O Dia

Tenebrosas transações

- Roberto Muylaert Editor e jornalista

ARepública de Weimar foi estabeleci­da na Alemanha em 1919, logo após o fim da Primeira Guerra Mundial. Era uma democracia parlamenta­rista de cunho liberal. A descrição do que acontecia na Alemanha na década de 1920 tem muito a ver com o que estamos vivendo no Brasil de hoje, com exceção da enorme inflação que grassava por lá, sendo clássica a história da dona de casa que chegava no mercado com um carrinho cheio de reischsmar­k para fazer suas compras, sendo que, no fim da tarde, o carrinho já tinha de ser maior.

Os Estados Unidos nessa época eram os grandes financiado­res da empobrecid­a Alemanha, e o estouro da Bolsa de Nova York, em 1929, transformo­u aquele país em campeão da desordem, criminalid­ade e inseguranç­a urbana, sendo uma temeridade sair à noite, com conflitos de rua — fora os índices crescentes de desemprego, que chegou a cinco milhões de trabalhado­res, para uma população de 62,5 milhões. Proporção bem próxima à do Brasil de hoje.

O restante da história, todo mundo sabe, os nazistas foram mais eficientes e cruéis do que os comunistas nos conflitos de rua, intimidand­o quem fosse contra o partido da suástica, e Hitler assumiu o poder em 1933, confirmado democratic­amente pelas urnas, para gerar o mais sangrento conflito mundial da história recente, onde morreram cerca de 60 milhões de pessoas.

Saltamos de Weimar para as páginas da ‘Veja’ desta semana, onde J.R. Guzzo pergunta em sua coluna: “Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país com 60 mil homicídios por ano? (...) temos todos os ingredient­es de uma democracia, com centenas de direitos legais, inclusive ao lazer, à moradia e ao amparo, se formos desamparad­os. Não falta nada, a não ser democracia”.

Isso não quer dizer que estamos às vésperas do que aconteceu na Alemanha a partir de 1933, quando assumiu um partido radical e sanguinári­o.

A questão é como vamos fazer as mudanças de que o Brasil necessita com urgência, quando os legislador­es só trabalham em causa própria, corrompido­s pelo Executivo, onde o Supremo funciona muita vez como uma instância enrolada, trêfega, nada isenta.

A palavra ‘democracia’ é hoje usada em nosso país como escudo para ocultar as tenebrosas transações a que se referia Chico Buarque de Hollanda.

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