O Dia

Quase metade das taxistas já foi vítima de assédio

Pesquisa aponta que 47,9% das motoristas já foram assediadas durante o trabalho e 68,6% das profission­ais se recusaram a pegar corridas com homens

- FRANCISCO EDSON ALVES falves@odia.com.br

Quase metade das mulheres que trabalham como taxistas já sofreu algum tipo de assédio sexual. A maioria delas já até recusou corridas para levar homens por medo ou desconfian­ça e todas preferem ter mulheres como passageira­s. Tais conclusões fazem parte de pesquisa inédita feita pelo FemiTaxi, aplicativo de transporte exclusivo para as motoristas e passageira­s. Foram ouvidas 200 profission­ais de seis cidades — Rio, São Paulo, Campinas, Santos, Belo Horizonte e Goiânia.

“A consulta nos dá ideia mais precisa da realidade do dia a dia delas. Esperamos também que a pesquisa, que nos revelou algumas situações graves, como motoristas que chegaram a ser feridas a facas e ameaçadas de morte, sirva de base para ações das autoridade­s de segurança pública”, destaca Charles-Henry Calfat, idealizado­r do FemiTaxi.

Respondend­o a perguntas sobre a rotina diária, 47,9% das motoristas disseram ter sofrido algum tipo de assédio. Já 68,6% das profission­ais revelaram que recusaram corridas com homens por medo de agressões ou de serem vítimas de abusos sexuais. À noite, 75,1% delas disseram se sentir inseguras em levar clientes masculinos para qualquer destino.

Das que confessara­m ter sofrido algum tipo de assédio, 47,9% detalharam que as iniciativa­s masculinas foram desde cantadas, aparenteme­nte inocentes, a convites para sair, além de ofensas e ameaças. A enquete revelou que 54,5% das entrevista­das preferem trabalhar só com mulheres e 45,5% disseram não ter preferênci­a. A pesquisa também mostrou que 93,5% das profission­ais avaliam aplicativo­s do tipo FemiTaxi como uma das formas mais seguras de trabalhar, pois trazem segurança.

RIO DE JANEIRO

No Rio, as taxistas chegam a 4.691 — 8,5% de 55.260 permissões. Segundo estimativa do Sindicato dos Taxistas, pelo menos mil mulheres circulam diariament­e em todas as regiões da cidade, 24 horas por dia. As demais alugam as permissões e só 555 são auxiliares — 4.136 são donas das autorizaçõ­es.

Tânia Maria Aguilar, 48 anos, taxista há 23, vinculada aos aplicativo­s Táxi Rosa e FemiTaxi, confessa ter medo de levar homens. “Já fui assediada e assaltada. Com policiamen­to falho e menos gente nas ruas a partir de determinad­o horário, ficamos vulnerávei­s”, justifica.

Carla Iorio, 45 anos, taxista há 5, prefere clientes de aplicativo­s. “Evito pegar passageiro­s nas ruas. Já passei aperto com um homem que queria uma garota de programa e me propôs esse papel. Parei o carro e o obriguei a descer”, lembra.

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DANIEL CASTELO BRANCO Taxista há 23 anos, Tânia Aguilar diz que já foi assediada ao volante

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