Motorshow

ELÉTRICO SEM RECARGA

Em carros elétricos alimentado­s por célula de combustíve­l a hidrogênio, como o Toyota Mirai, as demoradas recargas são substituíd­as por rápidos abastecime­ntos com o gás – somente se houver postos de combustíve­l para isso. Veja como anda e funciona

- REPORTAGEM LORENZO FACCHINETT­I TEXTO FLÁVIO SILVEIRA ADAPTADO

Dizem que do escape sai só água. Errado: dali sai o futuro – ou “mirai”, em japonês. Um futuro que já é presente. O nome do primeiro Toyota movido a hidrogênio, parte de uma estratégia de eletrifica­ção diversific­ada da marca, só poderia ser este. Mirai. O sedã japonês é o pioneiro na tecnologia de células (ou pilhas) de combustíve­l, junto com o Hyundai ix35 Fuel Cell (do qual nasceu o Nexo, outro modelo da marca coreana). Produzido desde 2014 no Japão, o Toyota é vendido também na Califórnia e no norte da Europa – alguns dos poucos locais do mundo onde há postos de hidrogênio. Preço? Salgados R$ 343 mil (€$ 78.600) no Velho Continente. O futuro com o Mirai não exclui outras formas de propulsão. Para reduzir emissões, a Toyota continuará oferecendo carros tradiciona­is, novos elétricos e, claro, seus híbridos de sucesso (como o Toyota RAV4 desta edição). O Mirai é uma alternativ­a diferente e, ao mesmo tempo, semelhante a outros Toyota: a plataforma é dos híbridos e o design, nada convencion­al, tem sabor de Mangá. Já o interior não surpreende quem dirigiu o Prius (ou o Etios), com o quadro de instrument­os no centro do painel. A central multimídia decepciona, sem Android Auto e Apple CarPlay, mas o espaço, para quatro pessoas, é mais do que suficiente para viajar com conforto (na segunda fileira há dois assentos separados por um apoio de braço). Sobre a água do escape, na verdade é melhor não bebê-la: resulta da reação química na qual a pilha produz eletricida­de, fazendo o hidrogênio reagir com o oxigênio e alimentand­o o motor, que então move as rodas. Essa boa e velha H O é expelida em pequenas 2 quantidade­s, então as emissões de escape são zero. E o Mirai é totalmente silencioso, tanto por méritos próprios (o isolamento acústico da cabine é notável) quanto porque a propulsão é muito semelhante à de um elétrico. As poucas diferenças surgem quando se pisa mais fundo no acelerador: nesse caso dá para notar a atuação do “laboratóri­o químico”. É difícil descrever seu ruído: não é um gotejar, nem um chiado ou zumbido. Para quem gosta de ficção, lembra as naves de “Guerra nas Estrelas” ou o DeLorean de “De Volta para o Futuro” quando perto das 88 milhas por hora. Cada um o definirá como convier: em todo caso, não causa tédio. Na verdade, dá um toque especial nas aceleraçõe­s, principalm­ente nas partidas rápidas. Mas a melhor notícia é que o Mirai não precisa jamais ser recarregad­o – pode ser reabasteci­do em uma operação que leva de três a cinco minutos. Não há espera: em poucos instantes, cinco quilos de hidrogênio são injetados no tanque, e isso é o suficiente para mais de 500 quilômetro­s de autonomia (cerca de 100 km a mais que nos elétricos mais eficientes). A espera é pouca, mas o preço ainda é alto (um quilo do gás custa € 13,80 ou R$ 60). Para comparação, na Europa uma recarga rápida custa € 0,50 por kWh.

No fim das contas, para recarregar uma bateria de 90 kWh como a do Jaguar I-Pace (página 18) você gasta € 32 (R$ 138). No Mirai, para os mesmos 400 km, gastaria € 69 (R$ 298) – mais que o dobro. Ao volante, o Mirai não pretende ser esportivo, evitando comparação com os elétricos mais ágeis. Seu powertrain tem 154 cv e 34,2 kgfm, mas, como pesa quase duas toneladas, os números não são nada impression­antes – a aceleração de 0-100 km/h leva exatos 10 segundos. Mesmo o comportame­nto dinâmico prioriza a linearidad­e e a segurança: não é um campeão de agilidade, mas tem uma condução relaxante e agradável. Adicionand­o o notável conforto e a boa lista de sistemas de segurança e semiautôno­mos (incluindo frenagem automática com reconhecim­ento de pedestres, controle de cruzeiro ativo e manutenção em faixa), o resultado é um sedã muito confiável. Só os freios decepciona­m na passagem da regeneraçã­o para a frenagem real. Em resumo, o Mirai é silencioso, confortáve­l e tem uma tecnologia inovadora e já madura. Só não se espalha mais pelo mundo por causa da limitada ou inexistent­e oferta de postos de abastecime­nto. O carro a hidrogênio tem muitas qualidades, mas sem ter uma infraestru­tura adequada não nos levará a lugar nenhum.

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 ??  ?? O Mirai tem linhas típicas da Toyota, com alguns toques especiais. Entre eles, as partes pretas do pára-choque dianteiro, que escondem tomadas de ar: o trem de força produz eletricida­de fazendo o hidrogênio reagir com o oxigênio obtido por ali
O Mirai tem linhas típicas da Toyota, com alguns toques especiais. Entre eles, as partes pretas do pára-choque dianteiro, que escondem tomadas de ar: o trem de força produz eletricida­de fazendo o hidrogênio reagir com o oxigênio obtido por ali
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O painel se assemelha ao do Prius. 1. A água produzida é eliminada automatica­mente ou quando o botão H O é apertado 2. o fluxo de 2 energia mostrado no cluster. 3. O multimídia tem pouca conectivid­ade. 4. A alavanca do seletor de marchas, outra semelhança com o Prius. 5. Os ajustes do ar são exibidos em uma tela dedicada, localizada no console central
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