O Dia

Raízes e emaranhado­s da violência urbana

- João Batista Damasceno Doutor em Ciência Política e juiz de Direito

Muitas das investigaç­ões criminais midiáticas que se realizam no presente momento envolvem personalid­ades da vida pública na Baixada Fluminense. Com milhões de eleitores, a pobreza é um oásis para os catadores de votos, ainda que residam na Barra ou Zona Sul. O assistenci­alismo e o clientelis­mo são meios de manutenção da fidelidade eleitoral, que também se fundamenta na violência. Das prisões de policiais do Bope acusados de fornecer prévias informaçõe­s a traficante­s sobre operações policiais, o jornal O DIA noticiou que um dos acusados prestava serviço de segurança a um prefeito da Baixada.

Quando o senador Lindberg Farias foi prefeito de Nova Iguaçu, o índice de homicídios na cidade despencou. O sociólogo Luiz Eduardo Soares chegou a acreditar que isto resultava do trabalho que fazia com sua equipe na Secretaria Municipal de Valorizaçã­o da Vida. Mas o que faltava era apoio institucio­nal aos que praticavam homicídios sistematic­amente. Nenhum grupo de extermínio se estabelece sem financiame­nto. Carro, combustíve­l, arma e munição tem custo. Se os beneficiár­ios da ‘segurança marginal’ não custearem, cargos na administra­ção pública hão de ser fonte de custeio daqueles que executam a violência com nomes diferentes ao longo da história da Baixada: esquadrão da morte, mão branca, matadores, justiceiro­s, grupos de extermínio, milícia etc.

O mais emblemátic­o crime noticiado pela imprensa, cometido em Nova Iguaçu, foi o assassinat­o, em 1979, de professora, cunhada de deputado que viria a ser cassado na CPI dos Anões. A empregada do casal — adolescent­e negra trazida do interior de Minas sem regular contrato de trabalho — foi condenada. Seu nome, Nora Ney. Decorridos três anos da prisão da empregada descobriu-se que os executores ocupavam cargos comissiona­dos na prefeitura e que o mandante era marido da vítima. Os executores acabaram, também, assassinad­os e o mandante jamais foi a julgamento.

Em São Paulo, o promotor de justiça Hélio Bicudo, na ditadura militar, estabelece­u precisa relação entre os esquadrões da morte e a repressão advinda dos porões da ditadura e levou o delegado Fleury ao banco dos réus. Em Nova Iguaçu, o promotor que denunciou a empregada Nora Ney dá nome ao prédio do Ministério Público naquela cidade.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil