A quem interessa a crise?
Os deputados da Alerj estão com o destino do estado nas mãos. Na votação em que autorizaremos ou não o governo a usar as ações da Cedae como garantia da ajuda federal ao Rio, vai ficar claro quem são aqueles que querem que o estado continue em calamidade financeira e os que desejam ver novamente os servidores recebendo em dia, os hospitais e escolas funcionando e Segurança tendo condições de proteger os cidadãos.
Pois não são apenas os funcionários que estão sofrendo com parcelamento de salários. São todos os 17 milhões de fluminenses. Quem votar contra a autorização estará atendendo aos interesses de uma corporação formada por pouco mais de 6 mil funcionários, em detrimento de 494 mil servidores — ativos, inativos e pensionistas — que continuarão recebendo cestas básicas recolhidas por seus sindicalistas.
É preciso compreender que a autorização para o estado dispor das ações da Cedae — a modelagem da privatização (ou concessão) só será definida num prazo de seis meses a um ano, após discussão com a sociedade, prefeitos e os próprios funcionários da empresa — não é mais uma questão ideológica, mas pragmática.
As ações da Cedae são a garantia que o governo federal exige não apenas para conceder o empréstimo de R$ 3,5 bilhões, que permitirá o estado a colocar os salários em dia, mas também a espinha dorsal do Plano de Recuperação Fiscal proposto pelo governo federal que significa, por três anos, alívio de R$ 62 bilhões no caixa do estado. O déficit projetado no Orçamento deste ano é de R$ 17 bilhões. O Rio precisa disso para se estruturar. Ano passado, 12 meses de arrecadação pagaram 10 salários. Este ano, portanto, são 16 folhas para pagar. Se nada for feito, teremos em 2017 pelo menos seis meses de atraso e parcelamento de salários.
A crise não é exclusiva do Rio, mas aqui ela bateu mais fundo sobretudo por sermos o maior produtor nacional de petróleo. Não é à toa que o número de desempregados aqui seja acima da nacional: 12% da população está procurando emprego neste momento, segundo o IBGE.
O governo do estado não produz dinheiro. Sem a ajuda federal, a crise tende a piorar. Quem pensa que chegamos ao fundo do poço, sugiro olhar para o Espírito Santo. A quem interessa a crise? Saberemos na votação da Cedae, sem a qual não tem ajuda da União, não haverá salário em dia nem serviços públicos funcionando. Só restará o caos.