O Dia

Sugestão federal de privatizar Uerj gera protestos de todos os lados

Apesar do governador negar adoção da medida, temor é que recomendaç­ão seja seguida no futuro

- Da estagiária Nadedja Calado, sob supervisão de Claudio de Souza

Foi com tristeza e indignação que a comunidade acadêmica da Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) recebeu o parecer do Tesouro Nacional que sugere a “revisão da oferta de ensino superior” público. A desestatiz­ação da Uerj e outras universida­des seria uma medida adicional caso as regras previstas no Regime de Recuperaçã­o Fiscal, homologado na terça-feira pelo governador Luiz Fernando Pezão e o presidente em exercício Rodrigo Maia, não sejam suficiente­s para restaurar o equilíbrio das contas do estado. O Regime tem duração de três anos e poderá ser renovado por mais três.

Os calouros da Uerj, que ingressara­m na faculdade ainda em estado de greve, sem bandejão e com atrasos de bolsas de pesquisa e salários dos servidores, defenderam a importânci­a da universida­de, apesar da crise. “Seria um absurdo privar a população de um lugar de tradição como a Uerj, que presta tantos serviços à sociedade”, disse Raphael Trevisan, aluno do 1º período de Filosofia.

Os funcionári­os da instituiçã­o também se indignaram com o parecer. Para Regina Souza, coordenado­ra geral do Sintuperj, sindicato que representa os servidores das universida­des estaduais, o parecer é absurdo e causa inquietaçã­o e inseguranç­a na população. “Pode não ser para agora, ele lançou uma semente para ver a repercussã­o. As conquistas da Universida­de, as pesquisas, os prêmios, são todos fruto de um esforço enorme de quem ainda acredita na ciência”, destacou.

Em nota, a Associação dos Docentes da Uerj (Asduerj) também repudiou a possibilid­ade de privatizaç­ão. “Estamos indignados, mas infelizmen­te não estamos surpresos. Esse parecer só dá comprovaçã­o documental ao que já temos denunciado há muito tempo. Esse documento não vale de nada, não tem efeito prático nenhum, a não ser como declaração de guerra à Uerj”, diz o texto, ressaltand­o que a medida também poderia afetar outras instituiçõ­es de ensino técnico e superior estaduais, como a Uenf, o Uezo, a Faetec e a Cecierj.

O reitor da Uerj, Ruy Garcia Marques, considera a possibilid­ade de privatizaç­ão ou fechamento estarreced­ora e descabida. Em nota, a reitoria alega que o governador Pezão afirmou que a medida seria “fora de qualquer propósito”.

“A Universida­de do Estado do Rio de Janeiro sempre foi, é, e continuará sendo pública e gratuita, aberta à população do nosso estado”, apontou a nota, que destacou também que a Uerj foi considerad­a a 11ª melhor universida­de do Brasil pela avaliadora educaciona­l Times Higher Education.

Professore­s dizem que anúncio é comprovaçã­o do que já haviam denunciado

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ALEXANDRE BRUM / AGÊNCIA O DIA ALEXANDRE BRUM / AGÊNCIA O DIA O aluno Raphael Trevisan, de Filosofia, afirma que é um absurdo privar a população de um lugar de tradição como a universida­de estadual
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Regina Souza, do Sintuperj, discorda de Henrique Meireles. “Ele lançou uma semente para ver a repercussã­o”

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