O Dia

Críticas à investigaç­ão no estado

Juiz diz que a partir de agora detalhes importante­s, como contratos, terão atenção da Justiça Federal

- ADRIANA CRUZ adrianacru­z@odia.com.br

Na decisão que levou o ex-governador Sérgio Cabral e outros acusados para a cadeia, o juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo da Costa Bretas, criticou os órgãos de controle do estado, O magistrado lembrou que passou despercebi­da a relação do escritório Ancelmo Advogados, da então primeira-dama Adriana Ancelmo, com as empresas contratada­s pelo governo.

O juiz Bretas escreve em sua decisão que somente “a partir de agora serão objeto da merecida atenção pela Justiça Federal” os delitos de Cabral citados pelo Ministério Público Federal. Ele destaca a atuação isenta e diligente do MPF, com o apoio efetivo da Polícia Federal, para avaliar os vários contratos, todos com a interveniê­ncia do escritório de advocacia de Adriana Ancelmo.

Em 2010, o deputado estadual Marcelo Freixo, do Psol, pediu que o Ministério Público do estado investigas­se a atuação do escritório de Adriana. Ela tinha entre seus clientes concession­árias de serviço e fornecedor­es em litígio com o governo do Rio. O procedimen­to foi arquivado por falta de provas pelo então procurador­geral Cláudio Lopes e homologado pelo Conselho Superior. “Agora, haverá investigaç­ão sobre o que já pedíamos lá atrás”, afirmou Freixo.

A relação de Cabral com o empresário Fernando Cavendish, da Delta Construçõe­s, que é um dos delatores do esquema , também foi denunciada ao Ministério Público. Mas o caso foi arquivado, no final de 2013, por seis votos a quatro pelo Conselho Superior. O procedimen­to tratava da viagem do então governador Sérgio Cabral a Paris em 2009, na companhia de secretário­s do estado, e Cavendish. Uma foto revelada pelo ex-governador Anthony Garotinho nas redes sociais mostra o grupo usando guardanapo­s na cabeça enquanto festejava em restaurant­e de luxo na capital francesa. Por isso, a turma ficou conhecida como a ‘gangue dos guardanapo­s’. “Nem fui notificado sobre a decisão do arquivamen­to”, lembrou Freixo.

Em nota a assessoria do Ministério Público estadual esclareceu que o Ministério Público Federal valeu-se da colaboraçã­o premiada, na qual os investigad­os não só relataram os fatos em todas as suas circunstân­cias, como também apresentar­am provas. Fez questão de ressaltar ainda que solicitou o compartilh­amento de provas, que estão sob o poder da Justiça Federal, para investigaç­ão no âmbito estadual, porém não obteve a autorizaçã­o.

Para o jurista Luiz Flávio Gomes, o fato de o governador do estado escolher a chefia do órgão, em regra, cria um vínculo de subordinaç­ão. “Esse sistema gera impunidade. Tem que mudar. O Ministério Público tem ter autonomia na eleição. No caso do Rio, ficou horrível para a instituiçã­o ter arquivado vários procedimen­tos e ser necessário a atuação do MPF”, analisou. Porém, é fato que desde o governo Cabral, os chefes do MP são os mais votados pela categoria. Pela lei, no entanto, basta que esteja dentro de lista com três nomes para estar apto a ocupar o cargo.

 ?? REPRODUÇÃO/27.4.2012 ?? Grupo em Paris ficou conhecido como a ‘gangue dos guardanapo­s’
REPRODUÇÃO/27.4.2012 Grupo em Paris ficou conhecido como a ‘gangue dos guardanapo­s’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil