Tolerância religiosa em xeque
ORio tem sido cenário de um tipo de violência que imaginávamos extinta ou pelo menos minimizada em nosso território e até no Brasil. Nos últimos meses, dezenas de templos religiosos já foram atacados, inclusive com ameaças à mão armada. Mas o fato de tais atentados terem sido perpetrados contra religiões de matriz africana pode levar as pessoasaumailusão.Muitospodemacreditar que, se as vítimas hoje são os adeptos do Candomblé ou da Umbanda, quem não pertence a essas denominações não têm nada a ver com o caso. Não é verdade.
Quando assistimos a agressões por conta da confissão religiosa das pessoas, é o livre arbítrio e a liberdade de todos nós que estão sendo atingidos. A convivência entre os diferentes credos é uma das bases da nossa civilização, e esse pilar precisa ser preservado. É um princípio construído depois de muito sangue derramado ao longo dos séculos. Não precisamos desse retrocesso, ainda mais no Brasil, que é reconhecido no mundo inteiro por sua tolerância.
Por outro lado, a recente onda de ata- ques a terreiros, que tem sido mais frequente na Baixada, não pode ser motivo para a prática do preconceito inverso. Quem acredita que os atentados justificam uma reação contra a comunidade evangélica está equivocado. A imensa maioria dos adeptos dessas igrejas não se coaduna com essa violência e, ao contrário, também sente na pele a discriminação religiosa. O único caminho correto é o da harmonia.
O preconceito e as agressões, em suma, podem atingir a todos. Ao longo do tempo, essas tensões vão se agravando e desencadeando até guerras. O cúmulo desse processo, como todos sabem, foi o Holocausto na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Seis milhões de pessoas foram exterminadas pelo simples fato de serem judeus. Os erros dos antepassados servem sobretudo como ensinamento e para o nosso aprimoramento. Não para serem repetidos.
A própria Constituição Federal, em seu artigo 5º, determina que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”. Por isso, as autoridades precisam dar uma resposta dura, punindo esses criminosos e preservando o Estado laico e a essência democrática de nossa sociedade.