Orfanato tinha vala com restos de 800 bebês
Casa gerida por irmãs católicas recebia mães solteiras e realizava partos em troca de trabalho, mas governo da Irlanda investiga maus-tratos e abortos
Uma descoberta macabra chocou a Europa ontem. Grupo de especialistas localizou restos mortais de bebês enterrados em fossa comum de antigo orfanato católico na Irlanda, onde se suspeita terem morrido 800 crianças. A Casa das Irmãs do Bom Socorro fica na cidade de Tuam, no Condado de Galway, e funcionou entre 1925 e 1961 como um lar para nenéns e mães solteiras jovens da Irlanda. Testes de DNA apontaram que as crianças enterradas tinham entre 35 semanas e 3 anos.
A investigação foi feita por uma comissão instituída pelo governo para apurar a atuação de centros religiosos no auxílio a jovens grávidas, após denúncia da historiadora Catherine Corless, que descobrira a certidão de óbito de 800 crianças residentes na instituição, mas nunca os registros de enterro delas. Suas pesquisas tentam lançar luz sobre os altos índices de mortalidade infantil registrados nessas instituições.
A comissão afirma que as mulheres e jovens que viveram nas casas católicas e conventos sofreram fome, miséria e tratamentos violentos, o que levou à morte de várias meninas e de seus bebês. Muitas jovens trabalhavam gratuitamente em troca do ‘auxílio’ das freiras na gravidez. Após os bebês nascerem, eles eram colocados em uma ala separada da de suas mães e entregues para adoção.
O governo estimou que cerca de 35 mil mães solteiras passaram por algum dos dez centros de acolhimento administrados por ordens católicas desde a criação do Estado irlandês, em 1922, e nos anos 60. A mortalidade infantil nesses lugares chegou a 50%.
O filme ‘Philomena’, de 2013, narra episódio inspirado em fatos ocorridos na Irlanda em 1952, com uma mulher que engravidou na adolescência, foi mandada para o Convento Roscrea e teve seu filho vendido pelas freiras. Em 2014, a mulher que inspirou o filme, Philomena Lee, nascida na Irlanda, reuniu-se com o Papa Francisco, no Vaticano. Ela está à frente do ‘Philomena Project’, que tenta ajudar outras mães a encontrar seus filhos e luta para que o governo irlandês promulgue lei que permita consultas a registros de adotados.