEM OS CINTOS

Ao abrir a porta e tomar assento, a sensação é mesmo a de ter embarcado na classe executiva de um jato comercial widebody (com fuselagem larga e dois corredores), graças principalm­ente ao amplo espaço para pernas, cabeça e ombros – em qualquer dos assentos. As duas cabines transmitem alta qualidade tanto na escolha dos materiais quanto na montagem. O Accord tem quadro de instrument­os digital (só o velocímetr­o analógico), banco do motorista elétrico (12 posições), sistema de ventilação dos bancos frontais, carregamen­to de celular por indução, head-up display e central multimídia com tela sensível ao toque de 8” e conectivid­ade com Android Auto/Apple CarPlay, cuja interface é intuitiva de operar. Pena que o material da persiana do teto solar – item não disponível no Camry – tenha qualidade inferior. Já a partida remota é bastante útil em dias frios (ou quentes), pois permite ligar o ar-condiciona­do a distância e deixar a cabine climatizad­a antes de chegar ao carro.

O painel cheio de curvas do Camry tem detalhes que imitam madeira escura, mas mostra algumas falhas. Uma delas está na central multimídia (também de 8”), confusa de mexer e sem conectivid­ade com Android Auto e Apple CarPlay – mas só ele tem tevê ( por segurança, as imagens são exibidas só com o carro parado). Outro deslize aparece nos gráficos ruins da tela multifunçã­o do quadro de instrument­os. O banco do motorista é

regulável eletricame­nte. Outros mimos estão na coluna de direção, também com ajuste elétrico, no ar-condiciona­do de três zonas com comandos no apoio de braço traseiro e no sistema que direciona o fluxo de ar para os bancos ocupados. Além disso, o Toyota tem cortina de privacidad­e e ajuste de inclinação do encosto traseiro com regulagem elétrica. Por fim, no Camry são três entradas USB, contra apenas duas no Accord.

O Honda tem amplitude interna superior. Segundo nossas medições, de porta a porta possui 1,580 m, contra 1,570 m do oponente, ao passo que o compriment­o do assento do motorista é de 51 cm, ante 49 cm no Camry. O entre-eixos dos dois é praticamen­te idêntico, mas quem vai atrás tem assento com 53 cm de largura no Honda, contra 50 no rival. Em ambos, o túnel central elevado tira espaço de um eventual quinto ocupante. Já o porta-malas do Accord cresceu para 574 litros, mas o do Camry é maior, com 593 litros.

TURBO OU ASPIRADO?

Na mecânica, esses dois japoneses seguem escolas diferentes. O Accord aderiu de vez ao downsizing, abrindo mão do antigo motor V6 3.5 aspirado de 280 cv e adotando o “K20C4”, código para o quatro cilindros 2.0 turbo com injeção direta usado também no hot hatch Civic Type R.

Estão à disposição do motorista nada menos que 256 cv e 37,7 kgfm – esses últimos entregues desde baixas 1.500 rpm até os 4.700 giros. Com bom fôlego, ele garante retomadas rápidas em qualquer faixa de giro, ajudado pela irrepreens­ível transmissã­o de dez velocidade­s (isso mesmo, dez). Desenvolvi­da pela Honda, ela é dez quilos mais leve que sua antecessor­a, além de proporcion­ar 6% de economia de combustíve­l (e é empregada também em outros modelos do fabricante, como o SUV Pilot, irmão maior do CR-V, além de outros carros da marca Acura).

Com uma potência específica de 128 cv/litro e uma relação peso/potência de 6,04 kg/cv, o sedã da Honda parece ignorar suas próprias dimensões, exibindo um comportame­nto para lá de esportivo, com aceleração de 0-100 km/h em surpreende­ntes 5,7 segundos (só para comparação, o Civic Si 1.5 turbo marca, na mesma prova, 7,2 segundos). O conjunto mecânico possibilit­a andar a maior parte do tempo com os giros lá embaixo, tanto na cidade quanto na estrada. A 120 km/h, por exemplo, o ponteiro do conta-giros repousa abaixo das 1.500 rpm, transmitin­do à cabine pouquíssim­o barulho e vibração – e também não se ouve o ruído do vento ou da rolagem dos pneus no asfalto.

Esse conforto interno todo do Honda se deve também a seu sistema de cancelamen­to de ruídos (emite frequência contrárias, que “anulam” esses outros barulhos). O Accord tem dois modos de condução: o Econ prioriza a suavidade e o baixo consumo, com respostas bem mais comedidas e o ar-condiciona­do trabalhand­o com menor carga. Já o Sport… bem, ele transforma o Accord em um rojão ao mudar os parâmetros dos mapas do pedal do acelerador, do câmbio e dos sistemas eletrônico­s, além de atenuar o cancelamen­to de ruídos para que o motorista escute mais um pouco do ronco do motor. O turbo lag (atraso antes do compressor encher) é mínimo. Além disso, o quadro de instrument­os muda para a cor vermelha e mostra indicador da pressão de turbo (escala até 1.5 bar).

Ao volante do Camry, a conversa é outra. Seu V6 3.5 aspirado (2GR-FKS) ganhou novo variador de fase para as válvulas de admissão (VVT-iW) e 33 cv a mais que antes. Trabalha associado à caixa automática de oito marchas para produzir 310 cv e os mesmos 37,7 kgfm

de torque do Honda, mas entregues apenas a altas 4.700 rpm. Assim, embora tenha 54 cv a mais, as respostas do Camry são mais progressiv­as (o sedã tem potência específica de 89,7 cv/ litro e relação peso/ potência de 5,23 kg/cv, só para comparação). A transmissã­o é bem casada ao seis cilindros de atuação suave. Uma leve dose de emoção aparece ao cutucar fundo o pedal do acelerador, quando surge o ronco metálico típico dos “seis-canecos”.

Apesar de os dois terem quase cinco metros de compriment­o, até que transmitem boa dinâmica. A direção mais direta do Accord, junto de suas suspensões mais firmes, garantem uma melhor desenvoltu­ra nas curvas contornada­s rapidament­e. Já o Camry é bem mais macio, ao estilo do mercado norte-americano, absorvendo bem as irregulari­dades do piso, sem transmitir batidas secas. Os dois sedãs são equipados com rodas aro 18. Na hora de manobrar em locais apertados, como vagas do prédio ou do shopping, o Accord tem diâmetro de giro de 11,6 m e o Camry, de 11,2 m.

Um destaque do Accord está no pacote de condução semiautôno­ma Sensing – é o primeiro Honda no Brasil com ele. É composto do controle de velocidade adaptativo, alerta de colisão frontal, assistente de permanênci­a em faixa, frenagem automática e mitigação de evasão de pisa. Além disso, o Accord, assim como outros modelos da Honda, tem o prático sistema LaneWatch: ao acionar a seta para a direita, uma câmera no retrovisor transmite as imagens do ponto-cego para a tela da central multimídia. Em segurança, o Camry fica atrás por dever também controle de velocidade adaptativo e até monitorame­nto de pressão dos pneus.

No fim das contas, os dois sedãs são opções a se considerar tanto como opção aos SUVs médios quando como alternativ­a aos sedãs executivos alemães – que são ou bem menores (Classe C, A4, Série 3) ou bem mais caros (Classe E, A6, Série 5). O Accord sai desse comparativ­o como vencedor principalm­ente por oferecer um preço mais baixo, um pacote de equipament­os melhor, com mais sistemas de segurança e de condução semiautonô­ma, e melhor habitabili­dade, além de um motor mais moderno – e já na era do downsizing. Não que o Camry decepcione – quem anda com motorista, por exemplo, poderá ver mais vantagens nele.

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O Camry abusa dos vincos, mas ainda assim seu design é mais conservado­r que o do rival. O terceiro volume, do porta-malas, é bastante discreto
Na cabine, o Camry mostra certa ousadia, com um painel cheio de curvas, mas o acabamento em madeira é careta e é tudo meio confuso. A tela multimídia é baixa, fora do campo de visão O Camry abusa dos vincos, mas ainda assim seu design é mais conservado­r que o do rival. O terceiro volume, do porta-malas, é bastante discreto
 ??  ?? No cluster do Camry, a tela multifunçã­o tem um grafismo ruim de ler. Sua alavanca de câmbio é comum e há freio de mão elétrico. O japonês fica devendo uma central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay e comandos dos vidros mais suaves. Os botões no volante são organizado­s
No cluster do Camry, a tela multifunçã­o tem um grafismo ruim de ler. Sua alavanca de câmbio é comum e há freio de mão elétrico. O japonês fica devendo uma central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay e comandos dos vidros mais suaves. Os botões no volante são organizado­s
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O Accord tem um terceiro volume ainda mais “escondido”, querendo parecer mais cupê que sedã. Assim como o rival, tem rodas de liga com 18 polegadas
No Accord, as linhas são retas, é tudo mais organizado e fácil de usar. Só ele tem head-up display, que projeta dados no para-brisa. O câmbio por botões libera mais espaço no console O Accord tem um terceiro volume ainda mais “escondido”, querendo parecer mais cupê que sedã. Assim como o rival, tem rodas de liga com 18 polegadas
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O cluster do Accord é bem mais agradável de ver, com velocímetr­o analógico e todo o resto digital e com opções de diferentes configurac­ões. Junto do botões do câmbio, fica o sletor do modo de condução. A central multimídia é mais conectada e fica posicionad­a em um lugar mais adequado
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Quem viaja no banco traseiro não tem do que reclamar em nenhum desses dois sedãs. O Camry leva vantagem por ter ali ajuste independen­te da temperatur­a do ar-condiciona­do
 ??  ?? Os dois porta-malas são enormes, com a vantagem de levar as malas e objetos totalmente isolados da cabine. Só no Accord os bancos dianteiros têm couro perfurado com ventilação
Os dois porta-malas são enormes, com a vantagem de levar as malas e objetos totalmente isolados da cabine. Só no Accord os bancos dianteiros têm couro perfurado com ventilação
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