O Dia

Corrupção até na hora da morte

Político e diretor de IML são suspeitos de lucrar R$ 3 milhões com cobrança de propinas e para liberar corpos

- BRUNA FANTTI bruna.fantti@odia.com.br Com o estagiário Rafael Nascimento

Overeador e médico legista Gilberto Lima (PMN) e o diretor do Instituto de Criminalís­tica Carlos Éboli (ICCE), Sérgio Miana, foram presos ontem acusados de comandarem um esquema ilícito de liberação de corpos do IML de Campo Grande, que rendia R$ 150 mil por mês. Além disso, a investigaç­ão apontou que os dois cobravam propinas de diretores de outras 19 unidades periciais pela manutenção deles nos cargos. Com essa cobrança, Gilberto e Sérgio podem ter lucrado quase R$ 3 milhões no período de 2014 a 2016.

As informaçõe­s constam em denúncia do Ministério Público Estadual, aceita pela Justiça, que desencadeo­u ontem a operação da Polícia Civil para prender integrante­s da máfia ‘Papa Defunto’. Além da prisão do vereador e do diretor, também foi preso Franklin da Paz, que exercia a chefia administra­tiva do posto de Campo Grande.

Segundo a investigaç­ão, realizada em conjunto pela Corregedor­ia da Polícia Civil e promotores, havia exigência de pagamentos ilícitos para liberação de corpos de morte natural após exames de necropsia. Além disso, as funerárias usavam a própria estrutura do IML para maquiar e preparar os cadáveres para os enterros, o que não é permitido.

Os denunciado­s mantinham gestões junto às funerárias Santa Madalena, Fonseca, Flor de Campo Grande, Itaguaí e Rio Pax. Os corpos de mortes naturais eram repassados pelos hospitais Pedro II, Rocha Faria, Albert Schweitzer e Eduardo Rabelo. Por lei, somente mortes violentas ou suspeita devem passar pelo procedimen­to de necropsia. Nos dois anos investigad­os, 71% dos exames de necropsias realizados na unidade se referem a eventos de morte sem violência.

O esquema funcionava com a abordagem de agentes funerários a parentes de mortos dentro do próprio IML, com a promessa de acelerar a liberação do corpo. “Familiares de pessoas mortas por causas naturais, premidos pela dor da perda, no afã de guardar dignamente o ente que se foi, com a brevidade que tal despedida exige, efetuavam pagamentos em favor das funerárias”, apontou a denúncia.

Além da ilegalidad­e na utilização do prédio do IML para a preparação do corpo, os valores repassados pelas funerárias eram superfatur­ados e, posteriorm­ente, recebidos por Sérgio Miana, Franklin da Paz e o vereador Dr. Gilberto.

Mesmo durante a investigaç­ão, o diretor do ICCE foi mantido no cargo estrategic­amente. “Ele é preso na cadeira de diretor como uma forma de ensinament­o para todos aqueles que se comportare­m assim”, justificou o diretor da Corregedor­ia da Polícia Civil, Glaudiston Galeano.

 ?? ESTEFAN RADOVICZ SEVERINO SILVA ?? Agentes cumpriram dez mandados de busca e apreensão, inclusive na Câmara do Rio, onde recolheram documentos e computador­es
ESTEFAN RADOVICZ SEVERINO SILVA Agentes cumpriram dez mandados de busca e apreensão, inclusive na Câmara do Rio, onde recolheram documentos e computador­es
 ??  ?? Corpos enrolados em plástico e tecido estavam em macas mos fundos do IML de Campo Grande
Corpos enrolados em plástico e tecido estavam em macas mos fundos do IML de Campo Grande

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil