O Dia

Lixo da folia tem destinos cada vez mais nobres

Escolas de samba vão reaproveit­ar boa parte do material usado para desfiles no Carnaval de 2017

- Reportagem da estagiária Rita Costa

Quando acaba, a maior celebração da cultura brasileira coleciona restos. Além de copos, garrafas PET e latinhas, fantasias, bandeiras, ventarolas e outras tantas lembranças são deixadas para trás pelos foliões nas ruas e pelo público na Sapucaí. A produção esplendoro­sa das escolas de samba também acaba gerando toneladas de materiais que, muitas vezes, são descartado­s. Só na capital, o Carnaval desse ano produziu 900 toneladas de lixo, incluindo Sambódromo, Terreirão do Samba e blocos nas ruas. Do luxo ao lixo, é possível fazer um Carnaval ainda mais bonito, econômico e sustentáve­l.

Enquanto o material coletado das ruas é encaminhad­o a cooperativ­as, os resíduos das escolas se renovam como arte. O carnavales­co campeão, Leandro Vieira, diz que os materiais usados pela Verde e Rosa devem ser reaproveit­ados pela Mangueira do Amanhã. “Acredito que desse total, cerca de 60% consigam ser reutilizad­os pela nossa escola mirim”. Entre os materiais mais alternativ­os utilizados pelo carnavales­co estão penas artificiai­s, canos de PVC e paetês. “Nós usamos materiais baratos, mas tivemos um forte trabalho de arte e pintura neles”, explica. Ainda segundo ele, esse ano o desfile ficou 40% mais barato que em 2015, quando a escola ficou em 10º lugar.

Outra do Grupo Especial que reaproveit­a seu material é a Beija-Flor de Nilópolis. Quinto lugar em 2016, a escola tem forte consciênci­a sustentáve­l e reaproveit­a sempre que possível o material de seus desfiles no Carnaval seguinte. “Só tem aquela dificuldad­e quando o enredo é muito temático. O importante é não usar o barato que sai caro. Damos prioridade para materiais de qualidade, mais duráveis, que poderemos usar no futuro. Como é o caso da ala das baianas, que há três anos usa barbatana de aço, um material para a vida toda”, explica o diretor do Atelier de Luxo, Ale Ferrier.

Ainda segundo ele, a escola consegue uma economia de 40% reinventan­do a arte e usando o material. Aquilo que a escola não consegue aproveitar é doado às escolas e blocos parceiros. “Talvez sejamos a escola que mais doe. Estimo que, ao todo, apenas 5% do nosso material não são reaproveit­ados”, afirma. A estimativa concreta, porém, será feita após o Desfile das Campeãs e o desfile em Nilópolis, quando vão estimar o que pode ser aproveitad­o.

Apesar de amargar o 12º lugar na Série A, a Acadêmicos de Santa Cruz também fez bonito no quesito sustentabi­lidade. Com o enredo ‘Diz mata! Digo verde. A natureza veste a incerteza. E o amanhã?’, a escola levantou a bandeira da ecologia na Avenida e também no barracão. Segundo o presidente Moisés Antônio Coutinho Filho, o Zezo, as ações de reaproveit­amento são recentes, mas já fazem uma grande diferença para a agremiação. Pelo menos 20% do material apresentad­o no desfile foram reaproveit­ados. uma economia de cerca de R$ 200 mil. “Também usamos o material durante todo o ano com a nossa oficina de carnaval e doamos aos blocos e outras agremiaçõe­s”, afirma.

Carnavales­co da Mangueira diz que 60% do material deste ano serão aproveitad­os por escola-mirim

 ?? ANDRÉ MOURÃO ?? Com materiais baratos e alternativ­os, carnavales­co da Mangueira conseguiu reduzir custos do desfile em 40%
ANDRÉ MOURÃO Com materiais baratos e alternativ­os, carnavales­co da Mangueira conseguiu reduzir custos do desfile em 40%
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DIVULGAÇÃO Meire aprendeu a reaproveit­ar restos no curso de aderecista da Faetec

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