O Dia

A fonte de lágrimas do nosso violento presente

- Wadih Damous Deputado federal pelo PT

Federico Garcia Lorca é o escritor espanhol mais traduzido no mundo, mas até hoje a Espanha não foi capaz de elucidar o que foi feito com o seu corpo, após ter sido preso e torturado pelo fascismo, aos 38 anos. À família restou um luto difícil e longo, pois seu desapareci­mento tornou-se uma dor sem data para acabar. A Guerra Civil Espanhola foi um momento trágico em que o fascismo torturou e levou à morte milhões de pessoas.

Mas o desapareci­mento forçado, a tortura e o assassinat­o praticado por agentes do Estado não é prerrogati­va dos regimes fascistas de um passado recente. Há poucos dias, em São Paulo, cinco jovens se dirigiam para uma festa quando foram abordados pela Polícia Militar. Foram encontrado­s mortos em um matagal, com claros sinais de execução.

Em Brasília, Thiago Soares, de 22 anos, após participar de uma festa à luz do dia, foi abordado e detido pela Polícia Militar enquanto se dirigia para o ponto do ônibus com um amigo.

Após algumas horas em poder dos policiais, foi deixado no hospital com sinais de espancamen­to e traumatism­o craniano. Faleceu duas semanas depois. Testemunha relatou tê-lo visto sendo espancado por 12 policiais numa praça.

O que une as famílias de Lorca, dos jovens de São Paulo, de Thiago e de tantos outros é o desejo sobre a verdade dos fatos.

Dados do 10º Anuário de Segurança Pública apontam que diariament­e ao menos nove pessoas morrem em decorrênci­a de intervençõ­es policiais no Brasil e que a polícia brasileira mata em seis dias o mesmo que a britânica em 25 anos. O extermínio da juventude pobre e negra no Brasil comprova, na prática, a letra da música do grupo O Rappa: “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro.”

Lorca foi visto pela última vez nos arredores de Granada, local utilizado pelo fascismo para fuzilament­os de inimigos políticos. Testemunha­s indicam que o poeta teria sido morto e enterrado próximo a uma nascente de água que os árabes batizaram de Ainadamar. Em português, fonte de lágrimas.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil