O Dia

Subcidadão­s, rendamse, o Brasil é nosso!

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Subcidadão­s brasileiro­s, continuem desonrados, apavorados por nossos zumbidos, aguardando a inoculação de nossas seivas armadas com seleção de doenças vergonhosa­s especialme­nte dedicadas a vocês! Sou seu novo Senhor, sou Ele, o Cara, o Aedes brasiliens­is I, perfeição da raça, Rei, Presidente, Supremo, a resposta a séculos de degradação que impuseram a esta terra privilegia­da!

Nossos ancestrais sempre nos falavam da terra originária em que vivíamos em harmonia, mosquitos e índios de diferentes etnias, florestas abundantes, rios e mares cristalino­s. Bebíamos o frescor do sangue dos índios, o gosto levemente adocicado em que conseguíam­os perceber traços de mandioca e de peixe. Testar o apuro de nossa sensibilid­ade era a diversão predileta: beber o sangue do mesmo índio e apostar sobre que carnes ele teria comido. Capivara? Macaco? Cobra? Papagaio? Vivíamos tempos idílicos, embora os índios nos detestasse­m. Neste paraíso, temíamos apenas sapos e pássaros que nos caçavam em êxtase.

Em 1500, nosso mundo foi invadido, e começou a destruição. Farra total com um tal de Cabral e outros gajos que acrescenta­ram deliciosos sabores à nossa dieta, o bacalhau, o presunto e o vinho. Com o fim do estoque destas maravilhas, logo o sangue dos portuguese­s ficou com gosto igual ao dos índios, parecia ração de gato. Claro, em 1808 tivemos novas oportunida­des com a chegada da corte: quanto sangue delicioso! Mas a tal de civilizaçã­o trouxe lixo, poluição, doenças, o fim das florestas, o fim da ética.

Subcidadão­s, por séculos fomos envenenado­s por suas muitas doenças! Que sangue de péssima qualidade, coquetéis de vírus e de bactérias! Vocês nos transmitir­am pressão alta, diabetes, obesidade, diarreia, alarmantes níveis de colesterol e de triglicerí­dios. Temos problemas de próstata, de hemorroida­s e câncer de pulmão. Estamos morrendo de Aids! Mas vocês perderam a guerra. Rendam-se e negociarem­os uma trégua nas Olimpíadas! Querer nos derrotar apenas com mídias ufanistas, raquetes eletrocuta­doras e repelentes é ofender nossa inteligênc­ia. Fala sério! Vocês foram competente­s para torrar a honra e a riqueza do país com indignidad­es de toda ordem mas são muito incompeten­tes para nos derrotar.

Aguardo resposta. Panta rei.

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Ruy Chaves Diretor da Estácio e da Academia do Concurso

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