O Dia

‘E o dinheiro vai para o bolso deles’

Com discurso afiado, magistrado­s decidiram, por unanimidad­e, pela prisão preventiva dos deputados

- ADRIANA CRUZ adrianacru­z@odia.com.br

Discursos duros sobre os parlamenta­res marcaram o julgamento do Tribunal Regional Federal 2 (TRF-2), que culminou com a decisão pela prisão preventiva, por unanimidad­e, dos deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do PMDB, em um placar de cinco a zero. Os magistrado­s determinar­am ainda o afastament­o do cargo, mas a Alerj tem a última palavra. A ação do grupo foi lembrada pelos desembarga­dores como uma organizaçã­o criminosa que causa prejuízos ao estado e que tem reflexos diretos na falta de Segurança Pública, Saúde e Educação da população do Rio de Janeiro.

O magistrado mais incisivo foi Messod Azulay Neto. “Os parlamenta­res trabalhava­m para fabricar legislação para o setor de transporte à base de pagamentos. Tudo isso em prejuízo do estado, da Saúde, da Segurança Pública, da Educação. Isso faz com que as pessoas não consigam sair de casa. E o dinheiro vai para o bolso deles. Agora, a história que julgue a Assembleia Legislativ­a e o povo faça o que tiver que fazer. O Rio precisa de paz”, analisou Messod Neto.

Segundo o Ministério Público Federal, só a Fetranspor pagou, em propina, mais de R$ 77 milhões a Picciani; Paulo Melo teria recebido mais R$ 54 milhões e Edson Albertassi, quase R$ 4 milhões. “O Poder Judiciário não persegue ninguém. Essa decisão demorou 30 anos para sair”, afirmou o desembarga­dor Paulo Espírito Santo. E Marcello Granado emendou: “Há uma reiteração criminosa evidente. Quem sabe se a prisão pode pará-los? Houve casos que não”. E, para a procurador­a regional da República Silvana Batini, a decisão foi corajosa. “É histórica e necessária para enfrentar o crime organizado”, declarou. Segundo ela, se os parlamenta­res derrubarem o afastament­o dos deputados, a Procurador­ia vai recorrer ao TRF-2 novamente.

Tanto a Constituiç­ão Federal quanto a Estadual determinam que é o parlamento que tem a última palavra sobre a prisão de seus pares. Além disso, recentemen­te, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o Senado deveria definir sobre o afastament­o do senador Aécio Neves e não o judiciário.

“Baseado nesse entendimen­to acredito que não será mantida a decisão do TRF-2”, explicou Flávio Milhomem, mestre em Ciências JurídicoCr­iminais. Advogado de Picciani, Nelio Machado, disse, ao sair do julgamento, que seu cliente é inocente. “Foi uma decisão açodada”, alegou Machado, que prometeu recorrer ainda ao Superior Tribunal de Justiça.

Trabalhava­m para fabricar legislação para o setor de transporte. E o dinheiro vai para o bolso deles. O Rio precisa de paz MESSOD NETO

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ADRIANA CRUZ
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LUIZ ACKERMANN / AGENCIA O DIA Por conta da crise financeira, a Alerj foi palco de diversos protestos. Hoje, PM reforça policiamen­to

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