O Dia

Admirável gado novo

- João Tancredo Advogado

Este título é o mesmo de uma das melhores canções da MPB, eternizada na voz de Zé Ramalho. A citação provocativ­a é para abordar a situação lamentável dos trabalhado­res dos Correios. Há muita crítica sobre a qualidade dos serviços, porém pouco se fala das dificuldad­es e dos riscos diários dos carteiros. Cenário que se resume em tensão, estresse e violência.

Foram 11 assaltos por dia somente no mês passado. Em 2015, mais de 2.250 trabalhado­res foram rendidos por bandidos, aumento de mais de 20% em relação ao ano anterior. Somente na área de Bangu foram 261 ocorrência­s. Segundo a Federação dos Trabalhado­res dos Correios, há casos de carteiros que são assaltados 20 vezes por ano.

Sabemos que, infelizmen­te, o próprio Estado admite possuir áreas “de risco”. No entanto, essa reconhecid­a incapacida­de de proteção ao cidadão acaba punindo duplamente uma população que paga seus impostos e que, pela falta de investimen­to em segurança, tanto pelo lado da empresa em relação aos seus funcioná- rios quanto do próprio governo estadual — que tem a obrigação de oferecer segurança pública —, não é atendida com serviço de correspond­ência de qualidade.

O que ameniza essa situação é a colaboraçã­o das associaçõe­s de moradores, que acabam se tornando as principais parceiras dos carteiros.

A realidade é crítica, pois, com as novas tecnologia­s e o avanço das compras vias internet, a tendência é de que cada vez mais seja necessário um aprimorame­nto logístico e um sistema de inteligênc­ia em segurança apto a garantir o pleno funcioname­nto dos Correios. E, obviamente, será preciso também investimen­to no suporte aos funcionári­os que estão sofrendo as consequênc­ias de doenças causadas pelo estresse da atividade, além das Lesões por Esforços Repetidos, que cada vez mais atingem esses trabalhado­res.

Quanto ao poder público, já é notório que não serão só policiais que serão dadas as garantias de segurança a esses trabalhado­res e população em geral. É preciso investir na educação de base, na formação cidadã e em projetos que contemplem todas as áreas sociais. Caso contrário, não só os carteiros, mas toda a massa trabalhado­ra continuará sendo um “povo marcado”, numa vida de gado, como na música.

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