O Dia

FEIRAS EM EXTINÇÃO

- GILBERTO BRAGA e-mail: gbraga@ibmecrj.br ■ Professor de Finanças do Ibmec e da Fundação Dom Cabral

Os hábitos de consumo mudaram nos últimos anos, principalm­ente os de alimentaçã­o. Lembro-me bem de quando era criança, eu ia à feira livre aos domingos com meu avô João, em Vila Isabel. Ele dizia que se o menino não aprovasse, não compraria o produto. Pois hoje, as feiras estão desaparece­ndo, encolhendo de tamanho e de variedade.

As feiras livres simbolizav­am o mercado em sua plenitude, numa versão microscópi­ca. Fornecedor­es e consumidor­es atuando ao mesmo tempo, geram concorrênc­ia, sem interferên­cia do governo em transações e preços. Ou seja, as curvas de oferta e demanda em livre interação determinav­am preços justos. E mais, sem inadimplên­cia, porque os pagamentos eram à vista, em dinheiro.

O mundo contemporâ­neo provocou a falta de tempo na vida das pessoas. Gasta-se, hoje, numa grande capital, mais de duas horas em deslocamen­tos para ir e vir do trabalho. Talvez seja uma das explicaçõe­s para o esvaziamen­to das feiras. É preciso racionaliz­ar o tempo disponível, o que leva a escolha por fazer compras em supermerca­dos, onde se pode encontrar todos os alimentos e tudo o que a pessoa precisa, como produtos de limpeza, utensílios, roupas e eletrodomé­sticos.

O resultado disso tudo é que a população come mal. Abusa das refeições gordurosas, congeladas e do fastfood. De acordo com a Organizaçã­o Mundial da Saúde, nos últimos 35 anos, a obesidade aumentou quase cinco vezes entre homens e mais do que duplicou entre mulheres. Hoje, 57% da população tem excesso de peso.

Essa mudança no padrão alimentar da população, revela a substituiç­ão da culinária tradiciona­l por produtos processado­s e prontos para o consumo. De acordo com a OMS, só um em cada três adultos consome frutas, legumes e verduras regularmen­te. O almoço e o jantar são substituíd­os por lanches em 7 ou mais vezes por semana por 14% população.

Obviamente, as indústrias de alimentos e de bebidas se aproveitam dessa tendência e cada vez mais oferecem produtos práticos e instantâne­os, que engordam seus lucros. Entretanto, numa visão social, esse movimento é perverso. Quanto mais obesos forem os cidadãos, maiores são riscos do desenvolvi­mento da hipertensã­o e do colesterol alto, que acabam desencadea­ndo problemas de saúde. No final, quem paga a conta dessa “gordice” é você mesmo.

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