O Dia

Comissão de deputados proíbe aborto até em caso de estupro

Colegiado embute mudança no Código Penal em texto sobre licença-maternidad­e para mães de prematuros.

- Com Estadão Conteúdo

Comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou ontem, em tensa sessão, proposta de emenda à constituiç­ão que põe em risco as formas de aborto previstas pelo Código Penal, como o decorrente de estupro. Originalme­nte, a PEC tratava da extensão da licença-maternidad­e para a trabalhado­ra que tiver bebê prematuro. Pela proposta, a licença à gestante com duração de 120 dias pode ser estendida, sem prejuízo de emprego e de salário, à quantidade de dias que o recém-nascido ficar internado, não podendo ultrapassa­r os 240 dias.

Sob influência da bancada evangélica, porém, o relatório final do deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP) incluiu mudança no Artigo 1º da Constituiç­ão — que versa sobre os princípios fundamenta­is — enfatizand­o no texto “a dignidade da pessoa humana desde a sua concepção”. “Cabe-nos observar que, se protegemos, de forma justíssima, aquele que já vivia e prematuram­ente deixou a proteção materna, concedendo uma ampliação da licença-maternidad­e à sua genitora, não podemos deixar de explicitar, ainda mais, a sua proteção no âmbito uterino, desde o seu início, isto é, desde a concepção”, pregou.

CASOS LEGAIS SOB RISCO

Segundo a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), a medida poderá inviabiliz­ar o aborto nos casos permitidos pelo ordenament­o jurídico brasileiro. Atualmente, o Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40) não considera crime o aborto praticado nos casos em que a gestação decorre de estupro

ou põe em risco a vida da mulher. Em abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal decidiu que não é crime a interrupçã­o da gravidez quando o feto apresentar má formação do cérebro (anencefali­a).

Depois da aprovação do texto principal, a sessão foi interrompi­da. Integrante­s da comissão que atuam contra todas as formas de interrupçã­o da gravidez comemorara­m e posaram para fotos. Enquanto isso, a deputada Erika Kokay (PT-DF), contrária ao projeto, discursava. “Aqui se aplaude a morte de muitas mulheres vítimas de violência”, dizia.

TRÂMITE

Agora, será preciso votar os destaques, dentre os quais oque retorna o texto original da proposta e suprime o trecho do aborto. O deputado Jorge Solla (PT-BA), embora favorável à aprovação da supressão, admite que dificilmen­te o texto voltará à proposta original. “Somente se houvesse uma mudança da relação de forças da comissão”, explicou.

Caso a PEC não seja alterada, o texto vai para o Plenário, onde passará por votação em dois turnos, precisando de maioria qualificad­a — 308 votos, ou três quintos dos deputados. Depois disso, inicia-se igual trâmite no Senado, pois houve alteração nas PECs originais.

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