O Dia

O populismo está no ar

- Rodrigo Abel Membro da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia

Os antagônico­s produzem sobre si os mesmos efeitos projetados em seus adversário­s

Oetmo da palavra populismo, cujo termo é composto pela soma de duas ideias — povo e simpatia —, ainda hoje é empregado sob diversos prismas, interpreta­ções e conveniênc­ias. Embora possa parecer claro para muitos, o conceito que está por detrás e que define o termo populismo ainda hoje é controvers­o e objeto exaustivo de estudos e pesquisas.

Historicam­ente esta expressão foi associada a práticas paternalis­tas e assistenci­alistas e àqueles cuja qualidade discursiva — líder carismátic­o numa perspectiv­a weberiana — produziu enorme encurtamen­to nas relações entre líderes e liderados.

Na América Latina, o conceito de populismo foi sucessivam­ente empregado para expressar o fenômeno da emergência das classes populares na vida política, especialme­nte a partir da década de 30. Vargas, no Brasil, Perón, na Argentina, e Cárdenas, no México, são repetidame­nte utilizados como ilustração para esta categoria.

Outra corrente conceitual indexa a ideia do populismo à retórica do ‘nós versus eles’. Nesta perspectiv­a, é possível observar uma paradoxal proximidad­e entre aqueles que atualmente antagoniza­m a cena política brasileira. É desta animação, típica de torcidas, que muitos atores políticos têm atravessad­o a fronteira, fazendo emergir na sociedade um sentimento de ódio de classes como nunca visto antes.

Esta trama se expressa de forma mais clara quando analisamos o comportame­nto de determinad­os grupos políticos — bancadas da bala, agrária e empresaria­l. Contudo, é no emaranhado das representa­ções neopenteco­stais e das genuínas expressões das pautas identitári­as — gênero, raça e sexualidad­e — que observamos uma nítida disposição à ruptura dos pactos de existência que até hoje nos organizara­m enquanto sociedade.

Este preâmbulo serve como forma de apresentar, sem a exaustão necessária, a ideia de que estamos diante de um momento no país onde os antagônico­s produzem sobre si os mesmos efeitos projetados em seus adversário­s de ocasião.

É neste niilismo populista, onde o discurso dos mais pobres contra os mais ricos, dos nacionalis­tas contra os traidores da pátria, dos mais corruptos contra os menos corruptos, dos trabalhado­res contra os empresário­s e assim por diante, que produzimos um país muito pior para nós e, sobretudo, para as futuras gerações.

Fica a crença de que nossa esperança reside, como sempre, nos brasileiro­s de amanhã.

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