Peugeot 208
A Peugeot quer voltar com tudo para o segmento de hatches compactos. E o novo 208 chega com potencial
Asegunda geração do Peugeot 208 quer repetir o sucesso do 206, que marcou – muito positivamente – a estreia da marca como fabricante nacional, ainda no milênio passado. Para atingir o objetivo, ao menos não repetirá o erro do 207, sucessor o 206, que ficou “para trás” do europeu e foi apelidado 206,5. Na primeira geração do 208, quando o terceiro dígito do nome deixou de mudar, ser igual ao modelo europeu não bastou. O 208 vendido hoje no Brasil não faz tanto sucesso. Mas este 208 de segunda geração está bem mais competitivo. Na Europa, acaba de ser eleito Carro do Ano. Ao Brasil, chega para atacar Hyundai HB20, VW Polo, Chevrolet Onix e cia. CMP, Common Modular Platform, Plataforma Modular Comum. Ela é a base construtiva deste novo 208. Estreia agora no Brasil e está para o Grupo PSA como a MQB está para o Grupo Volkswagen: é base para tudo. Foi uma das coisas que mais agradou aos engenheiros da FCA na fusão entre os dois grupos, pois serve bem à reconstrução da gama da marca italiana. Modular, para atender tanto ao segmento de compactos quanto ao de médios, ela ainda é capaz de abrigar powertrains térmicos ou elétricos, e dará origem a novos SUVs na fábrica de Porto Real (RJ) em um futuro próximo. A plataforma CMP já deu à luz, na Europa, o DS 3 Crossback e o Opel Corsa (candidato a voltar ao Brasil). Agora, é base desta segunda geração do 208. Feito na Argentina, e não mais no Brasil, está pronto para mostrar as garras – literalmente, na forma dos faróis em LED. Terá uma versão 100% elétrica (leia quadro) e muito conteúdo. As mudanças em relação ao 208 europeu, segundo nossas fontes, serão poucas, em detalhes... Bem, exceto pela mecânica, onde deve estar a alteração mais sentida, e mais arriscada para a marca. Testamos, na Itália, o novo 208 GT Line, com motor 1.2 três cilindros turbo de 131 cv e câmbio automático de oito marchas. Mecânica que, infelizmente, não devemos ter no Brasil agora.
A filial brasileira da marca ainda faz mistério, mas apuramos que não devemos ter aqui o 1.2 turbo. Nas versões intermediária e de topo, o 208 deve manter o atual (bom) quatro cilindros 1.6 flex de 115/118 cv (g/e) e 16,1 kgfm, talvez com ganho de potência. Ele deve ser associado ao câmbio manual de cinco marchas ou ao excelente automático de seis. O atual motor três cilindros 1.2 aspirado (84/90 cv), que impressiona pelo baixo consumo, virá com câmbio manual de cinco marchas, e seguirá equipando as versões mais baratas do hatch. É clichê falar de “um compacto que faz você se sentir em um carro de segmento superior”. Mas é a percepção exata, porque o 208 está 8 cm maior (agora tem 4,06, tamanho similar a VW Polo e cia.) e tem uma cabine muito bem embalada – e sem as inevitáveis (ou não?) economias normalmente adotadas no segmento (plásticos rígidos e materiais menos nobres nas áreas mais escondidas). A qualidade é mesmo alta: os assentos são bem feitos e muito bonitos; o painel tem superfícies de toque suave e convence com combinações de materiais; à noite, o hatch é uma sala de estar, com sutis inserções de LED coloridas ao longo do painel e nas portas. A única perda ocorre no porta-malas, 15 litros menos que o do 208 anterior. São 247 litros, enquanto os rivais têm em média 300 (ao menos o formato permite aproveitar bem o espaço). Por último, mas não menos importante, um detalhe que é vital hoje em dia: alta tecnologia. O 208 tem um sistema multimídia de impacto visual notável: a grande tela de 10 polegadas é virada para o motorista e há uma nova instrumentação digital 3D, que aparece acima do pequeno volante quadrado. O conjunto dá vida a um cockpit futurista que, pelo menos em termos cenográficos, permite à Peugeot se destacar em meio à multidão (ou ao trânsito, se preferir).
INFORMAÇÃO EM TRÊS DIMENSÕES
A dificuldade em achar uma posição de dirigir que permita ao motorista se sentir confortável e ao mesmo tempo ver bem os instrumentos continua, embora em menor grau. De acordo com a
estatura e preferências de posição, o volante pode ocultar parte deles. Depois de ajustar tudo, por outro lado, é possível desfrutar de uma excelente e original interpretação de um painel digital. Graças a um projetor em frente ao cluster, as informações “flutuam” em dois níveis. Acreditamos que este atrativo seja mantido por aqui. As informações mais importantes, como velocidade ou indicações do GPS, ficam em primeiro plano, para leitura imediata. Os diferentes layouts podem ser configurados rapidamente por um botão no volante. A grande tela sensível ao toque é claramente legível, embora a interface cause distração para passear pelos menus. Ainda no assunto tecnologia, o novo 208 ganha, nas versões de topo, vários sistemas de assistência ao motorista: o pacote Drive Assist Plus trará frenagem automática e assistente de manutenção em faixa. São funções bastante úteis se as viagens habituais são por vias congestionadas. Junto com o controle de cruzeiro ativo – com função Stop & Go –, ajudam a diminuir o estresse.
AO VOLANTE
Ao colocar o 208 em movimento, o motorista é rapidamente conquistado pelo conjunto motorcâmbio, dois elementos perfeitamente sintonizados, que resultam em um ótimo equilíbrio entre desempenho e consumo: em nossos testes, marcamos 9,3 segundos no 0-100 km/h, com uma média geral de excelentes 13,7 km/l (no 208 brasileiro atual, com o motor 1.6, marca 11,5 segundos e 11,9 km/l, respectivamente, mas os testes de consumo do Inmetro são mais rigorosos que os europeus). Este conjunto mecânico que não devemos ter agora, mas muito provavelmente tenhamos mais adiante, em um ano ou dois, é realmente brilhante.
De um lado, a notável elasticidade do três cilindros, sempre disposto a trabalhar, e em todas as faixas de rotação. Certamente um dos melhores do mercado: redondo, elástico, cheio de torque e propenso a subir de giro. Serve para satisfazer todas as necessidades. A única vibração sentida é a do start-stop ligando o motor novamente. Do outro lado, a transmissão automática com conversor de torque e oito velocidades, que muda suas relações com extrema discrição. Se você não prestar atenção à marcha engatada, quase não notará a trocas, que são suaves e aveludadas. Se o ritmo aumenta e o modo Sport é ativado, ele se torna mais incisivo, mas nunca esportivo. Todos os distúrbios à tranquilidade da cabine são bem filtrados: o sistema mira o conforto, mais do que a dinâmica, e você viaja quase sempre sem incômodos, mesmo no asfalto ruim. Apenas os ocupantes do banco traseiro sofrem um pouquinho mais com a rigidez do conjunto (eixo de torção, como nos rivais). Mas, no Brasil, ele deve ser amaciado. O bom isolamento acústico preserva o silêncio a bordo (e esperamos que seja mantido no modelo nacional). O 208 muda rapidamente de direção e a movimentação é sempre progressiva: o substerço inicial em desvios bruscos logo se alivia,