O Dia

Tesouro não se joga no ralo

- Luiz Martins Deputado estadual pelo PDT

Caso o Estado do Rio ceda à chantagem do governo federal e privatize a Cedae, estará incorrendo num grave erro. Vender esse patrimônio, mesmo diante da crise financeira, pode até causar prejuízos aos cofres públicos. O motivo mais evidente é o lucro que a companhia proporcion­a. Mas há outras questões pouco abordadas no debate e que podem implicar trazer danos, como o destino do passivo da estatal, os investimen­tos em curso e a política tarifária que beneficia os mais pobres.

A privatizaç­ão voltou à baila justamente num momento em que a companhia se encontra superavitá­ria, ou seja, gera lucro para o governo. Nos últimos quatro anos, a Cedae proporcion­ou mais de R$ 325 milhões em dividendos. Por isso, há tanta cobiça do setor privado pelo seu controle. A posição do meu partido, o PDT, sempre foi contrária à venda, mesmo há quase 20 anos, quando o resultado financeiro era negativo. Agora, essa receita se mostra indispensá­vel aos combalidos cofres públicos.

Outra consequênc­ia nefasta para a saúde financeira do estado é a incerteza quanto ao pagamento das atuais dívidas da companhia. Passam de R$ 4 bilhões, entre débitos trabalhist­as, atrasos nos repasses ao fundo de pensão dos funcionári­os e indenizaçõ­es por decisões judiciais. Vender a parte boa e ficar com a podre não é bom negócio.

Há de se levar em conta também as consequênc­ias dessa privatizaç­ão para o andamento das obras de saneamento da Baixada. Vários municípios serão beneficiad­os com a duplicação do sistema de abastecime­nto do Guandu, que conta com financiame­nto de mais de R$ 3 bilhões. Estudos têm mostrado que, ao assumirem as concessões, as empresas privadas deixam os investimen­tos de lado, o que compromete a meta de universali­zação da oferta de água encanada e de ligação com a rede de esgoto.

Manter a Cedae como empresa púbica é uma garantia de que a atual política de tarifa social será mantida. Ela beneficia milhares de consumidor­es das áreas mais carentes, que pagam menos do que os dos bairros mais ricos. Com a lógica do lucro que impera na iniciativa privada, quem não puder pagar o preço normal poderá ter a água cortada. Por todos esses motivos, a Assembleia Legislativ­a precisa ir contra essa medida e construir outras alternativ­as junto com o governo para que o estado volte a pagar em dia seu funcionali­smo, sem torrar o patrimônio público dos fluminense­s.

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