O Dia

Histórias do novo tempo no teatro

Com Clarice Niskier, ‘A Lista’ estreia domingo no Parque das Ruínas e fala da pressão por produtivid­ade

- BRUNNA CONDINI brunna.condini@odia.com.br

Há onze anos consecutiv­os apresentan­do ‘A Alma Imoral’(em cartaz simultanea­mente em São Paulo), Clarice Niskier leva à cena sua segunda peça em parceria com o diretor Amir Haddad. Estreia no domingo, às 19h30, no Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas, em Santa Teresa, o novo espetáculo da atriz, ‘A Lista’.

A peça fala da necessidad­e de atingir o máximo de pro- dutividade possível, ‘otimizando’ o tempo para o maior número de tarefas. Uma exigência cada vez maior, especialme­nte nos grandes centros urbanos. E aborda também a solidão que muitas vezes acompanha todo este movimento.

“É um convite à reflexão sobre nossa percepção em relação àqueles que nos cercam. Nos idealizamo­s como seres impecáveis, perfeitos, superiores. Vamos nos isolando, nos fechando afetivamen­te para o outro”, afirma Clarice. A atriz dá vida a uma personagem (cujo nome nunca é citado na peça) que mora no campo, casada, mãe de três filhos. Ela sente falta da rotina urbana que deixou para trás e se sente ainda mais inadequada quando se compara à sua ‘perfeita’ vizinha, que parece levar uma vida feliz. Já Clarice, na peça, atormenta-se para estar em dia com todas as tarefas. E encaixa o mundo dentro de listas intermináv­eis.

Diferentem­ente da personagem, Clarice diz que lida melhor com essa “pressão”. “Como tenho muito entusiasmo de fazer o que faço, respondo bem à exigência de produtivid­ade. Minha arte me alimenta muito”, diz. Mas propõe uma reflexão: “Tento manter um senso crítico em relação a isso. Essa exigência me seduz de certa maneira. Porque por outro lado também fico seduzida de colocar um freio e de trabalhar para que eu possa também me dedicar ao meu mundo emocional, íntimo, afetivo, de uma forma equilibrad­a. É esse o tema da ‘Lista’”.

Sozinha em cena mais uma vez, a carioca confessa gostar da troca íntima com o público. “O monólogo impõe uma conversa com a plateia de uma forma profunda. E exige de mim uma presença que não tem escapatóri­a, tem de ser cem por cento. Mais que cem por cento”, conta Clarice, rindo. “E claro que busco sempre dar esse máximo”.

As listas geram a solidão ou a solidão geral geram as listas? “Acho que uma alimenta a outra. À medida que você faz uma lista e consegue cumprir, você tem a sensação de controle sobre a vida. O prazer momentâneo do controle te faz produzir mais listas. E isso pode aumentar sua solidão, principalm­ente quando o outro não está incluído nelas”.

“A peça é um convite à reflexão. Nos idealizamo­s como seres impecáveis, perfeitos, superiores” Clarice Niskier

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Clarice Niskier diz que responde bem à exigência por produtivid­ade: “Minha arte me alimenta muito”
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