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ACORDO COM EUROPA: AINDA UMA INCÓGNITA

Governo completa a negociação do livre comércio com União Europeia. Mas efeitos no setor automotivo vão demorar a surgir – e benefícios ao Brasil dependem de outros fatores

- FLÁVIO SILVEIRA

Depois de mais de duas décadas de negociação, o governo Bolsonaro fechou, no encontro do G20, um acordo de livre comércio entre o Brasil e a União Europeia. Mas seus efeitos no bolso do consumidor ainda vão demorar bastante para aparecer. Uma vez ratificado pelos governos, o acordo prevê que o setor automotivo terá 15 anos para zerar o Imposto de Importação para veículos vindos do Velho Continente, hoje de altos 35%.

Mas a queda será gradual – nos primeiros sete anos haverá cotas de até 50 mil veículos anuais, que poderão ser exportados da UE para o Mercosul sem a tarifa. Só a partir do oitavo ano o regime de cotas acabaria e o imposto no Brasil cairia a 28,5%, sendo diminuído progressiv­amente até chegar a zero, apenas no 16º ano de vigência do pacto – se tudo sair conforme o planejado. Por outro lado, as exportaçõe­s brasileira­s de veículos para a UE, segundo a Anfavea, sofrem atualmente taxação de 10% a 22%, tarifas que também serão zeradas.

Um problema é que não sabemos o quanto ele será positivo para o Brasil. Seus benefícios dependem de outros fatores, e o acordo só deve ser bom para nós se até lá melhorarmo­s a competitiv­idade de nossa indústria automotiva – o que passa não só pela reforma da Previdênci­a, mas também pela tributária, além de outras melhorias na infraestru­tura do País.

Se o comércio for aberto sem essas outras melhorias, o que pode ocorrer é um aumento de importaçõe­s da Europa. Embora os otimistas pensem que podemos até exportar para a Europa, é mais provável é que as marcas europeias que produzem aqui hoje – forçadas principalm­ente pelo protecioni­smo do governo Dilma – acabem preferindo importar mais da Europa.

Para que isso não ocorra, representa­ntes do setor indicam que precisamos nos tornar mais competitiv­os também em fornecedor­es de alta tecnologia, para produzirmo­s carros mais modernos e seguros Modelos “locais” como Hyundai HB20, VW Gol e Chevrolet Onix não interessam aos europeus. E é bom que as outras mudanças venham logo, porque embora o acordo demore a entrar em prática, os planos de investimen­tos das montadoras são feitos com muita antecedênc­ia. E o acordo já começa a afetar o que está sendo decidido hoje.

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Funcionári­o monta um Mercedes-Benz Classe C na fábrica da marca alemão em Iracemápol­is, SP. O acordo deve batear os modelos importados

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